domingo, 12 de maio de 2013

enfermeiro


O corpo físico não é um lugar bonito. Nem pensamos sobre isso quando nos embrulhamos em farpelas coloridas adornadas a pormenores cuidados com requinte e bom gosto, um sapato, um lenço ao pescoço ou na lapela do fato, o cabelo, um exterior nosso por direito que nos permite a existência enquanto ser social, eu aqui, vocês daí, a pele cobre o que ninguém precisa ver. Raramente nos lembramos do que nos escorre cá dentro. Nunca perdemos tempo a pensar no sangue que nos percorre as veias, na bílis que escapa do fígado, das mucosidades que nascem nos brônquios e nos excrementos que libertamos do corpo para que este funcione sem mazelas de maior cuidado, somos quase perfeitos, não haja dúvidas quanto a isso. Em funcionamento e em alheamento. Quando muito, consciencializamos as nossas próprias e as de quem nos está perto, com mais ou menos repugnâncias imiscuídas na panorâmica, por vezes demasiada para quem sente, depende de várias factores. Eu, por exemplo, já vi muito boa gente fugir com os olhos e com o resto ao doente que vomita sangue, ao que tomba numa morte que se vê chegar a olho nu, ao que deita da fralda um cheiro nauseabundo, como se a podridão em vida fosse possível. E é, eventualmente limites da perfeição. É essa a realidade, mas nem todos podem com ela. Não por falta de mérito, mas só porque não somos todos iguais. Eles podem. Eles desapossam-se da segurança e integridade do self para deitarem a mão à desgraça, para cuidar feridas, para limpar corpos, para acariciar peles empestadas de degenerações, bactérias e outras moléstias que nos podem desfazer aos bocados num par de horas. E para dar caminho aos corpos que não aguentam e morrem no caminho. É por isso que o dia deles me faz tanto sentido. Porque não existem muitas profissões onde a capacidade de entrega vá além do razoável. É por isso também que me repugna o desvalor que lhes dão, como se fosse pouco a integridade que repartem por toda a gente que dela precisa. Os menos bons não serão para aqui chamados, haverão, como em qualquer profissão. Mas os bons, esses de que falo, merecem muito mais do que um dia. Merecem um reconhecimento efectivo em diversos domínios, porque são grandes enquanto pessoas e pequenos enquanto classe. O mundo gira ao contrário, mas oxalá haja sempre um para nos socorrer na aflição.

( e um sorriso, muito especial, à enfermeira do meu coração.)

4 comentários:

  1. É de facto uma nobre profissão e tão pouco reconhecida! Um bem-haja a todos os enfermeiros...

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    1. É mesmo Paula. Acho que muita gente não sabe a falta que nos podem fazer. Eventualmente, em muitos casos, tomamos consciência quando precisamos deles...

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  2. muitos parabéns a todos os enfermeiros e obrigado por estas palavras de reconhecimentos

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    1. Parabéns a todos, sim. É uma classe que admiro muitíssimo... :)

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