domingo, 29 de julho de 2012

Tantas Lisboas

No ouvido escuta um som muito seu. Estou em casa, pensa para dentro. No palco a guitarra portuguesa desfaz-se em notas sofridas enquanto da boca do fadista letras iguais juntam-se em diferentes palavras num mesmo sentimento. Na sala enquanto se comem chouriços assados em lume e se bebem vinhos de cor púrpura em copos de pé alto, as vozes que não sabem do que falam acompanham o fado. É a melodia triste que alegra as gentes, que as deixa imersas num saber imaginado que exala da pele dos músicos, eles próprios ignorantes. Prossegue a noite. Lá mais para o final, pessoas idas, músicas cantadas, amores jurados e corpos cheios de tudo, saem para a rua. A calçada de Lisboa sustenta-lhe uns pés que caminham sem andar, que voam sob uma cidade de luzes, de becos escondidos, de encantos e de amarguras. Sobem o terraço. Cadeiras distribuem-se no fresco da noite que ainda assim permite a cor do relento. Do alto avista-se um rio iluminado pela clareza da lua que redonda e gigante faz crer a quem a vê que a beleza é verdade. Encostam-se um ao outro enquanto o tempo escorre pelos dois exactamente no mesmo compasso. Saem de ambos poucas palavras, apenas e só as precisas, ainda que nem essas parcas o fossem realmente. Ele adormece. Acorda uns minutos depois enquanto ela o afaga nos cabelos e lhe conta um segredo que ambos sabiam. Ele sorri, junta meia dúzia de letras e solta da boca uma palavra infinita.



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