Sentada na varanda beberica um café forte, nem deveria, que o malvado desperta-lhe no sangue fortes solavancos, enquanto a conduz noite dentro para as entranhas do seu ser, parecendo até que são íntimos, e que se fundem na imensidão de cada um deles, que ambos o são. Um, em carácter maior, que nos corre no corpo e nos sustenta, o outro, menor, mas que ainda assim nos desperta num abraço sentido e forte. Ela gosta de abraços sentidos. Chega a haver vezes, muitas vezes, em que os sente numa dimensão tal, que quase os julga só seus, numa vaidade tamanha e imerecida, como se o resto do mundo, nem digno fosse a tamanhas grandezas, e apenas seu corpo elas desposassem. Porque se daria a escolha? Qual critério lhe deixaria a cargo tanta responsabilidade, de reunir em seu magro ser tal honra? Fosse ao menos ela digna e pura, ou então detentora de algum mérito ou casta divina, e ainda compreenderia, mas assim, humilde pessoa, porque haveria de ser prendada dessa forma? Nem percebe, e esquece o assunto. Acende um cigarro. Entre a aurora da água preta e amarga, e o sossego do fumo adocicado, inunda-se de sorrisos largos e delicia-se na fresquidão da noite que a ela escolheu. Poderia ter escolhido outra, mas não, foi a ela, tem isso por certo. Talvez seja por lhe conhecer a entrega, que ao invés de lhe fugir como as demais gentes, ao invés de se rebolar no desespero, em busca do sono que não chega, entrega-se-lhe toda, e partilha com ela tudo o que tem.
Em troca, numa generosidade inigualável, recebe o desvelo do embalo à luz da lua.
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