quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Praia


O dia aqui está cinza claro. Apetecia-me a minha praia, linda em dias assim. Tinha de ser a minha, não poderia de todo, ser qualquer uma outra.
A minha praia tem areia grossa, que mistura ainda grandes calhaus que nos marcam os pés a cada onda. Tem um mar revolto e selvagem, daquele que nos dias de Inverno reclama em ruído aceso, quase parecendo, que de algo terrível se queixa, nem bem sei, como consegue albergar em sossego, os pobres peixes que por lá moram. Houve uma vez, entre tantas outras que embora não vendo, sei que existiram, em que galgou a rua até às casas, numa implacabilidade sem limites, que deixou a quem passava o caminho da fuga e pouco mais, que vencê-lo, era coisa impossível, e o ajuntamento a ele, também não constituía acto de prudência. As mulheres usam gritar bem alto nestas afrontas do mar, talvez seja, quiçá, para ver se o assustam, e se ele recolhe ao seu real sítio, tentativa, que ele apenas volta, quando o seu juízo assim o entende, que antes disso, entre gritos, fugas, arremessos, o que queiram lançar-lhe, continua a sua tarefa sem dó nem piedade, venha quem vier, grite o que gritar.
De épocas deveras idas, que ainda consigo trazer à memória, numa precisão de imagem clara, embora já um tanto ou quanto perdida no tempo, relembro o choro amargurado das mulheres, aquando da saída dos barcos em marés vivas, onde os pescadores, encabeçados por algum mais corajoso, remavam com toda a força de braços, a fim de se livrarem daquela fúria danada, capaz de os devorar num segundo. As ondas, tal e qual pessoas zangadas, espumavam uma espuma branca e grossa, que galgava os pobres barquitos recheados de gente e de peixe. Que se vá o peixe, gritavam elas, que nos venha a gente.

Está longe de mim há tempo demais. Ainda assim, e numa fabulosa capacidade humana conseguimos sentir nosso, o que há tanto não vemos. É a minha praia portanto.

5 comentários:

  1. CF, nem sabes como me tocou este texto. Em miúdo, fiz muitas temporadas por ali, com a família do Espinheiro, dos Amiais, da Póvoa, do Verdelho... Além da praia, corria tudo entre a vila, e o Sítio, e muitas expedições ao rochedo, lá ao fundo, è esquerda. Hoje não de digo - bravo - pelo post. Digo-te - obrigado :):)

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  2. Sorrisos aos dois :):) Éh pá muitos :):):)

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  3. Numa praia mais a norte (Caxinas) presenciei cenas idênticas, que hoje me despertam reacções similares à sua.
    A propósito de dias cinzentos: ontem, em Lx, o nevoeiro era denso. à tarde tive uma reunião na Parede e por lá estava um belo dia de sol, que me alegrou e encheu a alma

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  4. Olá, também eu penso nesta praia como a minha praia. O seu texto relembrou-me dias de felicidade. Obrigada

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