Lembro-me amiúde do tempo em que era apenas eu. Apenas eu, maneira de dizer, que se entenda, que nós nunca somos apenas nós, somos sempre nós e mais alguns que nos circundam. Só eu, no sentido do cuidado, da preocupação, que em tempos alguém teve comigo, mas com a qual eu nem bem me inquietava, uma patetice sem fim, cheguei a julgar, numa terrível ignorância, por onde todos passamos. Mas dizia eu que penso amiúde, e penso, amiúde, e com uma certa nostalgia de saudade, aquele sentimento forte e impiedoso como poucos sabem ser, que por vezes nos assola sem aviso prévio, e nos acerta em cheio.
Uma saudade estranha, diga-se a bem da verdade, se é que se pode usar a palavra estranha em tão enorme sentimento, que precisamente por isso, pela sua magnitude, assume diversas formas, feitios e intensidades, todas diferentes umas das outras, sendo que, provavelmente, nenhum é mais estranho do que o outro, são todos diferentes, apenas e só. Digo estranho, pelo facto de nem me apetecer um regresso, que também de resto, nem possível é tal coisa, que o presente a nós pertence, o futuro logo se vê, e o passado, esse, já se foi e já cá não volta, é sempre assim desde o inicio dos tempos, por muito que tentemos inverter-lhe a tendência, de nada nos vale, que nunca lá chegaremos. Mas dizia eu, que nem lá voltava, ao tempo, em que era só eu. Ao tempo em que a minha vontade chegava, a minha ambição reinava, os meus sentidos imperavam. Hoje, tudo mudou. O que faço, o que digo, por vezes até o que penso, se encontra direccionado em função de uma existência alheia, minha, muito minha, que me acompanha de perto, esteja a meu lado, ou esteja distante. Amo este sentimento.
Porém, por raros momentos, o cansaço deixa-me uma vontade tremenda de calma. É dela que eu sinto a saudade. A calma de hoje é sempre tão distante da verdadeira.
Saudades da calma de outrora, como eu as sinto. Agora, para conseguir algo que se aproxime, tenho de ir para junto do mar, pois só ele é capaz de me devolver essa sensação.
ResponderEliminarSaudade...eis uma palavra que é tão portuguesa, eu tenho saudades sim, mas dos risos, dos choros das traquinices da minha filha...elas crescem, voam e fica uma imensa saudade e um ninho vazio. Hoje, tenho uma imensa calma que me sabe bem, mas que me deixa uma nostalgia profunda...e tanta saudade!
ResponderEliminarA calma que falo, e talvez nem bem me tenha explicado, é a calma da ausência de preocupação...
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