quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Dias estranhos

Às vezes, até percebo quem deles foge a bom fugir. Hoje pela manhã, encontro a Dona Etelvina a coçar desmesuradamente a sua pele branca, já vermelha de tanta esfrega, porque as melgas a comeram de noite. Enquanto levanta a saia, o saiote, e puxa as meias para cima, nem dá conta de que a dentadura lhe cai pelos beiços, já alvacentos e relaxados, incapazes de segurar tamanha envergadura. Quando levanta os olhos para me olhar, tem a dita, pertença à parte de cima da sua cavidade bucal, meia de fora e meia de dentro, enquanto nos entremeios se detectam restos de papo seco do pequeno almoço, já semi mastigados. Quis por força que lhe espreitasse as pernas e as malditas borbulhas que lhe atentavam a alma, mesmo enquanto abanava os dentes, bem em cima da minha cabeça, acabada de lavar, e do meu pescoço perfumado com Eternity. De nada me valeu explicar, que não sou Enfermeira, e que em nada lhe valho, no que toca à assanhada fogagem, que teria de ser o Senhor Doutor, a vê-la mais logo, a fim de lhe passar um receituário eficaz, que lhe traga a merecida sossega. Infeliz sorte a minha, que nestas coisas dos males, com ou sem perceber, tenho por obrigação imposta um primeiro contacto, seja o mal onde for, ataque ele pés, pernas, ou regiões mais recônditas e de devido recato.
Há dias que começam de forma estranha.
A eminência de levar com uma dentadura, parece-me ter cabimento neles.

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