quinta-feira, 20 de setembro de 2012

"Quantas mães tens tu?"

Quantas mães tens tu?, pergunta-me intrigada como se a querer lembrar-me que é a única. Nunca soube muito bem o que era ser mãe até ser uma. Daqui retirei de imediato que as coisas só se sabem quando se sentem, que antes disso pensamos que sabemos mas não sabemos, e podemos até estar muito longe. Ajudou-me essa constatação de limite. Os limites orientam-nos o corpo, prendem-nos as inseguranças, os medos, os solavancos e os arranques medrosos que nos nascem sem que os possamos matar à nascença. Quantas mães tens tu?, volto a ouvi-la, insistente no meu ouvido, no meu telefone, aguardando uma resposta única que não é precisa e ela sabe muito bem disso. Um dia fui mãe, há um tempo, e a partir desse dia comecei a conhecer coisas muito boas e coisas muito más. Estas duas coisas andam sempre de mãos dadas, os opostos caminham lado a lado, mão na mão, corpo no corpo, é sempre assim, sempre assim há-de ser. Antes desse dia não sabia ao certo o que era o medo. Não reconhecia a agonia mais séria de todas as agonias que nos crescem direccionadas a uma parte de nós que nos saltou em ânsias medonhas e que sabemos, em coerência, que deveremos deixar crescer. O crescimento é sempre esta dicotomia de sentimentos díspares, desde o nascimento até à morte. Todos queremos crescer, todos queremos deixar de o fazer. Todos queremos em algum momento parar o tempo no minuto preciso em que deixamos de querer que ele avance mais para a frente, mais depressa, no normal decurso de todos os percursos, de todos os rumos, de todas as vidas. Não podemos. No fundo nem sequer queremos realmente parar o tempo, porque o tempo é aquela coisa que corre no ritmo que deve correr e que torna as coisas grandes, imensas, gigantescas, poderosas ao ponto de nos fazerem doer. Quantas mães tens tu, parece que ainda a oiço dizer, tenho uma mãe, apetece-me dizer-lhe, tenho-te a ti. E ele também tem só uma, tem-me a mim, mas ainda não sabe muito bem o que isso é. 

6 comentários:

  1. Antes desse dia também não sabia o que era o medo. Belo texto, Carla.

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  2. Há dias grandes :) Obrigada Fátima...

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  3. Olá CF

    Sou visita regular e aprecio os seus textos.
    Mas este está...
    Excelente, talvez seja esta a classificação adequada, uma vez que caracteriza de forma "excelente" um "medo" que é único.

    Maria

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  4. Maria, Obrigada. Trata um medo e uma experiência únicos de facto. Ainda bem que vem, é sempre bom tê-la por cá :)

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  5. Ser mãe foi das coisas mais belas e aterradoras que me aconteceu na vida. Quando nasceu o meu primeiro filho, senti-me totalmente incompetente de taõ ansiosa. Felizmente, tive uma segunda experiência para colocar as coisas no devido lugar.

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  6. Teresa, é aterrador e belo sim senhor. Cabe-nos a nós colocar tudo no devido lugar, mesmo que seja só com um. Mesmo assim, é possível :)

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