A casa é grande e caiada de branco. Ao longe, ainda vacilo, mas ao perto, encontro camadas inteirinhas que caem ao chão, juntas em montinhos alvos que se aumentam a cada dia. Ainda me lembro, das ofertas que se faziam em tempos de tal bem, a fim de manter os muros das terras imaculados de meter cobiça, mas julgo ser acto já esquecido, pelo que a cada ano, menos encontro as mulheres agachadas, de lenços salpicados, a caiar ao sol. Poderão também ser as evoluções dos tempos, mas ainda assim, em aldeias perdidas, as velhas de outrora ainda lá moram, duradouras que são, os muros ainda são de cal, e alguns deles, ainda serão brancos.
Aquele não é. Pertence com um orgulho decadente às instalações da Junta de Freguesia, encabeçada por um homem coxo e cabelo grisalho, que deixa antever uma considerável falha de dentes na boca. Sorri-me quando chego, estende-me uma mão, enquanto me interroga sobre a família. Retribuo os cumprimentos, e subo em cuidado os degraus de pedra polida pelos passos, não vá um salto resvalar e deixar-me estendida no fundo da escadaria, nem me parecendo este, local digno para tal descuido. Ao lado da porta, e sob o calor que se fazia sentir, chega-me um cheiro a urina forte, que suspeito vir de um canil de animais sujos e gordos que ladram enquanto correm, parecendo que de mim algo esperam, pobres deles, que nada lhes dou.
Entro no edifício, e lá dentro, encontro a Senhora administrativa que paga pensões, elabora ofícios, lavra actas e sela cartas, que ali, também se trata o correio. Enverga uma camisa às flores de gosto duvidoso, por baixo de um casaco de malha largo e roçado, enquanto um gancho com um brilhante lhe segura o cabelo mesclado e pouco lavado. Sorri-me de olhos grandes e verdes, merecedores de um outro corpo, não tenho disso qualquer dúvida, e trata-me de tudo com uma prontidão irrepreensível. Na saída, deseja-me bom fim de semana. Quando desço, os cães ladram outra vez.
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