Outro dia falava de acasos. São aqueles os que consigo conceber cá dentro, e apenas esses. O resto, os que acontecem nas nossas acções e que por vezes tendemos, por defesa ou explicação, a enquadrar dentro da palavra de uma forma totalmente leviana, nunca são acasos. Serão sentires, circunstâncias, projecções. Nada é por acaso, é talvez dos factos mais concretos que encontro na nossa vida, nos nossos dias, nas nossas evoluções. É por isso que as palavras que me saem dos dedos dizem muito de mim. Mesmo quando as camuflo para que soem ligeiramente diferentes, são minhas, não saem assim por acaso. É também por isso que escolho determinados caminhos em detrimento de outros, os mesmos que, e mesmo parecendo a quem está de fora que foram escolhas casuais, revelam sempre o que me corre nas veias, o que me pulsa no corpo, o que me vive na mente. E isto não serei eu, seremos todos. É também por isto que aceito muito mal a explicação do acaso, não gosto dela, provoca-me ânsias e indisposições. Como se o acaso fosse uma grandeza de costado grande capaz de justificar as fraquezas que não assumimos, as escolhas que queremos fazer sem que isso soe a isso mesmo, muito embora seja isso mesmo que sejam. Foi por acaso... Não foi. O mundo não gira ao acaso, e isto de forma abrangente e composta. E mesmo pegando no meu outro discurso, dos acasos externos e circunstanciais, não podemos isentá-los de circunstância, muito embora essa já possa ser-nos alheia. Uma folha por exemplo, não cai por acaso. Uma folha cai porque lhe deu o vento, porque ficou velha e fraca e a árvore já não consegue guardá-la para sempre presa no ramo que a mantém viva, e tem de matá-la. Uma rocha não cai por acaso. Solta-se da mãe porque a erosão lhe levou a resistência, e a deixou submissa ao mar que lhe bate com força. O vento não corre por acaso, corre porque um conjunto de condições meteorológicas se reuniu favorável para que voe naquela direcção. E por isso tudo e muitas outras que não caberiam cá, os acasos não existem. O que existem são vontades, pulsões, intenções, direcções, consequências, escolhas. Logo não foi por acaso. Foi sempre por qualquer coisa, que soa melhor chamada de acaso.
uma espécie de teoria do caos :) ou como diz uma canção do Palma, "no hemisfério do sul, um mosquito, deu à asa" :))
ResponderEliminar