quarta-feira, 6 de abril de 2011

Indignações

Concentra nela um conjunto significativo de doenças psíquicas. Vive lá dentro, numa intrusão forçada pelo medo da saída, ou então, nem será bem um medo, será uma ausência de capacidade, que vai-se a ver, e no crescimento, nunca saiu. Parecem minhas palavras soar a estranho, pensarão por certo, que se há coisa que se admite como certa, é a nossa aptidão à comunicação, o nosso intercâmbio com o mundo que nos rodeia, e que nos pertence a nós, tal e qual nós lhe pertencemos a ele, numa fluência coerente e natural de tão intrínseca. Porém, nem existe esta linearidade, que aquando do crescimento, aquando do nosso aparecimento por cá, necessitamos de quem nos impulsione, ou seja, de quem nos apresente a envolta, e nela nos insira, sob uma pena atroz e eterna, de nos ficarmos num corpo apenas nosso. E neste campo a posse, em nada nos apraz, que somos seres que em plenitude, somos pertença externa, que ao se não, ficaremos assim, tal como Aurora, dela e de mais ninguém.

Esta pequena introdução subjugada a algumas teorias desenvolvimentistas, tratou apenas de situar quem as desconheça, no incrível mundo do crescimento Humano, a fim de compreenderem Aurora, um digno ser, tal e qual qualquer um outro, que se encontre poisado nesta bola redonda a que chamam terra. Na altura devida, o mundo nem lhe ecoou a jeito, deixaram-na lá, dentro dela, sem que se conseguisse enquadrar cá fora, pelo que se recolheu, para as suas sensações, que constrói à luz do que a satisfaz, ou seja, à luz dos sentimentos primários do corpo. Nem se situa dentro de uma patologia autística, que a esses, não foi sequer proporcionada qualquer tipo de experiência prazerosa vinda de fora, sendo que se encontram num estado borderline, onde a totalidade do que se vive, se encaixa em lugar nenhum. Na patologia esquizofrénica, já houve um contacto à realidade, ainda que mísero, que permitiu algum conhecimento do que nos envolve, o qual capacita a quem sofre a patologia, para a construção de uma realidade interna, crescida com a interferência da envolta que se conhece, embora inundada de fantasia. É frequente a construção de identidades fictícias, onde rainhas surgem em esplendor, e onde a mentira se assume como a mais pura das verdades, tudo, inserido num cérebro deficitariamente desenvolvido, mas numa harmonia interna que deveremos respeitar. Não nos adianta de nada, de resto, pôr em questão tais realidades absolutas, que o mais que conseguiremos, será sermos apelidados de loucos, nós, que nem temos acesso aquele mundo interno e perfeito, pertença apenas e só de quem o vive.

Compreendo-a. Entendo-lhe as limitações, e gostaria, num sentimento naife que ainda me cerca, de sentir a envolta cooperante com estas gentes, que por azares do desenvolvimento se situam aquém, e que de loucas, têm apenas um nome carregado de carga negativa, imposto por uma sociedade que ao invés de respeitar, continua a discriminar, aqui, como em tantos outros, quem por algum motivo, foi esquecido em tempos.

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