quinta-feira, 5 de julho de 2012

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No recinto inúmeras pessoas sentavam-se no chão como se o mesmo pudesse ser considerado um poiso divino. Por certo lhes doeria as pernas, os pés, o corpo e a alma de tanto caminharem num mundo que as prende a cada passo e as deixa cansadas. Precisam pois do sossego. A pedra é quente debaixo de uns quarenta graus secos e quase irrespiráveis. Não obstante, o sorriso brota dos rostos cansados. Um casal loiro e claro com uma criança pendurada no colo sobe as escadas enquanto fotografa o mundo que vê à volta. Existem sítios que parecem o mundo. Existem grandiosidades feitas por mãos humanas que nos fazem crer que a dimensão simboliza a riqueza, o poder, a razão. Metem-me respeito essas obras, fascinam-me ao mesmo tempo que me repugnam, um sentimento místico que sinto também em relação a outras coisas. Fascinam-me pela arte, repugnam-me pelo simbolismo, pela excessiva presunção, pela pequenez que incutem em tanto do que as rodeia, quiçá sem culpa ou intenção. Deveríamos ser todos do mesmo tamanho. Não somos, bem sei, mas deveríamos. Não falo em idealismos, ambições, falo em seres e em vidas. As vidas deveriam ter todas os mesmos direitos. Há sítios, quase todos, onde se vê claramente a diferença das vidas. Como se umas fossem as de dentro e outras fossem as de fora.  As vidas de fora são vidas normais. As vidas de dentro são vidas guardadas, protegidas, proclamadas. O que são capazes de dar por tal lugar não ponho em questão. Por certo darão o que terão de dar, assumindo aqui um destino que não gosto, mas o qual por vezes me apetece considerar. Descansa-me, sossega-me, deixa-me como que num sítio à espera que algo aconteça e que acontecerá, se tiver de acontecer. E se não tiver de acontecer não acontecerá. Depois farto-me de estar quieta, à espera. Ganho uns bichinhos no corpo que começam nas pernas e me percorrem por dentro, muito depressa. Incomodam-me e por isso costumo matá-los. Parei um pouco a observar. Subi um sítio muito alto e espreitei a envolta, realmente pequena. Eu estava ali no alto, muito no alto. Não é nada difícil sentir a grandeza quando se olha de cima. Os olhos transformam o mundo de uma forma diferente, quanto mais se houver louvor. Um pódio é sempre um pódio, uma montanha, uma montanha, um púlpito, um púlpito, um altar, um altar.


2 comentários:

  1. Nem todas as pessoas merecem o topo, o alto, o púlpito (os bichinhos corrompem...). Ademais, também ninguém merece ser visto de cima: o desnivelamento propicia abusos e outras indignidades...

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  2. Indignidades, sim, disseste tudo...

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