domingo, 10 de junho de 2012

Imaginações

Há sítios onde o tempo não corre. Nesses lugares o mundo situa-se do lado de fora das pessoas enquanto elas por dentro esperam o que nunca vem, vivem das imaginações guardadas na alma, ambicionam o que no fundo sabem que não volta mais. A serenidade será por certo um terreno difícil de encontrar, fustigado por vendavais esperados mas ainda assim renegados, que sabemos que um dia nos abanarão ao ponto de cairmos para não mais levantarmos. Nesses locais deveria ser proibido correr, pelo menos de forma leviana. Deveria também ser proibido falar alto, dizer palavras duras e secas, ausentes de sentimento. Nestes lugares onde o mundo se espera em vão deveriam existir doces em todo o lado que abafassem e escondessem, nem que fosse entre frestas, as agulhas, os soros, os aparelhos que seguram respirações à vida que mesmo assim se some aos poucos, e abandona os corpos que a acolheram  e cuidaram como se ela fosse o bem mais precioso. E é. Talvez por isso os desperdícios que se cometem com ela me façam mal à existência. Vivemos muitas vezes de forma imprudente, deixando ao encargo do tempo grandezas que deveríamos gerir de forma cuidada e devidamente enquadrada dentro dos dias que temos hoje, sem pensarmos em demasia nos dias que eventualmente teremos amanhã. Não quero com isto dizer que a ambição e o percurso não devem constituir caminhos. Quero apenas dizer que se não vivermos agora corremos o risco de não vivermos nunca, porque o amanhã é apenas e só a nossa imaginação. Não é concreto, não é palpável, não é sequer visível, é apenas programado. Poderíamos ainda aprender com quem vive nos mundos parados à espera. Quem vive nos mundos parados à espera vive do agora, da palavra, do toque e do cuidado. Vive do conforto e do alívio, vive do presente, porque o amanhã pode não vir. Mesmo nos lugares onde o mundo não corre, um dia o amanhã já não vem.

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