quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Votos

Encontro-a logo pela manhã. O céu estava de um cinza escuro, e deixava escoar uns pingos grossos e frios, como se deles precisássemos, terrível engano esse, cometido por quem deles se encarrega, que geladas, estávamos nós. O casaco leopardo de um bom gosto irrepreensível, aperta-lhe o corpo, com a ajuda das suas mãos arrefecidas e frágeis, que mais parecem, querer esconde-se também. Entre o bolso, que lhe sossegaria os dedos, e o aconchego do pescoço, prefere deixa-las a elas de fora, são as que mais sofrem, logo a seguir ao rosto, as pobres. O desejo de boas festas, a quem sabemos que não vai de todo tê-las, soa-me mal. Não propriamente a cinismo, conversa de circustância, ou qualquer uma outra atitude de caracter menos nobre, na qual possamos encaixar estes votos. São sentidos, muito sentidos. Mas pela sua inutilidade, que nunca, por nunca ser, serão cumpridos. Chego a ponderar o silêncio, que de resto, julgo-o tantas vezes um aliado importante, que aqui, neste preciso contexto, não me teriam deixado mal. Ainda assim, arrisco o desejo, ao qual ela me olha de ar impávido, e balbucia um obrigado circunstancial, que me deixou num desconforto considerável.
Volto a olhar-lhe para as mãos, que por ora, apertam o casaco com mais força. Não sei se já vos disse, mas a ser uma parte do corpo, sê-las-ia. Não por desejo, mas por vocação.

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