Hoje bem cedo o Magalhães passeava-se na berma da estrada aos ziguezagues. A mãe dele falecida há muito, era uma senhora grande por dentro e por fora que tinha um colo capaz de o cuidar ao extremo porque ele, um pobre, tal não conseguia fazer. Via-se o colo dela a olho nu, ainda para mais porque era auxiliado por uns peitos enormes daqueles que até podem remeter para uma maternidade fácil e eterna. Foi desde essa morte que tudo mudou. Uma morte simples, uma simples morte. Veio na devida altura, se é que isso existe, estando a velha cansada de zelar um homem que deitou ao mundo na esperança do crescimento, mas que por motivos que provavelmente desconhecia deixou de crescer, tornando-se por isso um peso para acartar ao longo da vida, juntamente com a sua e enquanto ela pudesse. Nesse dia Magalhães foi visto na beira da estrada estendido ao sol, diz ele que a ver se aquecia, que sentia por dentro um gelo gelado capaz de o secar. Hoje deambula sem rumo, não faço ideia do que sente, e verdadeiramente, e muito embora o tenha dito, nem sei se sem norte. Pode perfeitamente tê-lo encontrado, não existe a obrigatoriedade de tal facto, se tiver surgido, ser por mim percepcionado.
Lembrei-me entretanto de um outro ser que não vejo há muito. Vivia dentro de uma casa composta à volta por um silvado denso e espinhoso, de onde nunca saía. A misericórdia levava comida uma vez por dia, até que em certa altura houve intento externo em acabar com aquela desgraça. Acompanhei o serviço e entrei na casa vedada até então. Lixo no chão, bichos diversos e uma estante cheia de livros interessantíssimos era a única coisa que havia ali, para além da própria pessoa, que normalmente emanava sorrisos dos olhos que naquele dia choravam. De facto, e a propósito de um apontamento surgido algures, a loucura é sempre um conceito estranho. Existirão as declaradas e atestadas por alterações reais, mas depois também existem muitas outras, que assim gostamos de chamar apenas porque não se enquadram naquilo que consideramos a norma. A norma, engraçado, também poderá ser uma loucura, pelo menos a meus olhos. Não acho nada normal haver quem não goste de chocolate, por exemplo. E isto, vem doce e de chocolate só para abrandar a questão.
Abrandando a questão, os loucos gostam de chocolate amargo, os "normais" de chocolate belga e os parvinhos (como eu) do branco. É uma loucura esta coisa da catalogação e um desplante aquela outra do maniqueísmo... :)
ResponderEliminarEu por cá gosto de todos. Mesmo. Ou seja, abrandando mais uma vez, tenho um pouquinho de tudo... :)
ResponderEliminarAcelerando: e há quem não tenha nada...
ResponderEliminarPuxa, aceleras-te e de que maneira :)
ResponderEliminar:) :) Nem acelerei. Dramatizei, que nada não existe.
ResponderEliminar(Vou voltar aos saltos altos, salvo seja)
Um dramazito, sim, não há nadas. Mas há poucos, oh se há...
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