quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Fascínios


As casas velhas e grandes causam-me um fascínio inexplicável. Provavelmente, e a sentar-me num divã psicanalítico, denunciaria um conjunto sério de recalcamentos, quem sabe de vidas passadas, inundados de cheiro a mofo e a naftalina. Basta passar-lhe por fora, na beira de uma qualquer estrada, para que as imagine por dentro. Hoje passei por uma, cor de rosa forte, de primeiro andar. E com um alpendre, que é outra das coisas que me encanta, segurado a traves de madeira grossa. Imaginei-a recheada de baús carunchosos, onde repousam roupas antigas, quem sabe até chapéus. Algumas delas estarão certamente comidas por traças, cravejadinhas de buracos pequeninos e incertos. As cómodas dos quartos, de espelhos grandes e trabalhados, deverão estar no seu sítio de sempre, encostadas à parede, defronte à cama, entre as cadeiras estofadas a veludo de cor forte. Na cozinha existirá por certo um fogão a lenha, que em tempos deixou na mesa da família sopas de feijão e chouriço. Essa mesa deverá ser comprida e larga, que a gente era muita, e sentava-se com certeza em bancos inteiriços, seguros a ferros entrelaçados. Na cave, uma adega, onde se guardava azeite e vinho, e onde o cheiro da humidade nos entra pelo nariz, chegando a todos os recantos do corpo. Gostei muito da história da família desta casa, que nem sei quem era, nem se terminava em Magalhães ou em Baptista. Não me importa isso. Todos os dias, a caminho do trabalho, passo por outra que me encanta. Tem na frente uma ceara enorme, e lá ao fundo, numa imensidão sem igual, repousa a dita, com uma porta principal de madeira escura, e com janelas corridinhas ao longo da parede, de um lado e do outro. A história desta família fica para outro dia, mas está prometida. Encaixo esta minha admiração, nos fenómenos um tanto ou quanto estranhos da minha existência. Na prática, nunca gostei de casas grandes, exageradas. Nunca na vida vou ter uma, por motivos diversos. Admiro estas antiguidades e grandiosidades à distância. Não as ambiciono para mim. Este outro facto estranho de imaginar o que lá se passou, deve ter a ver com a minha vocação constante em entrar dentro seja do que for. É um vício, um passatempo, como outro qualquer.

5 comentários:

  1. :):):)Eu imagino-me lá dentro. Protegida como o eram as mulheres que antigamente lá viviam. Ocupada com as lides no meio do cheiro a lenha queimada e a enchidos fumados. Tem de ser grande para ser rica e tenho de ser a senhora, não posso ser parte da criadagem porque o que eu quero mesmo é descansar :):):)
    Beijinhos

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  2. concordo adoro casas antigas e como contam historias sobre o passado e como viviam as pessoas

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  3. Eu queria ser moradora desta casa ou simplismente uma mera hospede,não perderia por nada deste mundo de dar meus passeios noturnos por ela e poder dar de cara com o dono da casa com cara de velho enrugado,gordo,malvado e mandão me olhando da cabeça aos pés me achando uma entrusa,entrometida a vagar pelos recantos solitário que só ele no momento costumava habitar tranquilamente com o seu velho amigo de estimação o gato magrelo;para ter que fugir da sua esposa velhota,mecheriquenta,fofoqueira e faladoura,bigoduda com bobs e lenços na cabeça e o rosto todo coberto de um creme anti rugas como por exemplo o rugol,chinelão de vovó,eu e ele só naquela noite pensa que bicho virou.

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  4. A mim, o que impressiona é o imaginar sobre qua família a construiu. Foi feita com muito esmero, riqueza de detalhes, portanto alguém afortunado. Foi viva, foi alegre, teve história. Como algo tão exuberante pode ser deixado à própria sorte? E de riqueza, passar à pobreza, pois no abandono não ficou totalmente, se o dono a deixou, alguém nela se abrigou. Enquanto bela e cuidada, famílias bem aventuradas, depois caindo em desprezo, os desafortunados dela se apossaram, para ainda mais desprezo sofrer. E agora, seu destino incerto, aquela que já fora símbolo de fortuna, aguarda lentamente, seu desfecho, seu desfeito.

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