terça-feira, 11 de maio de 2010

Tempo


Nesta altura do ano, Maio, diga-se, era costume fazer-se piqueniques lá na terra. São as histórias de quem cresceu na aldeia, que tenho alma de saloia, embora já não se note muito. A escola era de manhã e de tarde, e saia-se às três, tinha-se um dia pela frente. Alguma criançada das redondezas, que não era muita, não senhor, juntava-se à volta da minha vizinha Nela, uma divorciada que adorava crianças e que não podia ter filhos. Era ela que pegava em nós, enchia uma cesta de gulodices, incluindo tapioca, e rumava aos campos para lanchar connosco. Nunca mais comi tapioca, não sei como se faz, nem onde existe, mas sinto saudades. Os campos já tinham flores, e as sombras das árvores, das quais agora fugimos em busca de réstias de sol, sabiam-nos que nem nozes. Também me lembro de passar largas temporadas na praia da Nazaré, já nos confins do verão, não raras vezes no mês de Setembro, fora da época balnear, e ainda com calor. Apanhava as festas do sítio, os tremoços e as touradas, coisa com a qual simpatizo pela tradição que carrega, embora tenha de encosto aquela história do sofrimento dos toiros, bem fundamentada por acaso. Uma incongruência da minha existência, deve ser isso. Tenho mais dessas. Agora, nada como antigamente, o tempo troca-nos as voltas, e manda por cá, como quer e bem lhe apetece. Já pareço a minha avó a falar, que de há uns tempos a esta parte, uso com frequência estas comparações com o antigamente. Para além disso, falo amiúde do tempo, sinónimo por norma, de que pouco mais terei por dizer. Vida pacata esta, se ao menos um Santo me valesse, aproveitando a visita da ordem. São Pedro ou assim, deixa-me cá escolher, não me acuda Santo António.

8 comentários:

  1. O teu post levou-me num flash às muitas férias que passei, na infânica, na Nazaré, e vieram os detalhes, as saborosas recordações, delas, das férias, e da família, quase toda ali de perto, para os lados de Alcanena. Não subscrevo viver-se de recordações, mas adoro recordar, e viver, para recordar mais tarde. Um grande :)

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  2. Sputnick, temos raizes próximas. Os meus avós maternos são de bem perto de Alcanena... Giras coincidências...

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  3. CF, a minha avó materna nasceu nos Amiais de Baixo. Ainda lá tenho família, bem como no Espinheiro, Verdelho, Portela das Padeiras. Ahh, conheces os Olhos d'Água?

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  4. Sputnick, que fantástico. Se conheço os Olhos d'Água? Claro que conheço, passei lá tardes sem fim. Eu sou de Amiais de Cima, os meus avós paternos ainda moram lá. Ele há cada coisa...

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  5. Pois é CF, o mundo é pequeno. Eu vou aos Olhos d'Água desde miúdo. Uma prima da minha avó explorava uma pequena taberna, metida na gruta. Acampei lá, subi até à nascente do Alviela, a última vez que lá fui, levei a minha mãe, e espero ir lá em breve.Assim que chegar o pópó novo :)

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  6. E fazes muito bem. Avisa aqui o estaminé, que se possível, terei todo o gosto em tomar um café :):)

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  7. Combinado. E quem sabe, levo comigo a Antígona, e a viola :)

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