segunda-feira, 24 de maio de 2010

Utilidades

Hoje pelo caminho do estaminé, questiono a minha utilidade. Acontece, às vezes, muitas delas à segunda feira. Não que não me sinta útil, mas porque talvez já me tenha sentido mais, ou então mais retribuída. Vem-me ainda à cabeça, e nesta linha da utilidade, uma família que acompanhei, em tempos de Casa Pia. O Rúben era uma criança de olhar pálido e vidrado, do mais estranho que já vi. Tinha um Pai de nome Ostílio, e uma mãe chamada Belizanda. Não me esqueci dos nomes, não pela estranheza dos ditos, conforme possam pensar, mas porque tenho boa memória para eles, sempre, sem excepção, coisa que não se verifica nada com os números. Chego a esquecer-me da idade que tenho, sendo necessário fazer umas contas simples na minha cabeça para lá chegar. Também sou assim com datas de aniversários, ou com números de telefone, mas isso agora não interessa nada, perante a história do Rúben. O Rúben estava perdido. Frequentava o internato, e aos fins de semana ia para casa da mãe, separada do pai. A dita Senhora residia com o anterior patrão, a quem tinha tomado conta da esposa, que nos entretantos faleceu. Uma história de amor, julgo que sem amor nenhum, um tanto ou quanto mórbida, mas real. Dessa união, já longa, nasceram duas pequenas, que vi uma vez, em visita domiciliaria, nuas, só com uma fralda no rabo, uma delas já com cerca de quatro anos. O companheiro deambulava-se por lá, com um cheiro pestilento, e a vociferar impropérios contra o Rúben. Percebi de imediato, o porque do olhar do jovem vir pior às segundas, dia tramado este, pior quando não se está feliz. A mãe, um ser franzino e fraco, não tinha qualquer poder sobre aquele ser medonho, que mandava lá em casa, e que detestava a cria do anterior casamento. A custo, muito custo, e com as ajudas várias, claro, mudou-se o rumo da história, e a vida do Rúben. Hoje, continuo a entender mãos, necessárias é um facto. Mas numa análise interna, egoísta, sei que sim, sinto amiúde necessidade de ver diferenças, resultados palpáveis. É um mal do Homem, a necessidade de retribuição. Às vezes sinto que nunca me vou libertar dele, mas gostava.

1 comentário:

  1. Eu também tenho essas sensações à segunda, especialmente depois de constatar mais uma vez que o euromilhões foi para outro lado que não o meu. Só não tenho dramas como o do Ruben, nem algo do género. É que se isso acontecesse não sei como encararia os outros dias...

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