A necessidade exacerbada de catalogarmos tudo, de arrumarmos em compartimentos distintos e isolados as ocorrências, os factos e os desenvolvimentos, transforma-nos nuns seres subjugados à norma. Nem damos por isso, não nos debruçamos no assunto. E assim eliminamos muitas das vezes determinadas individualidades e formas de crescimento, apenas porque não nos faz sentido o bebé de três anos que ainda não diz frases completas e deveria dizê-las, ou o idoso de 90 que já não tem idade para se governar sozinho, mas governa. Obviamente que determinadas situações ou alterações sérias a algum rumo, supostamente seguido em determinada altura da nossa existência, pode dar origem à necessidade de debruce sobre a situação, sob pena de não se detectarem efectivas falhas no processo, a necessitarem de ser colmatadas. Mas daí até formatarmos seres, numa igualdade exagerada e muito pouco saudável, apenas porque o normal é o que se institucionalizou que fosse, deveria ir um bocadinho maior. E em algumas classes profissionais deveria mesmo ser proibido.
( Sei de pessoas felizes e sãs que mamaram na mãe até aos três e no biberão até aos seis. E outras que dormiram com bonecos até aos dez e usaram chupeta até à primária. E sei de velhos que vivem sozinhos e bem de saúde até quase aos cem. E que dormem e acordam sem que seja preciso comandarem-lhe os passos. Sei de gente que nasceu com 750 gramas e que hoje já tem filhos. Sei de quem andou perto dos dois e de quem nunca gatinhou. Sei ainda de alguns crescimentos certos e lineares, normativos, impecáveis, onde nada há para apontar, que são menos felizes. Uma maçada isto de não sermos todos iguais, como o simples papo seco que vem no carro do pão. )
eu cresci com essa mania de catalogar, da qual me tento libertar todos os dias um bocadinho. não é fácil....
ResponderEliminarNão, não é. Mas é preciso...
ResponderEliminarAhhhh, muito bom. Normas.... catálogos ... pois pois... finjam que são felizes. Grande Carla, é um prazer ler-te. Mas chegar aí onde estás não é para todos:)
ResponderEliminarFátima obrigada, mesmo. Também é sempre bom ter-te por cá...
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