domingo, 20 de maio de 2012

Acasos 2

Outro dia falava de acasos. São aqueles os que consigo conceber cá dentro, e apenas esses. O resto, os que acontecem nas nossas acções e que por vezes tendemos, por defesa ou explicação, a enquadrar dentro da palavra de uma forma totalmente leviana, nunca são acasos. Serão sentires, circunstâncias, projecções. Nada é por acaso, é talvez dos factos mais concretos que encontro na nossa vida, nos nossos dias, nas nossas evoluções. É por isso que as palavras que me saem dos dedos dizem muito de mim. Mesmo quando as camuflo para que soem ligeiramente diferentes, são minhas, não saem assim por acaso. É também por isso que escolho determinados caminhos em detrimento de outros, os mesmos que, e mesmo parecendo a quem está de fora que foram escolhas casuais, revelam sempre o que me corre nas veias, o que me pulsa no corpo, o que me vive na mente. E isto não serei eu, seremos todos. É também por isto que aceito muito mal a explicação do acaso, não gosto dela, provoca-me ânsias e indisposições. Como se o acaso fosse uma grandeza de costado grande capaz de justificar as fraquezas que não assumimos, as escolhas que queremos fazer sem que isso soe a isso mesmo, muito embora seja isso mesmo que sejam. Foi por acaso... Não foi. O mundo não gira ao acaso, e isto de forma abrangente e composta. E mesmo pegando no meu outro discurso, dos acasos externos e circunstanciais,  não podemos isentá-los de circunstância, muito embora essa já possa ser-nos alheia. Uma folha por exemplo, não cai por acaso. Uma folha cai porque lhe deu o vento, porque ficou velha e fraca e a árvore já não consegue guardá-la para sempre presa no ramo que a mantém viva, e tem de matá-la. Uma rocha não cai por acaso. Solta-se da mãe porque a erosão lhe levou a resistência, e a deixou submissa ao mar que lhe bate com força. O vento não corre por acaso, corre porque um conjunto de condições meteorológicas se reuniu favorável para que voe naquela direcção. E por isso tudo e muitas outras que não caberiam cá, os acasos não existem. O que existem são vontades, pulsões, intenções, direcções, consequências, escolhas. Logo não foi por acaso. Foi sempre por qualquer coisa, que soa melhor chamada de acaso.



1 comentário:

  1. uma espécie de teoria do caos :) ou como diz uma canção do Palma, "no hemisfério do sul, um mosquito, deu à asa" :))

    ResponderEliminar

Deixar um sorriso...


Seguidores