quarta-feira, 2 de junho de 2010

Retalhos do dia

O final de dia foi mau. Não gosto de finais de dia maus, porque me tiram a noite, levam-me o sono, e coisa que não gosto é de sono em fuga. Outra coisa que dispenso, são esperas, daquelas esperas por alguém que nunca sabemos se vem ou não. Esperar pelo certo poderá ser suportável, esperar por algo que voa conforme o vento, com uma direcção fraca como só ela, e susceptível de mudança, ao primeiro sopro, revela-me uma personalidade por demais frágil, para eu confiar nela. Aconteceu que deixei de confiar, pronto, mas existe alguém, bem perto de mim, a quem esse corte não é possível. E hoje, doem-me a mim as esperas dele, que já espera de ar sofrido, e já sente a tal da fragilidade alheia, patética, de tão marcante. Queria pegar-lhe ao colo, afagá-lo, e esperar por ele, mas não consigo a plenitude da minha ambição. Consigo afaga-lo sim, e esperar com, mas não esperar por. Esta consciência das minhas limitações enquanto mãe, é o tal amargo que me rouba o sono. Entretanto, oiço um ladrar. Os cães mirrados de fome, rondam-me a janela, por me sentirem por lá. Pressentissem eles o o meu desespero, e decerto fugiam para longe, não fosse alguma obra do Diabo, atingi-los com o que sinto, e piorar-lhes o estado, para além da fome. Morreriam. Pego num naco de fiambre e mando, o que suscitou uma guerra canina monumental. Prometo sempre a mim mesma que não volto a mandar comida, quando os vejo morderem-se sem dó nem piedade, até à próxima que ladram, e a fome que sentem me atinge. Sou terrivelmente toldada pelas necessidades do que me circunda, coisa que me irrita deveras.
No calor do anoitecer oiço-te e sossego um pouco. Um pouco, apenas e só.

2 comentários:

  1. Um grande sorriso para ti, por estes últimos textos. Estão muito bons.
    Quanto a este, imagino o que sentes. Já passei pelo mesmo até ao momento em que ele desapareceu de vez...

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