sexta-feira, 14 de setembro de 2012

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É fácil, diria até que muito, falar de nós aos outros enquanto fornecemos contextos práticos e teóricos que nos encaixam que nem uma luva. Damos exemplos concretos que vestimos com o nosso próprio corpo sem que ninguém perceba, deixando o redor boquiaberto com o realismo da palavra. Nunca somos totalmente aptos para dar o que não conhecemos. O máximo que se pode conseguir, e em caso de ausência da própria realidade, é uma aproximação, ora fiel ora menos, daquilo que julgamos que seja, mas nunca a realidade por inteiro. Por isso é tão apaixonante ouvir falar quem sente o que diz. Quem sente o que diz já conceptualizou,  já mediou e já ideou, para depois expulsar cá para fora em forma de palavras e com uma exactidão desconcertante, quase perfeita, a verdade. Elas não sabem, mas a minha contextualização mental é exactamente a que lhes forneci, com todas as letras, todas as minuciosidades, todos os pormenores. As outras, as outras são terrenos longínquos nos quais arrisco, afoita mas ciente da distância que me separa da coisa em si. Porém a coisa em si, a essência, não trata mais do que a realidade vista por mim e por mim sentida, encaixada cá dentro por entre as frestas, as potencialidades, as minhas experiências e vivências dirigidas ao mundo exterior, relacional e existencial. Por isso por vezes me parecem mal as tentativas de explicação universal para coisas que só fazem sentido individualmente. Por isso também, e muito embora saiba do que falo quando me dou em consciência de causa, falo só do que conheço. Que trata sempre uma partícula de nada no meio do infinito, o que me pode até e em última instância, remeter para a inexistência da essência pura do que quer que seja.

(Somos muito capazes, mas somos sempre relativos. Em tudo e em nada, no que damos e no que recebemos. Ainda assim, mantenho, é bom ouvir (ou ler) quem sente. Quem sente  expõe-se com alma e não com construções secas e inacabadas, que soam a parlapiê insosso, facilmente esquecido.)

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