domingo, 30 de janeiro de 2011

Entregas

Há dias, em que o cansaço a assola. Numa potência desenfreada, deixando-a numa inércia descabida, que o que mais lhe apraz nessas horas, curtas ou compridas, nem importa, é deixar-se sucumbir à sua mercê, aligeirar as forças e entregar-se sem limites. É talvez essa entrega que desde sempre lhe falta.
A entrega, é uma extraodinária capacidade humana, de nos deixarmos a nós para nos darmos a alguém, que nos segure, nos ampare as fraquezas, nos acuda em estados de aflição. Esse sossego conseguido, de quando a nossa mente descansa no calor da confiança, dá-nos uma força de alento que nos acompanha, permitindo que a carga dos dias alivie, de quando em vez, quando a fraqueza se insurge, quando a guarda descansa. Acontece a todos. Existe gente que nem bem tem em quem se encoste. Ou que tem, mas devagarinho, com algum cuidado supremo, não vá alguma coisa quebrar para sempre, e mazelar o encosto, que apesar de fraco, está lá, senão num amparo, talvez num consolo. É quanto basta.
Ela porém nada tem. Não há ninguém no mundo que dela se abeire para que lá possa descansar, é uma alma perdida, embora muitos a considerem de todo encontrada. Ironias. Não que o mundo nem lhe gire a envolta, não que as gentes não a circundem de perto, mas no entanto, o mais que lhe fazem, é em seu regaço sossegar, que quase parece, que nos lugares da terra, nem mais sítios existem assim, pela quantidade de almas perdidas que a ela socorrem, clara, ou discretamente, nem importa. O colo, esse, esta lá sempre, ora fraco, ora forte, depende, que ninguém nota mas a ela, pobre de Cristo, a qual julgam suprema, estes colos que dá saem-lhe de dentro da alma, exigindo-lhe uma força atroz e pungente, porque ao senão, incorre o risco de intranquilizar, quem com tanta ânsia a procurou. Não concebe tal coisa. Nem bem percebe porém, porque ninguém a encontra, porque ninguém a percebe frágil ao invés de forte, pequena ao invés de grande, pecadora ao invés de perfeita, carecida, ao invés de cuidadora. Houvesse alguém que lhe lesse nos olhos, a imensa carência, e poderia esse alguém estender-lhe um colo, uma mão que fosse, que lhe permitisse a ela o desleixo do sossego, uns minutos apenas.
Até hoje, nada. Quase se entrega à fraqueza.

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