domingo, 17 de abril de 2011

Mudanças


Centrei-me nos eléctricos que se extinguem, que estou farta de politicas. Estou talvez mais farta dos protagonistas, o que no fundo, será mais ou menos a mesma coisa. Nem percebo bem o motivo da extinção. Ou até percebo, que segue a lógica da moda, dos cortes com o que de antigo nos cerca, como se apenas e só as tecnologias nos embalassem o corpo, e tudo o que vem de outrora se devesse banir, sob estranha pena de nos deixar na margem da modernidade. Muitas cidades ainda o usam como meio de transporte eficaz, mas nós, deixamo-lo morrer aos poucochinhos, numa ingratidão manifesta por quem tanta gente transportou, Graça acima, Belém abaixo. São dos poucos que ainda existem, esses dois, ao contrário de antigamente, onde seria possível percorrer a cidade de Lisboa, coisa que por ora se faz por terra, em túneis, onde a maravilha da tecnologia já permite até, vejam só, rede nos telemóveis. Mas são precisos, diz-se. Eles, ou algo semelhante. Eu, votaria neles, sem dúvida alguma. O da Graça era o da minha paixão. Transportava as velhas de sacos floridos e cabelo armado, às quais, invariavelmente, dava assento. Levava a tiracolo os catraios, que se seguravam nos ferros traseiros de paragem em paragem, prestes a esquivarem-se num ápice, perante algum aviso ameaçador. Abria as portas aos velhos, de bengala e jornal debaixo do braço, que chegavam a tirar-me a boina em cumprimento, eu já era dali. O tilintar dos fios, e o restolhar dos carris, compunham um cenário de uma Cidade antiga, com tanto de magia, como de encanto. Ir à Graça, de outra forma, nem me faz qualquer sentido. Que preservem esse, que se criem mais. Não será na valorização do que de bom cá temos, que nos afastaremos da modernidade, até porque, para além das vantagem, alia-se a tradição. Pena que muitas das vezes, a evolução se perca nestas nuances, que deixa nas gentes a sensação ignorante, de que para haver avanço, é preciso tudo mudar.

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