sexta-feira, 15 de junho de 2012

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A Segurança Social de vez em quando exige saber a minha condição perante os tribunais e as leis e empurra-me para os serviços, a fim de atestar perante tudo e todos que sou uma cidadã idónea e capaz de representar o que represento. Felizmente que ninguém me atesta o interior, terreno muito mais virulento, que a ser devidamente esmiuçado nas barras dos tribunais por certo me deixaria numa situação significativamente mais baixa nas crenças do povo, que vai-se a ver e os crimes até seriam alguns. Não falo de crimes sérios, mortais ou fatais, mas falo de pequenos delitos, quiçá punidos por lei se fossem ao acesso de todos. Não se exaltem com esta minha confissão, é uma mera conclusão do que nos povoa por dentro, sendo que todos temos terrenos pantanosos, vontades indesejadas, vinganças recalcadas que a podermos executávamos a bem da nossa justiça interna, que são guardadas cá dentro toldadas à sociedade, que enquanto se prestar a este propósito primordial da sua existência, nos salva. Mesmo ao meu lado encontrava-se uma jovem com requerimento na mão e um filho na outra. O pai do filho anda desaparecido. Não dá pensão de alimentos e não sabe da saúde da criança, das suas necessidades ou precisões. A jovem quer ir embora para outro País, talvez o dela, mas para levar a criança necessita de ordem, ao senão será barrada no aeroporto. Faz sentido, resguardam-se assim situações extremas que possam ocorrer à revelia de pessoas capazes. Mas também se dificultam e muito processos de pessoas frágeis. O requerimento não era ali, era em outro local, dirigido a outra pessoa. Deveria esmiuçar toda a situação, a fim do Sr Juiz avaliar o decorrer do processo e emitir posterior parecer. Pode demorar muito tempo, profere a funcionária, como se tal facto não fosse já sabido por todos. Acelere o processo, avisa ela, para a moça de olhos chorosos, roupa larga, criança pequena, e provavelmente pouco mais. Ela acenou e saiu, lenta, muito lenta.

( A lentidão do passos é delicada. Pode ser boa, pode ser desânimo. O estado de desânimo é um estado delicado da nossa existência. Não deveria por isso ser permitido a quem se enganou na vida, mas que ainda tem muita pela frente.)

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