sábado, 15 de outubro de 2011

Austeridade

As medidas de austeridade têm de ser tomadas, sim senhora, que o País precisa de se arribar. Não sou funcionária pública, logo trabalho só mais meia hora por dia, mais ivas e afinidades, mas continuo a receber subsídios. Se calhar sou suspeita para falar, mas arrisco. Não ando em excessos de preocupação, mas penso muito sobre a actual situação do País. Compro menos coisas, não tenho outro remédio, que os tostões não são para esbanjar. Tenho porém muita pena por uma coisa. Que não se consiga aplicar medidas de austeridade às mentes das pessoas. Umas medidas severas, capazes de incutir nos espíritos respeito, bom senso, capacidade de esforço. Que possibilitasse, sem ginásticas do governo, que os necessitados fossem só mesmo os necessitados, e que não fossem os necessitados e mais muitos. Que possibilitassem às pessoas, sem hipóteses prévias de aprenderem um ofício, que o aprendessem, mas que depois não aprendessem outro e mais outro e ainda outro, apenas para serem muitos e porque é muito mais fácil ir à escola, do que ir ao emprego. Que permitisse a estrondosa capacidade de usufruir de um subsídio de desemprego ou de inserção, apenas e só enquanto dele eventualmente carecessem, mas que assim que possível, quando surge uma oportunidade, que pode nem ser bem o que se quer, mas é qualquer coisa, as dotasse de capacidade de tomar as mãos ao caminho e aproveitar, que o descanso ocioso não dá sustento a ninguém. E que permitisse ainda que os funcionários, públicos e sem sê-lo, se empenhassem verdadeiramente naquilo que fazem, e não precisassem do café das dez, do das três e das conversas telefónicas na hora do labor, e do telefone do trabalho. E que permitissem também que a honestidade regesse as avaliações, as progressões e os prémios de mérito, para aqueles que verdadeiramente têm mérito, e não para os que lambem botas muito bem. Ou são bonitos, ou jeitosos. E permitisse ainda que as pessoas fossem sérias nos juízos que fazem, quando têm que os fazer. E decentes, imparciais. Entre muitas outras do género. E isto tudo aliado a algumas outras medidas, de carácter mais prático, que continuam a ser esquecidas, como se não fossem importantes. E aí sim, talvez seguíssemos um caminho coerente. E não o caminho dos coitadinhos que gostam muito de o ser, sem desprimor dos que o são mesmo, claro. Não subestimo a gravidade da crise, como fazê-lo? Encaro-a, respeito-a, faz-me lembrar a que ouvi em tempos, pela boca dos meus avós. Percebo-a muito mais abrangente do que aquilo de que aqui falo. Mas ainda assim, nada me convence de que cota parte da culpa, não está centrada na nossa mente, na nossa postura. Pena tenho, volto a dizê-lo, que a austeridade não abranja tanto.

4 comentários:

  1. Subscrevo. Também tenho pena que a austeridade não abranja a mentalidade das pessoas.

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  2. Muito bem escrito. Ainda não havia crise e já eu dizia que enquanto a mentalidade não mudasse não adiantava mudarem os governos. Subsistindo a ideia de que "desde que eu me safe está tudo bem" subsiste também a crise. Porque as pessoas não percebem que se estivermos todos bem cada um estará melhor. Não. Não temos um espírito de comunidade. E isso leva-nos a situações destas.

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  3. Muito bom , Carla. Subscrevo tudo. A mentalidade não evolui e a honestidade definha. Também mt bom o comentário da Miss G. Miss Aefetivamente :)

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