segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Mãe

Dizia minha avó que já foi, que o dia era de um Inverno doloroso, já me parei para pensar, o porquê de tantas das mulheres da família, o escolherem para nascer. Poderíamos, e seguindo as teorias mais esotéricas da existência, ter preferido o verão, abrir os olhos no sol, ao invés de o fazermos na chuva, e sentir na pele o morno dos dias, mas não. É logo ali que escolhemos o pior caminho, sendo que algumas de nós, não mais o largaram.
O telhado da casa era de telha vã, o chão, de terra batida, forrado a cartão, e algures num canto, ardia num fogo fraco, uma panela de água fervente. Meu avô, nem sei bem por onde andava, mas tenho por certa alguma distância, quanto mais não fosse, a de segurança, que o protegessem dos gritos dados, por quem paria com dor. Nem bem sei o nome da parteira que a trouxe cá, mas seja ela quem for, esteja ela onde estiver, deixo-lhe um sentido bem haja.
A infância teve o seu quê de difícil, a pobreza insurgia-se sem medos, e cedo, bem cedo, a mãe que embalava os filhos, necessitou de deixa-los a cuidados alheios, a fim de pegar ao sol nascente e regressar ao poente, para logo depois seguir para a fonte, a fim de dar zelo à roupa, que água em casa, não era coisa que houvesse. Os tratos ministrados pela ama escolhida, eram descuidados e fracos, e diz minha mãe, que meu tio, mais criança do que ela, aquando desta situação, muito mais sofreu no corpo, as mazelas do escasso cuidado, que havia dias, em que o cueiro que lhe tapava o rabo, não via muda desde a manhã até à noitinha, tivesse o que tivesse, segurasse o que segurasse.
Quis estudar, seguir em frente, mas a escassez de recursos, aliada à dureza paterna, que nem via qualquer serventia para a sua continuação, fizeram com que o caminho fosse colhido a meio, deixando-a à mercê de uma vida aquém do que desejava.
Ainda assim, julgo-a feliz, senão plenamente, ao menos muito. Só isso permite a dádiva constante que incute na sua existência, que não há dia, hora, ou minuto, em que não se esqueça a si, para a nós se dar.
Faz anos, e é minha mãe.

2 comentários:

  1. Parabéns à mãe, à avó e à filha. :)*

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  2. Muitos parabéns à mãe e à avó :):) que sobreviveu a tempos demasiado duros que ninguém deveria ter e que, neste país, se prolongaram até tão tarde! E nós, que disso pouco ou nada sabemos, ainda nos vamos queixando...Mas ainda bem que sim. É que sem queixas as coisas não mudam mesmo :):)
    Beijinhos às três.

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