O que me faz reflectir... Todos os textos que aqui publico são de minha autoria, e as personagens são fictícias. Excluem-se aqueles em que directamente falo de mim, ou das minhas opiniões, ou onde utilizo especificação directa para o efeito.
quarta-feira, 30 de junho de 2010
O meu coração
Quando te apago um tempo, julgo que quase te apaguei mesmo, para logo me desiludir e perceber, que mal surges e tudo acontece de novo. Estranha esta nossa mente que julgo entender, sendo tão obscura como só ela, não se permitindo a grandes entendimentos. Também sou quase assim para quem me vê de fora. Gostaria de um dia perceber, esta capacidade de arrumarmos o que queremos arrumar, quase fazendo valer o ditado do longe da vista, longe do coração, que também pressupõe o contrário. E o contrário surge com uma força tamanha e num ápice que até assusta. Como se nunca tivesse estado longe. Claro que muitas das vezes o longe da vista é só isso mesmo, longe da vista. Mas eu tenho umas artes tamanhas e consigo (ou quase) arrumar fora do coração. Necessitava apenas do esquecimento na altura do face to face. Aquele nobre acontecimento antagónico que tanto nos vale como tanto nos perde. Não apagava nada da minha vida, dizem alguns. São marcas de guerra, partes do meu crescimento. Eu, não apagaria grande parte. Mas uma ou outra coisa, iam à vida, não se faça tarde. E ficariam longe do coração para sempre, que mais não faz do um vai vem descoordenado, que me sacode uns dias, outros dias não. O meu coração sempre foi um lugar bom para se estar e eu deveria ter cuidado com o que ponho cá dentro.
Chapéus

Gosto de enfeites, já sabem que sim. Por chapéus, tenho uma relação de amor ódio tremenda, coisa que acende o gosto, como se não fossemos em tudo assim. Tapam-me o capelo, tiram-lhe a beleza, e eu não gosto disso. Mas conferem-me alguma graça, pelo que os perdoo. Fosse eu uma condessa, e esse seria sem dúvida, um dos meus acessórios favoritos. Ainda que sem sê-lo, arrisco-o, numa ou noutra situação particular.
Aproveito a praia para usar e abusar, e acabei de comprar o deste ano. Com uma envergadura considerável, ainda que longe da dos Mexicanos, estou convicta de que me protegerá o suficiente, para não assanhar as minhas sardas até ao limite. Outras que amo e odeio ao mesmo tempo.
Dorrotas
Se há coisa que a vida já me ensinou foi a perder com glória, que para perder é que é preciso tê-la, na vitória não custa nada. Resta-me pensar, que a nossa Selecção também pesque qualquer coisa do assunto, mas não sei. Alguém tem de perder, e quando perde o mais fraco, nada a dizer. Portanto, mais não digo.
terça-feira, 29 de junho de 2010
Chaves de quê?

Na porta, vejo através da grade, e observo sorrisos. De quem tanto dá, e muito recebe também, embora haja quem ache que não, que aquele gente diminuída, nem para eles, quanto mais para dar. Tamanho engano senhores, que se há quem dê, muitas das vezes, é quem menos tem. Porque muito precisam, poderá ser. Ou porque com pouco se satisfazem, vou mais por aqui. Continuo de fora, e observo o recreio, mesmo antes de um grandalhão de aspecto rude e desengonçado, dar pela minha presença e me chamar. Entro, e sorrio para aquele ser de ar estranho, que me olha lá bem do alto. Emerge de imediato uma educadora, daquelas que sorria, julgando que eu precisaria de auxilio, poderia assustar-me ou algo assim, mal ela sabe que já não me assusto com gente verdadeira, assustando-me muito mais com outras gentes. E por enquanto, que tenho para mim, que com o tempo, nem com esses me assustarei. Já tenho arriscado, poderei até um dia ter azar, que ninguém sabe a verdade da realidade que os povoa internamente, mas por norma, hábito e vocação, talvez seja mais isso, vocação, desde sempre os seguro com um afago e com o tal do mágico. O sorriso, sim, isso. Em quase tudo, quando quero algo o utilizo. Espontâneamente ou não, que às vezes abuso, confesso.
No meio deles encontro o J, que me levou a chave do gabinete, e que ninguém sabe onde está. Para que quererá ele chaves sem fim, procurará alguma porta que lhe traga algum conforto? Ou será só porque sim, que também eles, terão decerto direito, a fazer coisas só porque sim, que esses direitos, serão para todos, direi eu que ainda sonho. Encontramos a chave no bolso da camisa, que ele acede a dar, com alguma relutância. Venho embora, e deixo para trás toda aquela gente, que fala do jogo de logo com uma alegria imensa, parecendo perceber o que se passa, ou até talvez percebam mesmo, só que num mundo diferente. Entro no carro, olho para o lado, e repousam no banco as avaliações excelentes do meu rebento. Não senti própriamente orgulho naquele momento, embora o sinta amiúde, claro, mentiria se dissesse que não. Senti no momento alegria por nós, e tristeza pelos que deixei dentro do portão que fechei. Se calhar nem devia, possível ignorância a minha, que pouco mais sei, do que de mim. Poderão ser tão felizes, e eu sem saber. Que sejam. Mas que sejam mesmo. E que os sorrisos que emanam sejam do fundo. É que os sorrisos do fundo é que são mesmo a sério. Gosto tanto, quando sorrio do fundo.
No meio deles encontro o J, que me levou a chave do gabinete, e que ninguém sabe onde está. Para que quererá ele chaves sem fim, procurará alguma porta que lhe traga algum conforto? Ou será só porque sim, que também eles, terão decerto direito, a fazer coisas só porque sim, que esses direitos, serão para todos, direi eu que ainda sonho. Encontramos a chave no bolso da camisa, que ele acede a dar, com alguma relutância. Venho embora, e deixo para trás toda aquela gente, que fala do jogo de logo com uma alegria imensa, parecendo perceber o que se passa, ou até talvez percebam mesmo, só que num mundo diferente. Entro no carro, olho para o lado, e repousam no banco as avaliações excelentes do meu rebento. Não senti própriamente orgulho naquele momento, embora o sinta amiúde, claro, mentiria se dissesse que não. Senti no momento alegria por nós, e tristeza pelos que deixei dentro do portão que fechei. Se calhar nem devia, possível ignorância a minha, que pouco mais sei, do que de mim. Poderão ser tão felizes, e eu sem saber. Que sejam. Mas que sejam mesmo. E que os sorrisos que emanam sejam do fundo. É que os sorrisos do fundo é que são mesmo a sério. Gosto tanto, quando sorrio do fundo.
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Do Amor (Garcia Marquez diria ainda e de outros demónios)
Já MEC o diz, e eu acredito nele, que ele tem umas luzes da coisa, parece-me a mim. Aparece assim sem ser procurado, que estas coisas não se procuram. Acende-se, sem chama haver, alastra bem nas entranhas, insinua-se, e quase (quase) nos prende. Cerca-nos num mundo idílico, onde as cores mudam, onde todos sorriem, onde a sintonia é perfeita. Nós, como humanos que somos, fazemos-nos, adaptamos-nos, que a adaptação ao que é bom acontece quase à nossa revelia, eu pelo menos assim sou. Adapto-me num instante às férias, é que nem dou por isso e já estou adaptada, e nestas coisas do amor e do bem bom, também sou assim, que triste sina a minha e de quem como eu for. Mas adiante. Faz-nos crer que o Mundo é um sítio que até é bom para se viver, porque tudo corre assim, de feição, porque o nosso coração transborda de uma alegria contagiante, que até enerva quem nos rodeia e que por obra do acaso, do azar ou outra que tal, não se encontra no estado de graça perfeito. No tal, do enamoramento (gosto desta palavra, lembra-me Amores de Perdição e essas obras assim de amores até à morte). Cantamos músicas ridículas, escolhemos uma que nos lembre quem tanto queremos, porque a partilhamos num qualquer momento muito in love, ou só porque sim, e vibramos ao ouvi-la. Suspiramos com o cheiro do perfume, mesmo que ele passe em rasto, vindo directamente do pescoço de um qualquer desconhecido, que isso não importa. Importa que nos transporta, que as viagens internas são o primeiro móbil das gentes. Reconhecemos os passos, o som do carro, da mota, do que for que nos traga aquela alma que nos preenche, que nos tira do nada, e que nos faz crescer. E fazemos caras de parvos, às vezes. Muitas vezes. Pena só tenho porque me tira a mim de mim mesma. Porque me fragiliza e eu não gosto nada disso, embora goste do resto quase (quase) todo. Porque para mim e para os poucos que me ouvem, armo-me em heroína, que gosto disso, e passo o discurso da grande. Da que vence, da que ultrapassa tudo, da que não perde a clareza, a razão e essa treta toda, como se isso fosse possível, quando se ama alguém. Depois das conversas, passo um tempo considerável a pensar, quem estou eu a tentar convencer, que poderá até ser a mim, com esta meia dúzia de tréguas descabidas que não enganam ninguém, porque o amor é o tal que é f.....
(Um dia, ainda hei-de conseguir escreve-la. Ou então não, que sou uma menina de bem, embora às vezes nem pareça muito).
(Um dia, ainda hei-de conseguir escreve-la. Ou então não, que sou uma menina de bem, embora às vezes nem pareça muito).
Vuvuzela
Caros vizinhos transatlânticos. Eu gosto muito de vocês. Sério que sim, vós sabeis disso que sorrio sempre, tal como vós para mim, quando nos cruzamos na rua. Oiço-os cantar, vejo-os dançar pela janela da minha cozinha, e confesso, chego em noites pontuais, a desejar bater-vos na porta, a fim de entrar nas vossas festanças recheadas de caipirinhas, samba e boa disposição. Gosto até de os ver jogar, e vão no bom do caminho, vão sim senhor. Mas meus queridos, por favor, calem a vuvuzela que já apitou mil vezes desde as 19 e 30h. O meu dia foi mauzinho, acreditem. Dancem samba, subam paredes, bebam até cair pro lado, até podem ganhar o Mundial, que eu até gostaria muito, caso não o ganhemos nós. Tudo meus amores, tudo, menos a vuvuzela, sim?
Belezas

Num momento de futilidade, pego numa revista Caras, pertença de uma velhinha que muito prezo. Folheio-a, na sua beira, e paro no casamento da Princesa Vitória, protagonista do tradicional conto da Princesa e do plebeu. Bonita a história. Bonitas as jóias que enfeitam as Senhoras. Bonitos os vestidos, ou quase todos, que existem excepções, claro. Os meus olhos param na Rainha Rania, da Jordânia, por razões para mim óbvias. Poucas retratam tão bem o que me parece ser a beleza de uma Mulher no seu estado mais puro.
domingo, 27 de junho de 2010
Tróia
No baú do quarto do fundo encontro um pano encarnado. Encarnado sim, palavra que prefiro em detrimento de vermelho, mais subtil, menos poderoso. Acompanhou-me em tempos e nunca me desfiz dele. Ainda me lembro de quando me acompanhou numa excursão a Tróia. Tróia é daqueles sítios que me carrega memórias, dispares de todo, mas poderosas como só elas. De amigos que já me deixaram, de excursões adolescentes, de noites proibidas, daquelas proibidas mesmo a sério, que só são possíveis uma vez na vida, e eu não sou nada dada a desperdícios, graças a Deus.
Quem organizava os passeios era o Nuno, uma paixão assolapada que tive, naquela altura em que era adolescente escanzelada sem graça nenhuma e cheia de borbulhas no rosto. Ele tinha olhos para todas menos para mim, que me saracoteava bem na sua fronte, de biquíni reduzido que me tapava a carga de ossos, e de cabelo aos caracóis desgrenhado e deveras desalinhado. Ele, por sua vez, sorria-me de esguelha, do alto da sua pose, como que para me querer dizer, que podia cirandar à vontade, que dele, nada levaria. Naquela altura eu ouvia Brian Adams, e outros assim. Fechava a sala às escuras, já no sossego do lar, e derramava umas estúpidas lágrimas por aquele amor que eu queria tanto, mas que não me queria a mim, mal eu sabia, naquela altura, que o correr atrás é o nosso pior caminho, quando queremos alguém que não nos quer. Passaram os tempos, as borbulhas também, os cabelos acalmaram e eu cresci qualquer coisa. Por fora, e acima de tudo por dentro. Dia surgiu, por alma não sei de quem, em que sua eminência se abeirou de mim, tecendo elogios cuidados e rebuscados, numa altura em que o seu metro e oitenta, e o seu sorriso rasgado, já para mim mais não valiam, do que isso mesmo. Armei-me de orgulho, terrível defeito que por vezes me assola, mas que aqui me valeu em grande, e mandei-o dar a tal da volta, que ele tão merecia e que eu dei tantas vezes, sob a sua voz de comando. Senti-me grande nesse dia, e dai para a frente, em quase todos, que ele foi personagem importante, na construção da minha auto estima. Do sofrimento pateta ficou um ensinamento para vida, que certo ou errado, me tem guiado até aqui. Correr atrás de quem não nos quer, nada nos dá e muito nos tira. Mas podemos correr, claro. Ao lado de alguém, na mesma direcção. Quando alguém nos quer e nós o queremos também. Ai, até arrisco dizer que devemos mesmo fazê-lo, assumindo um sentido figurado, susceptível de várias interpretações. A marcha por demais lenta, salvando as devidas excepções, pode ser bem traiçoeira.
Quem organizava os passeios era o Nuno, uma paixão assolapada que tive, naquela altura em que era adolescente escanzelada sem graça nenhuma e cheia de borbulhas no rosto. Ele tinha olhos para todas menos para mim, que me saracoteava bem na sua fronte, de biquíni reduzido que me tapava a carga de ossos, e de cabelo aos caracóis desgrenhado e deveras desalinhado. Ele, por sua vez, sorria-me de esguelha, do alto da sua pose, como que para me querer dizer, que podia cirandar à vontade, que dele, nada levaria. Naquela altura eu ouvia Brian Adams, e outros assim. Fechava a sala às escuras, já no sossego do lar, e derramava umas estúpidas lágrimas por aquele amor que eu queria tanto, mas que não me queria a mim, mal eu sabia, naquela altura, que o correr atrás é o nosso pior caminho, quando queremos alguém que não nos quer. Passaram os tempos, as borbulhas também, os cabelos acalmaram e eu cresci qualquer coisa. Por fora, e acima de tudo por dentro. Dia surgiu, por alma não sei de quem, em que sua eminência se abeirou de mim, tecendo elogios cuidados e rebuscados, numa altura em que o seu metro e oitenta, e o seu sorriso rasgado, já para mim mais não valiam, do que isso mesmo. Armei-me de orgulho, terrível defeito que por vezes me assola, mas que aqui me valeu em grande, e mandei-o dar a tal da volta, que ele tão merecia e que eu dei tantas vezes, sob a sua voz de comando. Senti-me grande nesse dia, e dai para a frente, em quase todos, que ele foi personagem importante, na construção da minha auto estima. Do sofrimento pateta ficou um ensinamento para vida, que certo ou errado, me tem guiado até aqui. Correr atrás de quem não nos quer, nada nos dá e muito nos tira. Mas podemos correr, claro. Ao lado de alguém, na mesma direcção. Quando alguém nos quer e nós o queremos também. Ai, até arrisco dizer que devemos mesmo fazê-lo, assumindo um sentido figurado, susceptível de várias interpretações. A marcha por demais lenta, salvando as devidas excepções, pode ser bem traiçoeira.
Cheiros assim...
sábado, 26 de junho de 2010
Demasiada gente
Foi dada recém nascida à tia, que a mãe já tinha muitos. Da casa da mãe verdadeira, recorda o barulho dos irmãos, que se atropelavam na brincadeira. Da casa da mãe emprestada recorda o silêncio, juntamente com a certeza de não pertencer ali. Sei de outras, de tempos idos. Em que famílias numerosas se desfaziam dos filhos para um tio ou para um qualquer outro, que desse o pão para a boca, em épocas de vacas magras. Aqui nem foi bem o caso. A mãe emprestada nasceu de ventre seco, e não era capaz de fazer gente. A irmã, alma de benfeitora, resolveu acudir e dar-lhe um bem precioso. E hoje?, pergunto. Nem me responde em clareza, hoje, que já tem duas mães e nenhum pai, que já morreram os dois. Hoje, quando o marido tem duas sogras, e os filhos um considerável número de avós. Tem as duas lá em casa, que às vezes, calha assim. A mãe emprestada, que é só dela, que é filha única, daquela mãe. A mãe verdadeira, que é dela e dos outros que pariu, que afinal de contas, pariu-a a ela também, e ela sente a obrigação na pele, coisa que nos olhos, nem se nota muito. Se há sensação que me perturba é a da impotência, e perante o cenário, cheguei lá bem perto. Gosto de ajudar a lidar com gentes. Gosto do desafio da procura, da descoberta da solução. Mas demasiada gente num problema, é isso mesmo. Demasiada gente num problema.
:)
Efectivei ontem a inscrição para a minha pós graduação. Faz parte de um caminho, ainda a meio, que percorro de forma calma, às vezes, calma de mais. Mas ainda que a passo lento, sigo na direcção que escolhi, e caminho. Sim, caminho que tenho medo negro da estagnação. Para muitos, isto pode nem ser nada. Para mim, é um motivo de orgulho, que tenho o direito de me orgulhar do que bem entender.
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Crescer
Cresces, pois claro que sim. Chego, numa ignorância ingénua, a achar que é só por fora. Como se nesta vida, os crescimentos não fossem lineares, ou quase, quase lá, que às vezes, em situações singulares, não acontece. Olho-te de perto, e nem sempre sei o que pensas. Com uma história encantada, daquelas de contos de fadas, vou-te ensinando o caminho, amparando-te as quedas que possam surgir. Apago daqui, acrescento dacolá, numa dedicação extrema de cuidado profundo. Que impele e auxilia ao mesmo tempo, num equilíbrio que tento e consigo, na maioria das vezes. Mas ainda me surpreendes, por ingenuidade a minha, que pareço não te ver crescer. A idade dos porquês deixa-te de mansinho e agora constatas, já sem perguntas. Subimos um patamar, e o cuidado que tenho em te proteger diminui, sob pena de ser descoberta e de me julgares enganadoura, desgraça terrível seria essa, que coisa que me perturba, é a desilusão e nunca quereria que a sentisses comigo. Encontro-me em busca. Do caminho a seguir nesta encruzilhada tamanha que me assalta o espírito e me deixa à deriva. Também, de resto, talvez nem seja precisa tamanha aflição, que já pouco precisas que te explique, dado que chegas por ti. Temo que a protecção dada tenha sido em excesso, que me encontro longe da perfeição, embora às vezes a queira muito. E que em momentos, tenhas apreendido nas minhas histórias de encantar, tudo quanto te quis esconder, ou melhor, não revelar, e já me julgues traidora da tua doce confiança.
Um dia, estarei cá para te explicar. Ou talvez nem seja preciso, se vieres a ser pai, com o mesmo amor com que sou mãe.
Um dia, estarei cá para te explicar. Ou talvez nem seja preciso, se vieres a ser pai, com o mesmo amor com que sou mãe.
Das multas
É tipo do Homem o contesto. O não deveria ser assim, o dizer que não, só porque manifesta opinião, muitas das vezes, sem grande fundamento. As multas por estadia em zonas perigosas? Parece-me a mim muito bem, apesar das opiniões contra. Exactamente a mesmíssima coisa, que as multas por falta de cinto de segurança. Uma punição necessária, porque ainda que em prol da saúde própria, muitos se esquecem de a cumprir, se a punição não existir. Se havia necessidade? Não, não havia, se a sinalização fosse cumprida. Não sendo, há sim Senhor. Nós, seres humanos, temos umas vicissitudes estranhas, que nos levam a necessitar, em alguns casos, muitos até, diria, de uma voz de controlo. Patético? É capaz. Mas real, muito real. Acredito que muito boa gente, a partir de agora, não se aproxime das ribanceiras sinalizadas, devido à multa, e não devido ao perigo que incorrem. E assim, se salvam vidas.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Palavras

A tal da palavra surge de novo. Poderosa, certeira a quem a souber usar, mas por demais dúbia para grandes crenças. Lembro-me com frequência da prima Lídia. Uma beata de gema, que batia a mão no peito, no acto da contrição. Que comungava aos Domingos e dias santos, com uma devoção de suserana, e que, se a falta surgisse ao serviço religioso, por um motivo de força maior, nunca, por nunca ser, voltaria a comungar sem primeiro se ajoelhar no confessionário do Padre António, a fim de ser perdoada de tamanho desdouro. A filha acendeu paixão por um pobre. Daqueles pelos quais ela rezava, que são gente, apregoa-se, e reza a bíblia. Mas gente para a filha, não era gente daquela. Gente para a filha, seria gente de outra, embora as gentes, diz-se serem iguais, com as tais das palavras, que se deveriam engolir e provocar azia, mas não, que são fáceis de digerir. Fossem elas como a morcela, que nos irrita o estômago, que nos acautelaríamos mais, que grande lacuna da natureza humana, temos aqui. Arrumam-se, clandestinas, aqui e acolá, logo após terem sido proferidas, manifestando bem alto, o fraco poder da nobreza do Homem. A tal da palavra, surge como uma vanglória. Um poder que se tem sem se ter, um dito que não se sente, uma promessa que não se cumpre. Frouxa como só ela, assume-se com delicadeza numa sociedade que a usa em prol de si, num uso abusivo e falso, quase me fazendo crer, que falsa não é a palavra, mas quem tão mau uso faz dela. O que me dizes, a nada me vale se nada fizeres. A ti, que por contrário me fazes, ainda que em silêncio, um grande bem haja.
quarta-feira, 23 de junho de 2010
São João

Era na noite de São João a festa, que como já viram, sou do povo desde que nasci. Agora, armo-me um pouco mais aos cucos, vou só de quando em vez. Mas as raízes, ainda que recalcadas, têm poder, as malvadas, e mal surge a música do Santo, António, João, ou outro que tal, o meu pé abana, ainda que discreto, mas em nada envergonhado, não pensem ser presunção. Não me socorro dela, nem dela gosto e com muito orgulho me assumo inteira. Nesta noite, que dependendo do dia da semana, a festa começava ou acabava, saltava-se a fogueira, coisa que iniciei a medo, por volta do dez, que antes a perna era curta e o medo era muito. Ainda me lembro da primeira vez que saltei, a par e passo com o meu primo Nuno, que não vejo há anos, por ter rumado para Itália. Era ele o meu par preferido, de danças, brincadeiras e conversas. Posso dizer que lhe tenho saudades, mas sei-o bem, e já me sinto feliz por isso. Cheguei nesta noite, a ir ver o sol nascer, na praia da Nazaré, e foi numa delas, que vi o mais lindo romper de aurora, da minha vida. Não na praia, que a noite foi demais longa, que nos levou ao atraso. Na Serra de Santo António, no meio das pedras, num céu meio nublado e numa altura enorme. Ficou-me para a vida, que nunca mais vi um nascer assim, parecia inundado de neve. Acompanhava-me do meu tio, e da minha amiga Mónica, também ela hoje distante, lá por terras de Angola. Se me fosse concedido o desejo de regressar e reviver meia dúzia de experiências, a Festa de São João, da velhinha Vila Moreira, seria uma delas sem dúvida. Pela festa, pela avó, pelo avô, pelo nascer do sol, e pela felicidade, plena e simples dos momentos.
Hoje não vou ao Porto. Com pena, claro, que sou do povo.
terça-feira, 22 de junho de 2010
Cansa-me, pronto

Cansa-me, muito mesmo, pessoas que dizem que os jogadores de bola não dão uma para a caixa quando discursam. Que são incultos, trapalhões, como se por isso, pouco valessem. Quando ninguém aponta o dedo, ao Marcelo Rebelo de Sousa, por exemplo, que me ocorreu assim, do nada, porque ele não joga à bola.
Coisas da treta que me irritam, mas que se faça. Ninguém é polivalente, e eu hoje estou uma chata do pior e lembrei-me disto, a propósito duma conversa sobre a hipotética burrice do Cristiano Ronaldo. Nada a dizer, nem me interessa se é verdade ou mentira. Cada um nasce para o que nasce, e cultiva o que quer. Há até quem não cultive nada, vejam só. Ele ao menos marca golos. De costas ou de barriga, mas marca.
Mãe. Porque hoje e sempre, é sempre o dia...

Olho-te enquanto corres e enquanto ris. Transportas-me a outra dimensão de um mundo supremo, onde vivo tantas e tantas vezes, que é onde consigo entender quase tudo o que me cerca, que o tudo é muito, e decerto não chegarei lá. Os meus olhos sorriem também, para ti que me prolongas, e que saíste de mim numa rapidez alucinante, já sequioso de vida. Já antes fazias parte, mas foi quando te vi, que soube que era para sempre, porque o para sempre existe mesmo, embora haja quem diga que não. Tenho-te numa espécie de concha, onde entras e sais de acordo com as tuas necessidades, que fecha a pedido ou em caso supremo. Olhas-me e dizes-me algo, que me faz crer que a concha deveria ser composta por duas e não por uma, como se eu não soubesse. Perdoa-me meu amor, mas nada posso fazer senão lamentar essa amargura, e desdobrar-me um pouco mais, se possível isso for. Tento o mais que posso, com uma força que vai surgindo, às vezes já ténue de gasta, perante a necessidade. Poupa-me só as lágrimas dos teus olhos, que essas, são demais para eu suportar. Ou então não poupes que eu limpo, claro. E suporto. Com uma tristeza enorme, mas limpo, que mais faça, que sou mãe para sempre. Chora-las-ia por ti, num mundo perfeito. Por tamanhas que fossem doer-me-iam tão menos. E que tantas certezas tivesse eu de tudo.
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Vitória
Vi o jogo da selecção, vi sim senhor com um orgulho brutal que começou no Hino, que me faz arrepiar sempre que toca. É a força da Pátria, diria o meu biso, grande referência tenho nele. Grandes goleadas são boas de se ver, mas a mim, causam-me algum desconforto. Aquele da responsabilidade, que se aplica aqui e acolá. Já o senti algumas vezes em que fui grande, e daí esperaram que fosse para sempre. Incoerente como só eu, umas vezes sou enorme, para outras ninguém me ver.
Parece-me também aqui sensata, essa visão das coisas. Só para prevenir desilusões. Ainda assim, por ora, reina a vitória. Ora então que se cante a dita, que bem mercemos. Qual mão cheia, qual meia dúzia. Sete é o Número do Dia.
Parece-me também aqui sensata, essa visão das coisas. Só para prevenir desilusões. Ainda assim, por ora, reina a vitória. Ora então que se cante a dita, que bem mercemos. Qual mão cheia, qual meia dúzia. Sete é o Número do Dia.
domingo, 20 de junho de 2010
BuddhaEDEN



Os Domingos nem sempre me dão proveito. Entre os que alterno entra o sofá e a mesa, e os que preencho com coisas que não interessam nem ao menino jesus, eis que de vez em quando, lá aparece um digno de nome. Lembro-me de em adolescente, não saber o que fazer aos Domingos. Não havia escola, manhãs também não, que o tempo era escasso para dormir. Há tarde, entre um café e um cigarro discutia-se o que fazer, que na maioria das vezes chegava a ser nada, para além dos dois dedos de conversa, da esplanada e do croissant recheado de chocolate, ou da tosta mista ( mosta tista, para a malta do grupo). Hoje, e após visualizar um vídeo sobre o Jardim, BuddhaEden, em execução pela ordem e fortuna de José Berardo, e depois de convencer o rebento que não me apetecia ir ao jardim zoológico, que farta de bichos ando eu, lá fui impelida por sua eminência, a rumar até lá. Boa hora o fiz, que isto às vezes, ir atrás de ideias de gente pequena, que só está bem na aventura, dá-nos ganhos, oh lá se dá. O jardim, situado na Quinta dos Loridos, bem pertinho da Vila de Óbidos, leva-nos numa interessante viagem ao Oriente, por entre estátuas de Mármore e Budhas dourados de tamanho gigantesco, tudo, devidamente guardado por leões, e por um conjunto de soldados pintados à mão, com um pormenor incrível. Bem no meio, um lago gigantesco, cercado de relva, onde tinha ficado toda a tarde a meditar, não fosse a energia do pequeno, por demais rebuscada, para tamanha proeza.
Ainda em construção, mas já vale a pena ver. Prometi a mim mesma, que lá voltarei sozinha, para a tal da meditação, pois bem mereço (Ou quem sabe levo o frasco da Nutella, só naquela da companhia).
Não sei se já vos disse, que tenho uma adoração por Buddhas. Se calhar, é pela descontracção com que exibem a barriga. Não sei bem, mas poderá ser...
A cobra e as horas
Ontem mataram uma cobra na minha beira. Não me parecendo bicho dócil, não lhes desejo o extermínio, que fazem falta à fauna da terra, e são ser vivo, ainda que rastejante, coisa que repugna, em todos os sentidos. Juntaram-se almas sedentas de lhe dar cabo da vida, como se a dita, que apenas se rastejava e nada mais, lhes perturbasse o espírito, quando apenas se encontrava de passagem, e já em fuga. Alguém a prende, enquanto outro alguém lhe dá cabo da saúde com uma sede de sangue de meter dó. Juntaram-se dois dós na minha existência. O dó do bicho, que passou no sítio errado, na hora errada, terrível destino lhe foi guardado por isso. E o dó de quem assim anseia exterminar a pobre, como se o assunto fosse de vida ou de morte. Até quem inicialmente parecia indiferente, se uniu naquela caçada feroz, sem móbil aparente, que ninguém ia come-la, ou cobiçar-lhe a pele para uma qualquer mala ou sapato. O poder da vontade junta é uma coisa ignóbil, que monopoliza indiferenças, e canaliza-las em prol do cerne em questão. Aumenta, quando a causa não é nobre, o que me deixa angustiada. Parecia que naquele momento, nada mais havia a fazer, que aquilo mesmo. E fez-se, claro. Eu virei costas, que de imediato percebi, que nada conseguiria fazer contra um povo enraivecido. Fiquei a olha-los com desdém, ao longe. Perderam a minha consideração, coisa que nem lhes interessa nada, mas enfim. Na nossa vida também é assim. Existem locais errados e horas erradas. Resta-nos a capacidade de ardilar a fuga, com engenho, um tanto ou quanto superior aos dos animais, às vezes claro. A hora errada é uma coisa terrível.
sábado, 19 de junho de 2010
Mestre
No baile da paróquia, quase que desfaleci de tanta dança. De vestido às bolas, que já vos disse que me rejuvenesce, e de sandália de meio metro, consegui o objectivo de não cair para o lado antes do fim da festa. Esta coisa de partilhar experiências de arraial com moças e moços de outrora tem os seus quês de científico. O braço da dança é o direito, mas não se estica, fica situado entre os dois pares, firme e hirto. O passo é certo e ritmado, e nada de grandes abanicos ou toques pretenciosos. À volta, come-se sardinha, mira-se o ambiente, passa-se uma tarde de baile. Fico sempre com a sensação, ao ver as outras mulheres de trinta, que trazem o marido pelo braço, ou que o deixaram em casa ou no café da aldeia, que estes momentos de pequena festa são o apogeu dos seus dias. Venho-me embora e não posso com os pés. Pego num livro de Saramago, e antes, vim até aqui escrevinhar qualquer coisa. Se calhar, deveria ter feito o inverso, que os Mestres, sempre nos ensinam algo, mesmo depois da partida. Faço tudo ao contrário na minha vida. Um dia ainda acerto.
Apre!!!
Tenho algumas dificuldades de adaptação. Digo isto não porque não me adapte às coisas, situações e dia a dia, que nessa matéria sou um ás. A minha dificuldade mor é a adaptação às pessoas e às necessidades constantes de justificações. Ganho sensações estranhas, quando me olham com ar de inquisição, como se justificações tivesse que dar. Como se tivesse de explicar o porquê disto e daquilo, que apenas a mim diz respeito, mas que parece perturbar o mundo e arredores. Engraçado, que até parece causar confusão em mentes alheias, não só a minha liberdade de escolha e decisão, como a liberdade que dou a quem me cerca, coisa que ainda mais me causa enfado. Eu sou do pós 25 de Abril. Nasci logo de seguida, e apanhei o espírito no auge, que se faça? Eu percebo meus caros, eu percebo que não é assim às primeiras que se consegue um espírito livre. Acreditem que me deveriam invejar. Poupavam tanta dorzinha de cabeça, e andariam tão mais para a frente com a vossa vidinha da m....
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Esplanadar
Um sítio para ficar
Olho-te sentado e de cabeça baixa, como se em algo pensasse, tu que foges aos pensamentos, só para não teres de os sentir. Não critico, claro que não, que às vezes, também faço o mesmo, embora a tua facilidade seja muito superior à minha. Nestas coisas do interior, cada um governa como pode e bem entende. Eu, por cá me alterno. Há vezes, em que me escuso com uma mestria tremenda, o que é raro. Noutras, a maioria portanto, o que me apetece é sentir tudo até ao infinito. Em processos terapêuticos, esses sentimentos de que se foge, são a chave da solução. Dói como um raio trazer ao de cima. É muito mais fácil a cobardia da ignorância ou da busca dela, como se o mundo pudesse girar assim, à nossa margem. Leva-nos muito mais longe a consciência. A somatização se necessário. Só consciencializando, o que quer que seja, podemos encontrar o encaixe e prosseguir. E prosseguir é sempre o caminho, embora haja por aí quem escolha o outro, ou seja, não escolhe caminho nenhum. Escolhe um sitio para ficar.
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Tempos
Entre mesinhas e aconchegos, a noite já foi. Bem lá no meio, o som que me embala soa, e o meu sossego acentua-se, que bem precisava. Ainda assim, o sono foi meio ao de leve. A vida em caixotes acentua a partilha de existências, como se de um uno se tratasse. Necessito, só porque sim, de saber quando o vizinho de cima toma banho, quando chega o do lado, e quando acorda a neta da de baixo, que de quanto em vez, lá pernoita, sempre com a minha benção, claro. Nesses dias, a avó fica até tarde, e costura à máquina de forma metódica e tranquila. Embala-me esse som, que me reporta a tempos de outrora. Gosto sempre de me reportar, mas quando alguma preocupação me assalta o espírito, ainda gosto mais. Fico com a sensação de regresso, para aqueles tempos em que as minhas preocupações eram a escola, o recreio, o baloiço e a bicicleta.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Ufa...
Há dias de um..., enfim, não vou escrever, que pode soar mal. O estaminé está no auge da loucura. Festa à vista, pessoal de férias, outras tantas ajuntaram-se e ficaram doentes. Não uma de cada vez, que isso não teria a mesma graça. Já ouviram aquela canção do Todos juntos? Pronto, é mais ou menos isso. Quem me auxilia, em termos mais técnicos, achou por bem deixar o cérebro em casa. Eu também acho bem, acho sim senhor, se está lá a perfeição do meu, para quê outro? Deixai-o em casa, que é lá é que ele está bem, e neste mundo de hoje em dia, temos de poupar o corpinho, senão chega-se aos trinta e fica-se assim como eu. Já de tardinha, e após conversa telefónica com o pediatra do rebento, descobre-se que o dito está no Hospital, logo, se lhe quiser por a vista em cima, há que me enfiar num contentor pré fabricado, de ar insuportável, e com cheiro a transpiração que não se pode, durante umas boas horitas, até ouvir o desejado som da chamada. Lá vou, que a malvada da virose ronda o cerco e é chata, o que junto com um rebento também ele chato, formam um duo insuperável. Entro no bendito do contentor, e quase que cresço. Ninguém, para além de uma ciganita dos seus vinte e poucos anos, com um filho ao colo, outro ao lado, e mais um na barriga. Isto de fazer filhos deve ser giro, e eu não sabia, só isso justifica, tamanho andamento. Num ápice, sou chamada para a triagem, ao que me é dito, que o DR foi à maternidade. Vou ter de esperar, e é se quero. Eu quis. Volto ao antro da cachopada, e começa o meu delírio. O pai cigano, ouve música cigana em versão mixada num telemóvel de última geração, com volume máximo, enquanto o mesmo carrega numa tomada disponível no contentor ( esta surpreendeu-me). Eu até gosto de música cigana, daquela cantada com alma, se estiver para ai virada. A meio da tarde, de uma virose, e de um dia de cão, estive na eminência de expulsar o cigano e a sua prol, que ainda por cima estava para ficar. Valeu-me o DR, que desceu depressa, e me observou o rapaz, que nos entretantos, logo após saída, me cravou uma parga de saquetas de cromos do Mundial, dos quais mais de metade eram repetidos. Os que não eram já colamos, e sinto-me culta como um raio, nesta matéria futebolística.
Agora, reina o sossego. Ainda tenho aquela música meio no ouvido, mas isto há-de passar.
Agora, reina o sossego. Ainda tenho aquela música meio no ouvido, mas isto há-de passar.
Bolinhas
A nódoa negra, não desapareceu, logo não é nódoa negra nenhuma. São sinais do tempo, como eu já temia. Para disfarçar, vesti uma túnica azul às bolinhas brancas. As roupas com bolas lembram-me sempre meninas, ou então senhoras que fazem limpeza. Não é bem a mesma coisa, mas que se faça, vou alternando. Hoje ninguém me dá mais de 20 anos. Dantes, dava tudo por me acharem mais velha do que aquilo que realmente era, coisa que de resto, até acontecia amiúde. E duvidava seriamente, de quem me dissesse que isso passava. A inocência é uma coisa fantástica.
terça-feira, 15 de junho de 2010
Forças
Lembro-me daquela paixão que tinhas por futebol, pelo Sporting e por mim. Mantens todas, é o que dizes, e é o que sinto, com pena minha. As paixões devem manter-se se nos derem motivos para isso, se não, o melhor, é substitui-las, por uma qualquer outra, que pode nem ser melhor nem pior, mas que será diferente, facto suficiente por si só. Sei que por esta hora vibras com o nosso Portugal como ninguém, e eu, ao olhar de relance, num patriotismo real, mas discreto, lembro-me de ti e da tua desgraça. Pode soar a forte e a drama a palavra desgraça, mas eu por cá, utilizo-a quando me apetece, e quando acho que o caso não é para menos. Não me perturbam palavras fortes, mas pode chegar a perturbar-me a ausência delas, quando são devidas. A tua desgraça é uma desgraça estranha, que emana, exala de ti com um poder tremendo, contra o qual nada podes, que de resto, na tua beira, tudo parece forte, por fraco que seja. Como se a carga fosse tal, que te transpirasse dos poros. Não gosto destas desgraças que se ostentam a si mesmas. Sou orgulhosa, eu sei.
Na minha existência, escolhi um caminho, onde me meto a pedido, aqui e acolá. Onde oriento, onde ajudo, onde encaminho, ou tento fazer isso tudo. Deve ter sido algo divino que me empurrou para aqui, a bem da consciencialização das minhas reais limitações, não fosse eu julgar-me poderosa, em algum momento da minha existência. Tamanha soberba seria a minha. Nesta vida malvada, podemos muito e antagónicamente não podemos nada. Podemos às vezes ao longe, o que não podemos ao perto. E o pior, é que não podemos mesmo.
Na minha existência, escolhi um caminho, onde me meto a pedido, aqui e acolá. Onde oriento, onde ajudo, onde encaminho, ou tento fazer isso tudo. Deve ter sido algo divino que me empurrou para aqui, a bem da consciencialização das minhas reais limitações, não fosse eu julgar-me poderosa, em algum momento da minha existência. Tamanha soberba seria a minha. Nesta vida malvada, podemos muito e antagónicamente não podemos nada. Podemos às vezes ao longe, o que não podemos ao perto. E o pior, é que não podemos mesmo.
Coisas da idade
Tenho uma mancha negra na perna esquerda. Intercalo entre se foi um pontapé, rescaldo do arraial, se uma qualquer veia que resolveu sobressair na minha bela perna, que isto no pós trinta, tudo pode acontecer. Desde ontem que a miro insistentemente, a ver se diminui, coisa que ainda não aconteceu, e que me deixa deveras preocupada. Acabo agora mesmo, de retirar um cabelo preso na alça do vestido, coisa frequente nos últimos tempos. O que provavelmente significa, que os que até agora eu pintava, e ralhava por serem alvos, ficaram fartos de me ouvir, e resolveram migrar daqui para fora. Isto nesta vida, é preciso ter muito cuidado com as coisas com as quais mandamos vir, que elas podem ofender-se, e bater em retirada. Entretanto, ao espelho, descubro que as sardas, às quais eu até acho alguma piada, quando moderadas, estão em multiplicação assanhada no meu nariz. Deus disse, crescei e multiplicaivos, mas tenho para mim, que não era preciso tanto. E ainda nem sequer apanhei sol, logo, daqui a um mês não sei bem como vou estar. No meu dedo mindinho, tenho um calo que ganhei ontem, com o meu novo sapato branco, lindo de morrer, mas que me fustiga os dedos até à exaustão. Já quase o exterminei no banho, mas o malvado ainda salta aqui de uma tira da sandália, como que a querer dizer-me, pensas que mandas, mas quem manda sou eu, e o pior é que manda mesmo, que ainda por cima, dói-me que se farta.
Vou-me rindo, claro, desta trampa toda, eu que até gosto de rir, aliado ao facto de ainda não vislumbrar rugas neste trombil, mesmo quando sorrio. Vá de aproveitar, que com o andamento que isto leva, breve, mal arreganhe a tacha, fico com pés de galinha infernais na volta dos olhos, e com rugas de expressão na volta da minha linda boca, e outras coisas assim, tão tamanhamente poderosas, que mais vou parecer um bulldog. Não sei o que vai ser de mim nesse dia. Mas sei que se estiverem perto, é melhor deixarem de estar. Posso ficar perigosa, ou algo do género.
Vou-me rindo, claro, desta trampa toda, eu que até gosto de rir, aliado ao facto de ainda não vislumbrar rugas neste trombil, mesmo quando sorrio. Vá de aproveitar, que com o andamento que isto leva, breve, mal arreganhe a tacha, fico com pés de galinha infernais na volta dos olhos, e com rugas de expressão na volta da minha linda boca, e outras coisas assim, tão tamanhamente poderosas, que mais vou parecer um bulldog. Não sei o que vai ser de mim nesse dia. Mas sei que se estiverem perto, é melhor deixarem de estar. Posso ficar perigosa, ou algo do género.
segunda-feira, 14 de junho de 2010
Imperfeições
Tenho uma tartaruga de madeira que comprei no Algarve em tempos. A um daqueles Senhores que vende na praia, animais de madeira, tapetes Marroquinos, túnicas, colares e assim. A bicha nem tem lá grande piada. É pequena, mirrada e torta. É de uma imperfeição tão graciosa, que me faz acreditar que podemos admirar imperfeições com uma grandiosidade tamanha. A minha tartaruga guarda uma boa parte dos meus livros. Está lá, à frente deles, e sempre que quero um, ou arrumo outro, necessito de tirá-la, para depois a voltar a guardar. Deve ser por isso que a adoro tanto, junto-a a algo de bom. Tenho para mim, que se ela estivesse num outro sítio, o amor que lhe tenho, não era o mesmo. O segredo de amar imperfeições deve ser esse. Entre outros, claro.
Cohibas

Acabo de me entupir de gelado de oreo. Agora, olho languidamente para a caixa de Cohibas Espléndidos que trouxe de Cuba, há já largos anos, como se eu gostasse muito daquilo. Já me deram a receita para os ressuscitar, que segundo um entendido, estão secos. Primeiro, é preciso ver se têm bicho. Muito a medo, lá abri a caixa, num início de processo que ficou por isso mesmo, e nada me saltou em cima, valha-nos isso, que seria dramático o suficiente, para me retirar o fôlego largos minutos. Necessito posteriormente de os envolver num pano húmido, durante um tempo, que não sei bem quanto será. Não sei se o pano húmido toca directamente o charuto, se é necessária alguma precaução. Já não me lembro bem se é para guardar no frigorífico, ou se não é preciso. Conclusão, não aprendi a lição, que as lições dadas por lindos olhos, sempre me fugiram, já em tempos de faculdade assim era. Se calhar o melhor, seria pegar no entendido, e rumar até lá. Comprar uma caixa novinha em folha, e fumar um, bem defronte ao mar de Varadero, ou no muro de Havana. Se sabem bem? Não, não sabem. Mas fumar um charuto em Cuba, tem qualquer coisa de mítico.
Rezas e manjericos
Andei de metro, coisa que não fazia há muito. Jantei no meio da multidão, cheia de cabeças verdes, julgo que para fazer lembrar um manjerico. Dancei com a velha que os vendia, que tinha um cabelo branquinho, não tinha dentes, e fartou-se de rir para mim. Estive quase a comprar-lhe um, mas a carga para o resto da noite, tirou-me a coragem. Numa de menina malandra, ainda pus o nariz num, escondida, sem ninguém ver. Não sei se faleceu nos entretantos, se ainda se mantém, vou ficar na curiosidade eterna, que bem mereço. Ainda assim, levei com uma rosa ofertada por um digno Senhor, que ofereceu uma a cada Senhora da mesa, 10, ao todo. Um amor. O arraial foi por lá, entre calçadas, barraquinhas, e terminou num átrio de igreja, onde um conjunto de nome Nelson e Nelson, tocava dentro de uma carrinha de caixa aberta, onde havia para além dos Nelsons um Manel, com jogos de luzes, fumos e tudo, uma coisa muito moderna, sim Senhor. Dançou-se muito, comeu-se qualquer coisa, bebeu-se pouco, por mim falando, claro, que a maioria, fez exactamente ao contrário. Quanto às rezas, são por demais secretas, não posso partilhar.
No final, trouxe essencialmente a sensação, sempre reforçada, de que amo Lisboa. O bairrismo e o cheiro. Os sítios e as escadinhas.
A pernoita foi na casa da mana, onde um digno gato não me deu sossego, o malvado. Nunca vi tal coisa, que ronrona e morde ao mesmo tempo. Inédito, e muito condizente com a bicharada que ocupa a família.
Pela negativa, a sabrina que fui quase obrigada a calçar, pelo mulherio empolgado em salvar as minhas pernas e pés, que não iam aguentar, que iam ficar presos na calçada, que iam isto, que iam aquilo. Eu, que levava bem escondidinho, um sapatito azul de salto médio e de verniz, lindo como só ele. Que não sei porquê, causou o pânico em quem me acompanhava, que só sossegou, quando a malvada da sabrina poisou no meu pé. Comprada naquele dia à pressa, e já pronta para ir para o lixo, que fiquei-lhe com ânsias, vá lá saber-se porquê.
No final, trouxe essencialmente a sensação, sempre reforçada, de que amo Lisboa. O bairrismo e o cheiro. Os sítios e as escadinhas.
A pernoita foi na casa da mana, onde um digno gato não me deu sossego, o malvado. Nunca vi tal coisa, que ronrona e morde ao mesmo tempo. Inédito, e muito condizente com a bicharada que ocupa a família.
Pela negativa, a sabrina que fui quase obrigada a calçar, pelo mulherio empolgado em salvar as minhas pernas e pés, que não iam aguentar, que iam ficar presos na calçada, que iam isto, que iam aquilo. Eu, que levava bem escondidinho, um sapatito azul de salto médio e de verniz, lindo como só ele. Que não sei porquê, causou o pânico em quem me acompanhava, que só sossegou, quando a malvada da sabrina poisou no meu pé. Comprada naquele dia à pressa, e já pronta para ir para o lixo, que fiquei-lhe com ânsias, vá lá saber-se porquê.
domingo, 13 de junho de 2010
Nobrezas
Em dia de enfado, vou ao Pingo Doce. Lá dentro, um corropio. Uma miúda rabujenta, alterna choraminguices com cantigas, nomeadamente a canção da publicidade, que trauteia com uma voz esganiçada, enquanto a mãe a manda calar, ao que ela desobedece, claro, percebi logo que o ia fazer. As funcionárias de bata branca e avental verde, espalham-se por entre os corredores, com cargas de mercadoria, para arrumar naquelas prateleiras onde tudo se avia, com uma sede estranha, em tempos de crise. Na fila da peixaria, vejo a minha ex sogra, igual a ela mesma. Uma das desvantagens das cidades pequenas, é termos de ver toda a gente em todo o lado, gente essa, que de esguelha, nos mira a silhueta, e as compras que temos no carro. Um horror. Costumo deixar a fruta para o fim, e depois de pegar num cacho de bananas e numa caixa de cerejas, saio, mesmo antes de me saltar para as mãos, um petit gateau, uma séria perturbação que me cerca, logo a seguir à nutella. Já na saída, encontro o moço loiro, que já ronda ali há anos, proveniente de algum País de Leste. Fuma cigarro atrás de cigarro, e quer que eu lhe dê uma esmola. Há esmolas que me recuso a dar, correndo o risco de ser injusta, eu sei. Bem pela tardinha, no metro de Lisboa, encontro o cego que não via há anos. Toca um qualquer instrumento, já diferente do meu conhecido, e leva a caixa pendurada ao pescoço, onde se pode depositar o que se entender, perante a desgraça, e a arte que consegue ter. Sem olhos, apenas com o lugar deles, circula por entre as pessoas, com uma ligeireza de quem já sabe muito da arte de sobreviver, grande arte esta. Pedir esmola, é sempre um acto precário, tendo em conta a dignidade humana. Ainda assim, e mesmo na precaridade, pode ou não ter alguma nobreza.
sábado, 12 de junho de 2010
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Do Santo, das noivas e das minhas simpatias
As Noivas de Santo António são uma tradição da nossa querida Lisboa. Gosto do Santo, gosto sim senhor, e já quase que o pus de cabeça para baixo dentro do roupeiro, em dias de desespero, que felizmente não abundam. De resto, nem sei bem se desempenha funções em segundas núpcias, mas como hoje é tudo muito moderno, quem sabe. Gosto muito do carácter altruísta da Câmara Lisboeta, se é que isso existe nas Câmaras, de ajudar quem precisa e quer muito dar o nó, porque está muito in love, e porque é um dia muito lindo e por isto e por aquilo, mas confesso que o espectáculo em directo não me cai nada bem. Lembra-me sempre um programa que deu em tempos, de nome cenas de um casamento, apresentado por um Senhor que não me lembro o nome, e no qual apareciam pessoas a contar a história de amor, os noivos felizes e babados, e os pais a dizerem coisas como Olá, eu sou o pai da noiva. Sou esquisita, eu sei que sim, que havia muito boa gente a vibrar com essas histórias de amor vividas por este país fora. Mas eu sou do contra, já sabem, e como tal, gosto de me governar só com as minhas, que já me chegam muito bem. Às vezes, não muitas, mas algumas, até essas dispensava, vejam só.
Ossos do ofício
Sob ossos do ofício, sou obrigada a partilhar mesa de almoço com quatro homens engravatados. Empresários, porte altivo, até fiquei com a sensação que teriam conversa interessante. Enganei-me redondamente, e mereci o engano. Chego a julgar encontrar, algum nível de discurso, a quem tem carreira brilhante e se apresenta com cuidado, como se isso tivesse a ver. Nada mais errado. Mesmo em frente a uma Senhora, quase desconhecida, a conversa saiu frívola, sem qualquer ponta de interesse. Podiam ter-se esforçado qualquer coisita, e terem, por exemplo, eliminado do discurso aqueles chavões tipicamente masculinos, bons de dizer em sede própria, completamente despropositados na ocasião errada. Valeu-me uma pobre alma, que nestas coisas tenho alguma sorte, tal como nos estacionamentos, que surgiu a despropósito, e me livrou do martírio, já no pós café, que se adivinhava por demais longo para o meu gosto, dado que um dos ditos, até era licenciado em Psicologia, e mandava uns bitaites para o ar, a ver o que eu dizia. Eu, claro, pouco falava, perante tal cenário patético, o que ao invés de o acalmar, parecia que o atiçava. Um pesadelo.
Menina CF, toma lá que é para aprenderes, que estavas mesmo a precisar. Já andavas assim meio esquecida, das conversas supremas que tiveste em tempos, com o mendigo que subia e descia o eléctrico da Graça, roto e sujo como não há. Agora lembra-te.
Menina CF, toma lá que é para aprenderes, que estavas mesmo a precisar. Já andavas assim meio esquecida, das conversas supremas que tiveste em tempos, com o mendigo que subia e descia o eléctrico da Graça, roto e sujo como não há. Agora lembra-te.
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Dias
Em dias de ócio, encontro sempre em casa com que me entreter. Quanto mais não seja, a livrar-me disto e daquilo que por qualquer razão já não me trás proveito. Sempre pensei, ao longo do tempo, que as pessoas fossem coerentes. As casas que conheço, atafulhadas de coisas até ao tutano, são por norma de gente que acumula pertences, pessoas e sintomas, quer eles façam bem quer eles façam mal. A minha tia, por exemplo, guardava na sua pequena casa, frascos de mokambo vazios e latas de coqui, como se de uma relíquia se tratassem. Como guardava o marido, um rezingão velho e coxo, capaz de a fazer infeliz, mas era dela, e ela guardou-o para todo o sempre. Irritava-me isto, causava-me comichões e outros incómodos esquisitos. Eu, sempre fui da libertação de espaços. Não me dou bem com atafulhos e é mais fácil deitar fora coisas que um dia me faltem, do que guardar até ao infinito vestidos e vestidinhos, cacos e caquinhos, tudo tropeço, para o meu rico espaço. Isto tudo por fora, e por dentro também era costume. Algo aconteceu, ou perdi a coerência. Isto passa, ou então a tal da coerência, que eu tanto estudei nem é coisa que exista, poderá ser esse o caso. Temo ainda a mudança. A assim ser, breve, encontrar-me-ei a habitar uma casa tremendamente cheia de tudo, desde roupas a outros objectos, que me invadirão por fora, tal qual agora, me sinto invadida por dentro.
Das três irmãs
Lembro-me dela de tempos de escola. Um ar um tanto ou quanto altivo, costumava apanhar o cabelo, pintar os lábios de vermelho, e vestir vestidos floridos, cheios de feminilidade. Fumava uns cigarros brancos, e ria quase sempre. Perdia de vista uns anos, que a Capital a ela, acertou-lhe em cheio, como a invejo por isso. Vejo-a por ora ao acaso, num acompanhamento de perto à saúde frágil do pai. A pose já não é bem igual, que os trinta têm destas coisas, mas mantém alguns traços chave, que a perseguirão decerto vida fora, que quem nasce com charme, tem charme para sempre. Fascina-me este traço, pela sua evolução constante, muito mais coerente e sensato do que a beleza, totalmente efémera e passageira. Olha-me e quase que chora. Há bem pouco, perdeu a mãe, vitima também ela da doença da moda, que a fez definhar na amargura, terminando os dias no IPO de Lisboa, não sem antes passar por Santas Marias, Capuchos e outros assim, que tão bem conheço, por vicissitudes tamanhas. Agora, é o pai que incursa o caminho do terrível câncer, que se acomodou da sua cabeça sem dó nem piedade. Podia ao menos ser benigno, diz-me, mas não. Tinha de ser maligno. Estamos quase sozinhas as três. Vira costas e segue caminho, já a sorrir, e de passo certo.
Frequentemente, olho gente que esbanja alegria, ou que parece esbanjar. Que se camufla numa pele de conforto, quando por dentro, sente dor. De todas as capacidades humanas, esta, para além das outras óbvias, claro, é uma das que admiro.
Frequentemente, olho gente que esbanja alegria, ou que parece esbanjar. Que se camufla numa pele de conforto, quando por dentro, sente dor. De todas as capacidades humanas, esta, para além das outras óbvias, claro, é uma das que admiro.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Momentos

Paro nas bombas, já com pressa, dado o meu carro não andar a água, pena minha, que já teria ido ao fim do mundo, montada nele. Espero uns minutos, pois o moço encontra-se em conversa com uma menina, de calção de ganga e camisa roçada. Ainda está na idade em que o frio não a atinge, vê-se logo, que o tempo, esse ingrato, não está para brincadeiras. Eu também já fui assim, que já vesti calção em pleno inverno, só para mostrar a magra perna ao meu ex marido, namorado da época, como se ele nunca a tivesse visto, enfim. Talvez por isso, por já ter sido, e já não ser mais, estas meninas de hoje me enervam. É a inveja, terrível pecado mortal a assolar-se de mim, que hoje, o melhor é por a perna na calça, ou quanto muito, vá lá, numa saia pelo joelho, para compor o ar, e disfarçar o rabiosque, faça chuva ou faça sol. O leve rubor na cara dos dois, leva-me a concluir do que se trata ali. Poderia até ter apitado e apressado o terno casal, e talvez até o tivesse feito num dia de TPM, que aqueles ares do too much love in praça pública às vezes complica-me. Mas hoje não. Esperei e mirei, qual voyeur de uma cena de amor. O beijo surge ao de leve no fim. O vermelho das faces intensifica-se, os olhares cruzam-se, ela afasta-se, e ele dirige-se para mim, a contragosto, claro.
São vinte euros, digo-lhe, com um sorriso, e com a vontade de lhe oferecer mais vinte pelo estado de espírito. Ou trinta, ou quarenta, ou...
Tempos...
Hoje, em conversa com a Professora do rebento, sobre avaliações, matrículas, férias e afins, ponho-me a pensar, que já vai para o segundo ano. Que já escreve, que já conta, que já lê, que já tem alguma autonomia, que já me dá pelo ombro, que já calça o 36 (o mesmo que eu), e por aí fora. Fico feliz, claro que sim, que nem poderia sentir outra coisa, senão felicidade por o ver crescer. Mas pela primeira vez, surge-me a sensação de que o tempo parece passar depressa, quase à minha revelia, sensação estranha, nada habitual em mim. Pudesse eu para-lo, ou sossega-lo, que o faria por vezes.
terça-feira, 8 de junho de 2010
Fugas
Chama-se Olívia e fugiu de casa. De casa, nem diria, ou pelo menos, não só dela. Foge de um marido, e gera a conversa na aldeia, claro. Deixa os filhos adolescentes na casa do pai, e corre atrás de um amor que lhe sorri, ou pelo menos lhe acena e lhe sacode o corpo. Não o amo há tanto tempo, diz, sobre o que deixa para trás. Olho-a nos olhos, e descubro um desespero angustiante, que emerge de uma figura em frangalho, por demais magra e definhada. O cabelo cobre-lhe o rosto, não sei se inadvertida, se propositadamente, que existem rostos, que o melhor é cobrir, tal o sofrimento que exalam. Chega-se aos limites. O marido sai diariamente para beber. Ela governa a casa, com um salário parco que estica até à exaustão, magias fazem-se por lá. Ele faz compras, entre as quais uma porcaria de um combinado que em nada fazia falta, mas para o qual ela tinha de dispor de cinquenta euros mensais para pagar, porque ele assim entendeu. Os filhos, vêm que tem a cabeça aérea, e que passa horas ao telefone. Às vezes estão do lado dela, outras nem por isso, porque o pai é o grande sustento, e é ele quem lhes dá as roupas, e lhes carrega o telemóvel.
Mantenho-me na minha postura, já habitual de ouvinte, e pouco aconselho. Em conjunto, tento analisar com ela este eu em amargura, se é que ainda existe algum eu, de tanto enxovalho, que nestas coisas chego a julgar que se esvaiu, ou quem sabe, se escondeu.
Oiço comentários em redor. A fugitiva, abalou, deixou os filhos. Passo ao lado, que eu sou assim, gosto de passar à margem, de vidas que não são minhas. Se concordo ou não nem importa, que não me cabe julgar. Sinto apenas que se fosse o Homem a abandonar, a coisa seria mais ligeira. Abandónica, é palavra de mãe.
Mantenho-me na minha postura, já habitual de ouvinte, e pouco aconselho. Em conjunto, tento analisar com ela este eu em amargura, se é que ainda existe algum eu, de tanto enxovalho, que nestas coisas chego a julgar que se esvaiu, ou quem sabe, se escondeu.
Oiço comentários em redor. A fugitiva, abalou, deixou os filhos. Passo ao lado, que eu sou assim, gosto de passar à margem, de vidas que não são minhas. Se concordo ou não nem importa, que não me cabe julgar. Sinto apenas que se fosse o Homem a abandonar, a coisa seria mais ligeira. Abandónica, é palavra de mãe.
Ameixas

Num vaso bem defronte a mim, nasce uma miscelânea de flores coloridas, em vários tons, numa construção bem conseguida, do jardineiro que me arranja o jardim. Gosto desta variedade, já a fiz com cactos, e recorda-me ainda, a ameixeira do quintal dos meus avós. Uma árvore gigantesca, enxertada com uma outra qualidade de ameixa, numa experiência caseira mas sapiente, de um agricultor de tempos livres, que tinha a curtição de curtumes como profissão. Da mesma árvore nasciam então ameixas vermelhas e amarelas, sendo que as minhas favoritas eram as vermelhas, de um vermelho cor de cereja, por dentro e por fora. Gosto de bancas de fruta, como gosto de bancas de especiarias, como gosto de bancas de conchas. Gosto de as levar para casa, de as dispor, de as olhar, e de as cheirar. Nas bancas de frutas, destaco a ameixa, a nêspera, o ananás, os morangos. Quando me perco, em alguma praça de cheiro adocicado, e cheia de velhinhas de lenço na cabeça, e sorriso nos lábios, enquanto cortam caldo verde, ou arrumam a maçã, os meus olhos procuram a tal da ameixa, rara como só ela. Vejo a amarela, a vermelha por fora e amarela por dentro. A vermelha por dentro e por fora, encontro de longe a longe, e nunca, tão doces como as do quintal, nos entretantos vendido, e no qual nunca mais entrei. Serão estas?, pergunta-me a Luciana da Praça. Não são minha querida, parecem, respondo eu. Nas frutas, na vida, nas pessoas, e assim, o embrulho é de uma delicadeza danada. Comia uma agora já. Das vermelhas, por fora e por dentro, claro.
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Indumentárias assim
Consigo nos dias de hoje encontrar gente de bata por aí, como se em casa tudo estivesse, logo eu, que julgo qua há coisas, que nem em casa se vestem. Bata lisa, atada na cintura, bata de flor. Avental bordado, ou meio avental com picot, também serve à minha história. Sou do povo, já captaram. Por vezes calcorreio feiras, mercados, e sítios onde vendem coelhos, galinhas e pintos. Onde a malta das aldeias vizinhas, de desloca com meia dúzia de euros na carteira, levada invariavelmente debaixo do braço, e faz o avio necessário ao estômago e ao corpo. Já por várias vezes, vejo as ditas penduradas nas bancas, batidas pelo sol e o vento, sendo que me fascinam especialmente as de cor azul, cravejadas de flores, talvez por me lembrarem as que vestia a minha avó. A minha avó era uma Mulher de bata. Uma delas, que a outra, a que já me deixou, não se deixava envolver por estas fatiotas, por demais quentes. Preferia uns calções, e uma qualquer camisola fresca. A avó Carmina, por sua vez, é a Rainha das batas. Ainda hoje, aos oitenta e muitos, se envolve nelas, todos os dias, e é com ela no corpo, que vai lavar a cabeça na Dona Rosa, invariavelmente à quinta, e diariamente à loja da tia Alice, a merceeira da aldeia, que me dava em tempos beijinhos doces. Também ela, a tia Alice, é adepta da bata.
Hoje, arranjam-me o jardim, e vejo pela janela, duas Senhoras na casa dos sessenta, de bata às flores, e boné na cabeça. Uma, mais nova, bem mais nova, copia-lhes o hábito e também enverga a dita. Há coisas eternas, e a bata deve ser uma delas, que só isso justifica, adornarem assim, moças casadoiras. Eu, por cá, vejo-as ao longe. Recuso ainda o avental. Não cozinho de salto alto e calça vincada, só se não calhar. Manias diz a minha mãe, que tem razão, claro. Um dia enfio-me numa da minha avó, a ver o que sinto. A moçoila que me ronda a janela, até tem um ar tão confortável.
Hoje, arranjam-me o jardim, e vejo pela janela, duas Senhoras na casa dos sessenta, de bata às flores, e boné na cabeça. Uma, mais nova, bem mais nova, copia-lhes o hábito e também enverga a dita. Há coisas eternas, e a bata deve ser uma delas, que só isso justifica, adornarem assim, moças casadoiras. Eu, por cá, vejo-as ao longe. Recuso ainda o avental. Não cozinho de salto alto e calça vincada, só se não calhar. Manias diz a minha mãe, que tem razão, claro. Um dia enfio-me numa da minha avó, a ver o que sinto. A moçoila que me ronda a janela, até tem um ar tão confortável.
domingo, 6 de junho de 2010
Feiras
As feiras são sempre um estranho aglomerado de gentes. As que misturam gente com bicharada, tornam-se um aglomerado ainda maior e sem sentido, com um monte de animais desconformes dentro de cercas, e pessoas que os olham com ar de superioridade intelectual, coisa que às vezes, nem é bem verdade. À feira vai de tudo um pouco. A mulher loira e tia, magrérrima e com o filho pela mão, a quem trata, invariavelmente por você. A velha e o velho que mais não têm que os distraia ao Domingo de tarde, senão a feira, a tal da bicharada, e as farturas a tresandar a óleo queimado. O casal jovem de mão dada, que se deambula, como se naquela idade, não houvesse nada de maior interesse para fazer, tive pena destes, claro. A mistura de gentes causa-me algum fascínio. Lembro-me de uma vez, num apogeu popular, assistir nesta mesma feira, a um concerto do Toni Carreira, um must. Nunca tinha assistido ao vivo, ao fenómeno dos cartazes, com dizeres fantásticos, como beija-me na boca, ou casa comigo, numa mistura fascinante de Mulheres, Homens, gente nova, gente velha, e todo o tipo de gente. Fiquei ao longe na relva, o meu filho corria que nem um louco, vá lá saber-se porquê, a minha mãe vibrava com emoção, e eu, ao invés de ouvir a música, coisa estranha também esta, observei fenómenos fantásticos. O que a feira é capaz de fazer. Só ainda a propósito de tratar filhos por você. Acho a maior barbaridade de todos os tempos, como devem calcular.
Raridades
Hoje num espectáculo vejo um casal já de cinquenta de mão dada. Não sei se é um casal recente, ou se seria um casal antigo, mas a cumplicidade era contagiante. Nada de exageros, apenas mão na mão, sorrisos, olhares. Se há coisa que me fascina é a cumplicidade. Talvez por sentir ser um mérito raro.
sábado, 5 de junho de 2010
Percas
Pertenço a uma estranha estirpe. Dou-me, muito, sempre que posso e assim o entendo. Se não puder, ou não entender, não me dou e pronto, que a vida já me exige tanto, não vou eu exigir ainda mais em cima. Mas nada espero em troca de mim. Da minha companhia, da minha amizade, do meu eu. Entristece-me quando sinto que me cobram, ainda que dissimuladamente. Um toma mas olha que fiz. Um posso, mas porque deixei de. Talvez por isso, a cada dia, menos peço. Perdes, dizem-me. Eu sei que perco. Mas os ganhos que tenho são genuínos.
sexta-feira, 4 de junho de 2010
É feio...
Soube de outra, das que me sacodem por dentro. A Dona A., Senhora que já foi rica e entretanto já não é, não se consegue habituar à vida regrada. Já teve negócios, em conjunto com um marido esquizofrénico e caçador inveterado, que deposita nas caçadas a pouca força que ainda lhe resta. É reformado por invalidez, claro, que a esquizofrenia é daquelas que não dá tréguas. Diz que a reforma é razoável. A Senhora Dona dita, pedincha como só ela, consegue favor daqui e dacolá, e consegue ainda um bom trabalho. Emprego, diga-se assim, que é daqueles que se conseguem na Câmara Municipal, onde o trabalho escasseia para as milhentas mãos existentes. Mas tanta volta se dá, que se consegue ir buscar ajuda alimentar, daquela que se dá a quem precisa, e a troco de conhecimentos, a quem não precisa. Ou até talvez precise, que a pose é uma coisa danada de se perder, e uma vez ganha ninguém a leva, e há que mantê-la. Nestas coisas sou tramada. Fico lixada. Com quem dá, e com que ousa pedir, sem verdadeiramente necessitar. É feio Senhora, muito feio. Ou sou eu que não sei viver neste mundo, também poderá ser isso.
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Da praia...
A praia em dias amenos é o melhor sítio do mundo. Ou quase o melhor. Sente-se o vento, escuta-se o mar, e vê-se gente que salpica a areia de longe a longe, com pequenos aglomerados em sítios estratégicos e criteriosos. Estende-se a toalha sem incomodar ninguém, rebola-se nas dunas numa imensidão de espaço, que às vezes me falta, outras me cansa. Hoje faltava-me. Serve-me o morno da tarde, para observar em redor, o que me relaxa. Paro aqui e acolá, sem razão aparente. Destaco um Homem, sozinho, na casa dos cinquenta. Boné escuro, óculos de sol, e um ar misturado, de calma e de vida. Vejo o casal, já idoso, munido de um corta vento, vestidos até ao osso, e encostados, tão encostados de dar gosto de ver. A Mulher, por demais gorda, que come tremoços e pevides como se não houvesse amanha, enquanto o filho dela brinca com o meu. Vejo a jovem de biquíni reduzido, com um cabelo loiro de wax, inconfundível, e que é sem dúvida a rainha da praia. Tem consciência disso, embora de pouco lhe valha, que as ondas não estavam para surfar, e os surfistas escasseavam. O mar está cá mais perto. Vamos trava-lo, dizem praieiros, com uma convicção tamanha, numas palavras recheadas de esperança e medo. Que não nos vai levar a praia, isso é que não. Ingenuidade a deles, estranha de tardia, que julgam poder lutar com a natureza. Lutar podem, mas ganhar, só se ela assim o entender, mas deixai-os falar, que enquanto assim julgam e sonham mantêm-se ocupados, e a ocupação e o sonho são a saúde das gentes.
A brisa acentua e de que maneira. Vestem-se camisolas, arruma-se a tralha, comem-se os lanches, despede-se a brincadeira. Uma gaivota, mesmo na hora da abalada, voa por perto. Baixa lentamente, levanta qualquer coisa da areia e segue caminho, livre como só ela. Por escassos momentos, quis encarna-la, só para lhe sentir a alma solta. Anda mãe, vamos embora. A gaivota seguiu o caminho dela, e eu segui o meu.
A brisa acentua e de que maneira. Vestem-se camisolas, arruma-se a tralha, comem-se os lanches, despede-se a brincadeira. Uma gaivota, mesmo na hora da abalada, voa por perto. Baixa lentamente, levanta qualquer coisa da areia e segue caminho, livre como só ela. Por escassos momentos, quis encarna-la, só para lhe sentir a alma solta. Anda mãe, vamos embora. A gaivota seguiu o caminho dela, e eu segui o meu.
Mar

Hoje, vou até ali ao mar. O baú dos artefactos já me inundou de cheiro a sal, engraçado, o efeito que em mim causou. Às vezes, muitas mesmo, percebo a falta que as coisas me fazem ao tomar contacto com elas, ou com algo que me lembre delas. Sabia que tinha saudades da praia. Não sabia que eram tantas. Agora, já não podia não ir lá hoje. Até já.
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Lagarto
Tenho um lagarto verde na soleira da porta. Cabeça empinada, corre que se farta, e tenho para mim, que o objectivo da vida dele, é assustar-me sempre que passo. Conseguido, e de que maneira. Já em tempos de Casa Pia, tinha um, residente permanente na oliveira bem ao lado do meu gabinete. Já era da família, claro. Este ainda não tem estatuto, porque corre demais e isso não me agrada nada.
Retalhos do dia
O final de dia foi mau. Não gosto de finais de dia maus, porque me tiram a noite, levam-me o sono, e coisa que não gosto é de sono em fuga. Outra coisa que dispenso, são esperas, daquelas esperas por alguém que nunca sabemos se vem ou não. Esperar pelo certo poderá ser suportável, esperar por algo que voa conforme o vento, com uma direcção fraca como só ela, e susceptível de mudança, ao primeiro sopro, revela-me uma personalidade por demais frágil, para eu confiar nela. Aconteceu que deixei de confiar, pronto, mas existe alguém, bem perto de mim, a quem esse corte não é possível. E hoje, doem-me a mim as esperas dele, que já espera de ar sofrido, e já sente a tal da fragilidade alheia, patética, de tão marcante. Queria pegar-lhe ao colo, afagá-lo, e esperar por ele, mas não consigo a plenitude da minha ambição. Consigo afaga-lo sim, e esperar com, mas não esperar por. Esta consciência das minhas limitações enquanto mãe, é o tal amargo que me rouba o sono. Entretanto, oiço um ladrar. Os cães mirrados de fome, rondam-me a janela, por me sentirem por lá. Pressentissem eles o o meu desespero, e decerto fugiam para longe, não fosse alguma obra do Diabo, atingi-los com o que sinto, e piorar-lhes o estado, para além da fome. Morreriam. Pego num naco de fiambre e mando, o que suscitou uma guerra canina monumental. Prometo sempre a mim mesma que não volto a mandar comida, quando os vejo morderem-se sem dó nem piedade, até à próxima que ladram, e a fome que sentem me atinge. Sou terrivelmente toldada pelas necessidades do que me circunda, coisa que me irrita deveras.
No calor do anoitecer oiço-te e sossego um pouco. Um pouco, apenas e só.
No calor do anoitecer oiço-te e sossego um pouco. Um pouco, apenas e só.
terça-feira, 1 de junho de 2010
Absurdos
Do alto, olho-te, como se num pedestal tivesse, e tu me admirasses. És linda, dizes-me, entre outras palavras, todas elas de bem. E eu acredito, quanto mais não seja, porque o que mais me apetece ao momento, é acreditar no que me dizes. Perco-me. Não em ti, mas em mim, e na minha, ou melhor, na nossa, capacidade de acreditar sempre no que queremos muito que seja. Mesmo que o que queremos muito seja absurdo, é o que nós queremos e chega. E absurdos não existem, claro.
Do dia...

Hoje é o Dia da Criança. Um dia instituído, como tantos outros. Não deixo de o celebrar, claro, até porque serei criança para sempre, para além de ter uma criança, como o meu maior amor. Não deixo no entanto de sentir, tudo aquilo que se sente nestes dias, e em tantos outros, por mim falando, óbvio. Ser Criança será decerto a melhor coisa do Mundo. Pela Ingenuidade, pela crença, pela liberdade e pela capacidade de ser, entre muitas outras capacidades dignas de existirem. Ou pode não ser nada disso, e o nada disso, é-o vezes de mais. Deixando de lado utopias ingénuas, desejo, numa crença que ainda me persegue, que caminhemos para uma maior igualdade. Senão para sempre, que seja quando se é, ainda criança.
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