sexta-feira, 10 de maio de 2013

Os romeiros amontoam-se nas madrugadas desassossegadas do País, é cedo e o treze está à porta, no mês cinco do calendário, é preciso chegar antetempo. Chegarão? Até hoje, nunca consegui perceber de forma concreta a minha fé, impunha-se, ainda que trate invisibilidades. Nem mesmo quando a minha avó me trauteava a história dos pastorinhos, que tinham visto com os olhos o que mais ninguém viu. Acende-se quando calha, vinda de incertezas que esperam respostas viáveis pouco explicadas em lugares terrenos, como por exemplo os peregrinos que percorrem distâncias impossíveis em cima de dois pés calejados e coxos, para rezarem terços, novenas, encomendarem trintários ou só orarem a Nossa Senhora, o que não é nada pouco, convenhamos. Haverá o que os mova, e não será somente vontade. Já os vi a chegar em romaria cansada e inquieta, enquanto chovia água fresca nas trovoadas de Maio, e para que à noite se acendessem velas que alumiam caminhos, santos e almas, e mais tudo o que se quiser alumiar. Não há chuva que mate a luz. Olho-os normalmente com uma distância que me permite ver a fé que paira, que talvez não visse tão claramente, se estivesse crente apenas nos santos. Assim, e na minha vasta fé, creio numa superioridade que me justifica o mundo. Jamais lhe chamaria alienação, a fé enquanto entidade nunca nos tirará o que quer que seja, isso são más línguas. Pelo contrário, dá-nos o que nos faz falta, no preciso momento em que precisamos de explicar, de acreditar, de compreender, de justificar. 

2 comentários:

  1. É isso mesmo, também acho: a fé só acrescenta, não tira nada!

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    1. :) há muitas gente que não pensa assim, Paula...

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