quarta-feira, 25 de março de 2009

Não concebo...

Hospitais Públicos, atulhados de casos de cancro, que iniciam tratamento no privado, e por factores de diversas ordens ( normalmente plafonds de seguros que terminam) têm de recorrer aos Hospitais Públicos... Choca-me, mas ainda assim não é o que me choca mais... Ao ler a notícia, reporto-me quase inconscientemente a uma caso de um doente, que acompanhei de perto, na casa dos 40, padecendo de esclerose lateral amniotrófica, que levou meses a ter entrada numa unidade de cuidados continuados, onde residiam também doentes oncológicos em fase terminal...
Assisti, no meu local de trabalho a uma luta inglória, pela vida, contra o sofrimento, com a assistência possível dada pelas nossas incansáveis enfermeiras, que não podiam fazer mais no contexto em questão... Uma das história que passou por mim que me marcou para a vida, pela luta, pelo sentimento de compaixão, que me incomoda, pelos olhares dos pais, a verem a pouco e pouco morrer um filho, sem a dignidade que merecia... Porquê, pergunto eu? Será que não devemos também pensar na morte, como uma parte da vida? Porque será que cada vez mais se morre mal, e não se reúnem as condições para uma morte digna? Em outras leituras recentes abordando o tema, surgem questões pertinentes, de quem encara a morte como uma fase da vida do ser humano, e conclui-se com pesar que se morre mal em Portugal, e mais, por incrível que pareça, morre-se sozinho... Antigamente morria-se em casa, no calor do leito, junto à família... Hoje, a assistência é outra, existem respostas do sistema de saúde, mas perde-se a intimidade dos momentos, e morre-se fora do que é nosso, numa cama de hospital, longe da família, dos ente queridos, de quem se partilhou uma vida... Pergunto porquê, e não encontro resposta... A não ser que os serviços que existem, as unidades de cuidados continuados, não chegam para fazer face ás necessidades da população; porque não são uma prioridade. Será que é por ser um fim? Quase parece que por ser um fim, também os direitos e a dignidade se desvanecem, e se tornam ténues e fracos... Mas é um fim de Gente, de Pessoas, de Histórias, de Memórias, de Vidas... E são processos de luto de quem perde quem lhe é querido quase sem poder fazer nada para ajudar... Muitas vezes um simples segurar na mão, que é vedado pelos horários de visitas de um Hospital... Não concebo, não perdoo...

1 comentário:

  1. como entendo,sinto ainda bem presente cada uma das situaçoes a que te referiste.
    ainda me doi a alma...

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