domingo, 6 de maio de 2012

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Não é a mesma coisa conhecermos um lado ou conhecermos o outro. Um lado pode ser bom, o outro ser menos bom, um pode ser intenso e o outro menos, ambos podem porém ser parecidos. Inquiro-me sempre sobre o lado oposto. Respeito-o tanto quanto se fosse o meu, faz sempre parte da relação que se tem com alguém, e a relação só funciona com mais do que uma pessoa, com mais do que uma perspectiva, com mais do que uma opinião, porque ao senão não trata relação alguma, mas sim a mais solitária das solidões, e isto em todos os relacionamentos. A solidão não implica isolamento, implica antes uma aceitação suprema da nossa verdade, da nossa vontade, da nossa ambição, quase como se do outro lado existisse um prolongamento do nosso ser, e não uma outra pessoa, de arbítrio próprio e capacidade de decisão. Expandi-me. Não era nada disto o que eu queria neste texto, pretendia apenas falar da minha mãe e do meu filho. Mas não me soa mal, deixo estar, e entro agora em outro terreno. Amo-a, sempre a amei. Constitui alguém que incondicionalmente me atende, me acode, me ampara. Amo-o a ele, desde que num dia me saiu do corpo com rapidez e força, ou melhor, já o amava antes, mesmo sem nunca o ter visto. Sentia-o cá dentro, num crescimento osmótico e intenso, constituindo uma parte de mim que nasceu no dia em que deixou de me pertencer. Aqui conheço ambos os lados. O lado de mãe o lado de filha. Aprecio ambos, mas antes de ser mãe não a entendia a ela. Não a preocupação desmedida, não a dedicação exagerada. Não a preocupação com o meu descanso, com o meu frio, com a minha vida. Que exagero, eu era adulta. O meu ainda não é, mas eu sei que quando for vai continuar a ser meu, tal e qual como eu sou dela. Admito aquela pertença estranha que o não é, sei que ele é dele e de  mais ninguém, tal e qual eu sou simplesmente minha. Mas no coração das pessoas existem umas ligações sérias que não se vêm mas que se sentem, às quais nós, psicólogos, costumamos chamar de vinculação. Tenho para mim que o facto da emoção ser invisível foi feito assim de propósito. Há coisas que não são para ninguém ver, são sim para quem as sente guardar. Em algum sítio recôndito, de acesso vedado, por serem por demais preciosas para deixar à mercê do olhar.

( Para mim, profunda guardadora das intensidades que sinto, esta nossa capacidade vale-me o mundo. Nunca poderia partilhar à descarada, todas as emoções e sentires que me passam no corpo.)

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