segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Dádivas


O Senhor Manuel, nome fictício, diz-me então que já não se zanga, que apenas se desilude. Nem sei bem como aqui se chega, nem consigo a real percepção, de se constituirá eventualmente um benefício. Por este Mundo, parece-me por vezes sensato, ou pelo menos causador de alívio, bramar meia dúzia de impropérios, dizer isto ou aquilo, a fim de se esclarecer o que tem de ser esclarecido, quando a zanga nos invade a alma. Diz-me ele, que nada assim é, e que as ditas mais não faziam, do que tirar-lhe o sossego a si, sendo que ao outro, pouco atingiam, que quando a consciência é pequena, é pequena e pronto, e não aumenta, com o praguejo alheio. E quem diz praguejo, diz indiferença, ou outra manifestação. Vai-se então, que serenou, e consegue proteger-se, ainda que com alguns percalços, que como bem sabeis, perfeições nem existem, e há sempre quem lhe falte, quando ele esperava amparo. Em tal acontecimento, resta-lhe alguma desilusão, que de resto, já nem é muita, força do hábito. Mas à zanga, à verdadeira, recusa-se, que a sua serenidade interior ganhou com o assunto, livrando-se em muito de picos de tensão, apertos no coração, e males assim, que decorriam do estado de alteração a que se sujeitou em tempos de moço, que anos de vida lhe tiraram, e pouco lhe trouxeram. Podia até nem ter diagnosticado a maleita, poderia ainda não lhe dar vencimento, que não raras vezes, nos caminhos desta vida, sabemos o mal, sabemos a cura, e nem por isso conseguimos remedeio, por isto ou por aquilo, que a causa nem importa muito. Diz-se feliz por ter conseguido, que assim como assim, a desilusão nem o mazela tanto como a zanga, até porque, mesmo quando se zangava, a desilusão também aparecia, a omnipresente. Livrou-se de uma, portanto.


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