quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Calma

Lembro-me amiúde do tempo em que era apenas eu. Apenas eu, maneira de dizer, que se entenda, que nós nunca somos apenas nós, somos sempre nós e mais alguns que nos circundam. Só eu, no sentido do cuidado, da preocupação, que em tempos alguém teve comigo, mas com a qual eu nem bem me inquietava, uma patetice sem fim, cheguei a julgar, numa terrível ignorância, por onde todos passamos. Mas dizia eu que penso amiúde, e penso, amiúde, e com uma certa nostalgia de saudade, aquele sentimento forte e impiedoso como poucos sabem ser, que por vezes nos assola sem aviso prévio, e nos acerta em cheio.
Uma saudade estranha, diga-se a bem da verdade, se é que se pode usar a palavra estranha em tão enorme sentimento, que precisamente por isso, pela sua magnitude, assume diversas formas, feitios e intensidades, todas diferentes umas das outras, sendo que, provavelmente, nenhum é mais estranho do que o outro, são todos diferentes, apenas e só. Digo estranho, pelo facto de nem me apetecer um regresso, que também de resto, nem possível é tal coisa, que o presente a nós pertence, o futuro logo se vê, e o passado, esse, já se foi e já cá não volta, é sempre assim desde o inicio dos tempos, por muito que tentemos inverter-lhe a tendência, de nada nos vale, que nunca lá chegaremos. Mas dizia eu, que nem lá voltava, ao tempo, em que era só eu. Ao tempo em que a minha vontade chegava, a minha ambição reinava, os meus sentidos imperavam. Hoje, tudo mudou. O que faço, o que digo, por vezes até o que penso, se encontra direccionado em função de uma existência alheia, minha, muito minha, que me acompanha de perto, esteja a meu lado, ou esteja distante. Amo este sentimento.
Porém, por raros momentos, o cansaço deixa-me uma vontade tremenda de calma. É dela que eu sinto a saudade. A calma de hoje é sempre tão distante da verdadeira.

3 comentários:

  1. Saudades da calma de outrora, como eu as sinto. Agora, para conseguir algo que se aproxime, tenho de ir para junto do mar, pois só ele é capaz de me devolver essa sensação.

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  2. Labirinto de Emoções3 de dezembro de 2010 às 21:02

    Saudade...eis uma palavra que é tão portuguesa, eu tenho saudades sim, mas dos risos, dos choros das traquinices da minha filha...elas crescem, voam e fica uma imensa saudade e um ninho vazio. Hoje, tenho uma imensa calma que me sabe bem, mas que me deixa uma nostalgia profunda...e tanta saudade!

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  3. A calma que falo, e talvez nem bem me tenha explicado, é a calma da ausência de preocupação...

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