domingo, 20 de setembro de 2009

Das fidelidades...


Hoje, na Nós número 20, fala-se de fidelidades, ou melhor, de infidelidades. Aquele assunto, que dantes era de Homens, depois passou a ser de Mulheres, e agora é dos dois.

Tecem-se considerações tamanhas; umas mais profundas que outras. Ouvem-se opiniões, ideias, mandam-se bitaites, e por ai fora.

É um conceito estranho, ambíguo. Pode falar-se a diversos níveis, mas cai sempre, ou quase sempre nas traições. Nas traições entre amigos, nas traições entre casais, entre outras.

Para mim, fidelidade começa em mim mesma. Sou fiel a mim, aos meus princípios e vontades, antes de mais nada. Parece-me um bom ponto de partida para quem quer ser fiel aos outros, embora as pessoas pareçam não perceber isso.

Obviamente que, o conceito de mudança, de evolução, se encontra aqui subjacente, e podemos mudar opiniões, gostos e vontades, não deixando por isso de sermos fiéis a nós. Fiéis a nós implica conhecermos-nos a fundo, e seguir de acordo com os padrões em que acreditamos. Mas significa também que podemos mudar.

Parece-me que o conceito de fidelidade, no sentido de eternidade, perde aqui todo o sentido.

Eu, por exemplo, desde que me conheço que sou fiel ao bacalhau ( Poderia ter escolhido outro exemplo, é certo, mas é que gosto mesmo de bacalhau). Gosto, e julgo que vou gostar sempre, mas enfim, nunca se sabe . É que já fui fiel ao chá de tília, mas agora o de menta sabe-me melhor. Pode entretanto surgir outro que mais me satisfaça, who knows??

Nas relações penso que o pressuposto segue um pouco estas linhas.

No caso de amizades, a fidelidade não deverá ser posta em causa, pois, se o amigo for verdadeiro, pode surgir outro, que não é necessária substituição. Podemos ficar com os dois e ponto. Digo eu, porque há quem não pense assim.

No caso de uma relação amorosa, o caso muda de figura. Numa sociedade éticamente monogâmica, mas na realidade, poligama, nem que seja de circunstância, o conceito perde significado. Há tantas experiências, tantas pessoas válidas, tantas portas por abrir, que quem diz de boca cheia que vai ser fiel ao Manel, à Maria, à Felisberta ou ao Ambrósio, das duas uma, ou fala por falar, ou é pouco ambicioso. Não me parece prudente arriscar falar de futuro com certezas de causa, quando ele é tudo, menos certo.

A mim, como pessoa, e em todas as minhas relações, nos mais diversos âmbitos, faz-me muito mais sentido falar em lealdade. A esse, me comprometo. Sempre, e em qualquer situação. Importa o saber assumir o que se quer e o que se gosta, e também o que se deixa de querer ou de gostar.

E agora, sou fiel?? Não sei lá muito bem. Sei que nunca enganei ninguém ( aqui falo em enganos a sério, não daqueles querido comprei um casaquito de 10 euros, que afinal custou 100, entenda-se). Sei que já mudei de gostos. Sei que já amei pessoas que já não amo. Sei que quando estou, estou. Sentimentos que tenho não escondo, nem para o bom nem para o mau. Também não invento o que não sinto, isso então é mesmo escusado. Sou leal, pronto. Acho que podemos ficar por aqui. A mim, faz-me sentido. E a quem não fizer, faça o favor de me pôr na borda do prato.

3 comentários:

  1. Substantivos ou adjectivos à parte, essa coisa do fiel até que a morte nos separe parece-me ridicula!Penso sim, que devemos ser fieis a nós e isso implica assumir que a nossa alteração de "gostos" perante o(a) outro(a).

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  2. Gostava de ter escrito este post. É exactamente o que penso, ponto por ponto, vírgula por vírgula.
    Leal acima de tudo, comigo e com os outros.
    Obrigada, não imagina o bem que me soube e me fez ler o que escreveu.

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