terça-feira, 29 de junho de 2010

Chaves de quê?


Na porta, vejo através da grade, e observo sorrisos. De quem tanto dá, e muito recebe também, embora haja quem ache que não, que aquele gente diminuída, nem para eles, quanto mais para dar. Tamanho engano senhores, que se há quem dê, muitas das vezes, é quem menos tem. Porque muito precisam, poderá ser. Ou porque com pouco se satisfazem, vou mais por aqui. Continuo de fora, e observo o recreio, mesmo antes de um grandalhão de aspecto rude e desengonçado, dar pela minha presença e me chamar. Entro, e sorrio para aquele ser de ar estranho, que me olha lá bem do alto. Emerge de imediato uma educadora, daquelas que sorria, julgando que eu precisaria de auxilio, poderia assustar-me ou algo assim, mal ela sabe que já não me assusto com gente verdadeira, assustando-me muito mais com outras gentes. E por enquanto, que tenho para mim, que com o tempo, nem com esses me assustarei. Já tenho arriscado, poderei até um dia ter azar, que ninguém sabe a verdade da realidade que os povoa internamente, mas por norma, hábito e vocação, talvez seja mais isso, vocação, desde sempre os seguro com um afago e com o tal do mágico. O sorriso, sim, isso. Em quase tudo, quando quero algo o utilizo. Espontâneamente ou não, que às vezes abuso, confesso.
No meio deles encontro o J, que me levou a chave do gabinete, e que ninguém sabe onde está. Para que quererá ele chaves sem fim, procurará alguma porta que lhe traga algum conforto? Ou será só porque sim, que também eles, terão decerto direito, a fazer coisas só porque sim, que esses direitos, serão para todos, direi eu que ainda sonho. Encontramos a chave no bolso da camisa, que ele acede a dar, com alguma relutância. Venho embora, e deixo para trás toda aquela gente, que fala do jogo de logo com uma alegria imensa, parecendo perceber o que se passa, ou até talvez percebam mesmo, só que num mundo diferente. Entro no carro, olho para o lado, e repousam no banco as avaliações excelentes do meu rebento. Não senti própriamente orgulho naquele momento, embora o sinta amiúde, claro, mentiria se dissesse que não. Senti no momento alegria por nós, e tristeza pelos que deixei dentro do portão que fechei. Se calhar nem devia, possível ignorância a minha, que pouco mais sei, do que de mim. Poderão ser tão felizes, e eu sem saber. Que sejam. Mas que sejam mesmo. E que os sorrisos que emanam sejam do fundo. É que os sorrisos do fundo é que são mesmo a sério. Gosto tanto, quando sorrio do fundo.

2 comentários:

  1. Há mundos à parte, bem mais ricos que este mundo que é o nosso.
    Só eles sabem, de uma maneira inocente, sorrir, quando tudo está mal.
    :)

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  2. Espero bem que sejam felizes nesses mundos próprios, diferentes dos nossos (espero, mesmo, que diferentes para melhor).

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