domingo, 9 de setembro de 2012

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Brota em alguns corpos por razões distintas, as coisas podem nascer-nos de mil e uma maneiras, depende das possibilidades que nos cruzam, das que encaramos a intento, das que nos apanham por sorte ou azar. Arruma-se inexorável, cruel, apodera-se dos sentires humanos que existam em resquício, diria quase que corrói o redor impiedosamente, lapidando-se a ele próprio e ganhando tamanho, sustentabilidade, lugar de existência dentro do corpo que resolveu deixar crescer o mal. Em tempos a minha avó falava em moléstia. Moléstia era para ela uma doença ruim que poderia germinar dentro dos vivos, quer eles fossem Homens ou plantas, frutos ou animais. Não deixava medrar ou prosperar o desgraçado que lhe calhasse em caminho, que num ápice definharia, ficaria tísico e macérrimo, capaz de ser levado por algum vento mais forte que lhe acossasse o corpo em alguma eira descampada. Lembrava-se lá pelo meio de António, o homem que vergou, numa eira, exactamente, enquanto ajuntava o milho seco que lhe daria o governo mas que caiu para o lado, ficando à mingua e entregue à mulher. Por sorte, mesmo rés-véz, falhou o engaço pontiagudo e perigoso, teve Deus com ele, bem vistas as coisas, foi apanhado pela moléstia mas sobreviveu. Não sei muito bem se aqui realizo uma comparação mal comparada, mas é que há males de mente que assemelho em eventual abuso, aos males do corpo. Entram e alojam-se, procriam livremente tal e qual as ratazanas ruins do convento de Mafra e não morrem nem por nada. Pelo contrário. Passados uns tempos, aquela coisa que pode amaciar e apagar, mas que também pode brunir e assanhar, ficamos submissos ao mal e ainda iludidos de que a grandeza é nossa. O Egoísta vive num corpo maior do que todos os outros, carece de tudo e nunca se dá, isola-se sem saber disso. Isolamento também é não dar de nós e crescer(?) só para dentro, elevar aos píncaros a ignorância, subir para lado algum, engrandecer opacidades e por último explodir, para acabar supremo dentro de um corpo fechado, o único existente.

(Aceito-os e quase que os compreendo, mas há dias em que me apetece mandá-los pastar. À fava, pronto, ficando-me em terrenos agrícolas, simpáticos, evitando tabuísmos. Pelo menos aos puros, aos refinados. Assim, pode até ser que expludam mesmo a olhos vistos, e soltem de uma vez por todas os fenos, os ratos, a moléstia, o raio do egoísmo e se diluam de vez no ar, arrastados na ventania para lugar nenhum.)

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