quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Sonhos

Era mais ou menos por esta altura, que começava a pensar nos desejos pretendidos para o novo ano, como se a mudança de um mero número, me pudesse transportar a novos sonhos, uns possíveis e concretos, outros por demais ambíguos, mas que ainda assim eu queria tanto. Tanto, ao ponto de desperdiçar uma, ou várias passas de uva em vão, das doze que me eram destinadas para que os pedisse, com toda a força do universo. Tal e qual a mesma força com que os idealizava, quando deitava uma moeda de vinte nas grutas de Santo António, ou ainda quando vislumbrava uma estrela que caía do céu nas noites claras. Recordo também, e aí num terreno muito mais específico, onde cabia apenas e só a paixão, os ditames que descobria das rezas dos nomes, nas quais tinha de cortar letras, a fim de conseguir um número, que se traduzia numa percentagem de probabilidade de vir a namorar com tal pessoa. Existiam ainda os jogos de papel, nos quais se pintavam símbolos diversos, e que dariam beijos, festas, enfim, uma panóplia de situações apetecidas, a quem ainda vivia na terra dos sonhos. Quem me lê, pode até nem acreditar, mas ela existe. Ou melhor, existiu em tempos, tendo-se sumido para sempre, como se somem outras coisas, que a vida nos dá de bandeja, para depois nos tirar. Talvez a terra dos sonhos seja pequena, e a imensidão das gentes, sedenta dela, não saiba gerir-lhe as dádivas. Alguma entidade suprema, trata portanto de dividi-la. Deixa-la a quem de direito, que pode ser por idade, por mérito, por ingenuidade, por crença. Ainda assim, julgo que ninguém a detém para sempre, e que apenas e só nos pertence, em momentos específicos da nossa existência.
Hoje, já nem sequer como passas de uva à meia noite. Estrelas cadentes, não tenho visto, e morro de medo de entrar em grutas. Dos jogos de papel, poderemos falar mais vezes. Eu, escolho uma bolinha azul. Lembro-me exactamente, do que sempre lhe escondia dentro.

1 comentário:

Deixar um sorriso...


Seguidores