quinta-feira, 10 de junho de 2010

Das três irmãs

Lembro-me dela de tempos de escola. Um ar um tanto ou quanto altivo, costumava apanhar o cabelo, pintar os lábios de vermelho, e vestir vestidos floridos, cheios de feminilidade. Fumava uns cigarros brancos, e ria quase sempre. Perdia de vista uns anos, que a Capital a ela, acertou-lhe em cheio, como a invejo por isso. Vejo-a por ora ao acaso, num acompanhamento de perto à saúde frágil do pai. A pose já não é bem igual, que os trinta têm destas coisas, mas mantém alguns traços chave, que a perseguirão decerto vida fora, que quem nasce com charme, tem charme para sempre. Fascina-me este traço, pela sua evolução constante, muito mais coerente e sensato do que a beleza, totalmente efémera e passageira. Olha-me e quase que chora. Há bem pouco, perdeu a mãe, vitima também ela da doença da moda, que a fez definhar na amargura, terminando os dias no IPO de Lisboa, não sem antes passar por Santas Marias, Capuchos e outros assim, que tão bem conheço, por vicissitudes tamanhas. Agora, é o pai que incursa o caminho do terrível câncer, que se acomodou da sua cabeça sem dó nem piedade. Podia ao menos ser benigno, diz-me, mas não. Tinha de ser maligno. Estamos quase sozinhas as três. Vira costas e segue caminho, já a sorrir, e de passo certo.
Frequentemente, olho gente que esbanja alegria, ou que parece esbanjar. Que se camufla numa pele de conforto, quando por dentro, sente dor. De todas as capacidades humanas, esta, para além das outras óbvias, claro, é uma das que admiro.

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