segunda-feira, 4 de abril de 2011

Pastilhas e rebuçados...

Em tempos idos, ouvia-se muito a fenomenal expressão, de que o que não matava, engordava, atribuída normalmente em situações específicas, como criancinhas que comiam terra, ou qualquer outra similar. Confesso que, primeiramente, nem bem encaixava tal dito, sendo que devo ter passado tempos consideráveis, a tentar decifrar o que quereria aquilo dizer. Centrava-me na engorda e no crescimento, e nem bem percebia, como determinadas substâncias poderiam assumir essas funções, normalmente detidas pela sopa de espinafres, mas enfim, adiante. De facto, e ainda há pouco, enquanto instruía o pequeno para não apanhar o rebuçado do chão e voltar a come-lo, vieram-me à memória peripécias inéditas, que aposto nunca ninguém ter pensado, com excepção, claro está, desta estranha cabeça que em tempos, era consideravelmente mirrada. Como tal, e dado que a Gorila produzia umas pastilhas deliciosas, às quais chamavam de super, e que faziam enormes balões, era frequente a pedinchice, satisfeita por norma, apenas e só, ao fim de semana. Como nunca se podia antever com certeza, a dádiva de novo pacote, nada mais me ocorria em termos de poupança, do que colar a dita debaixo da carteira da escola, sendo que a voltava a mascar na hora do próximo intervalo, e assim em diante, enquanto ela não mudasse a cor, o aspecto ou o sabor. Julgo que muitas tenham transitado para o dia seguinte, mas disso, não estou bem certa, que de resto, nem me apraz pensar muito em tal época, pela capacidade de revelar facetas questionáveis do meu ser, situação essa, nada abonatória. Numa atitude de mínima inteligência, poder-me-ia ter ocorrido efectuar a colagem no papel que a resguardava, ou em qualquer outro local apenas de meu acesso, e com o devido asseio, mas não. A parte de baixo da carteira arcaica, já vinda do tempo do meu pai, cravejada de pó e de outras substâncias imundas, parecia-me um sítio prudente e deveras prático, pelo que nenhum outro me ocorria, ou chegava sequer, a merecer a minha atenção. Nunca Dona Maria José descobriu tal local, e se o fez, deve ter julgado o sítio um depósito, por preguiça de ir ao lixo, e nunca uma dispensa, onde se armazenam os restos que se comem daqui a um bocado.


Lavei-lhe o rebuçado e dei-lho outra vez. Ele ficou contente e eu também. Se eu não estivesse, não duvido que tinha marchado directo.


E só num remate, caros leitores, isto passou-me. Hoje, e numa poupança acérrima, própria dos tempos de crise, masco pastilhas Pingo Doce ou Continente, sendo que Trident, só mesmo em dias de festa. Gorilas, não vejo há muito. Todas vão directinhas ao lixo.

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