domingo, 13 de maio de 2012

Do lado de lá

Enquanto ele olha para o vazio do quarto ela olha-o a ele. O quarto nem está vazio, são os olhos dele que se alheam e parecem nada mirar, porque nada lhes interessa sorver. Ela por sua vez absorve-o com intensidade, guarda-o, prende-o dentro do corpo e espalha-o por todo o lado. Há situações em que acontece o contrário, os olhos cheios são deles, e os vazios são os delas, depende, mas nem vem ao caso. Escapa-me ao entendimento haver quem encha o corpo com outro alguém que não lhe entrega os pensamentos. Não todos, que somos nossos, mas algumas cumplicidades, dificuldades, felicidades, quereres. Alguém que não está lá mas em outro sítio com tudo aquilo, ou até em sítio algum, não importa, importa sim que não está lá. Intriga-me este preenchimento que mais não é do que também ele um vazio. Apenas um corpo presente, que é talvez a pior coisa que me podem dar.  Julgo que não poderia nunca amar alguém que não estivesse lá. E digo julgo porque admito que possa estar enganada, muito embora considere que não. Perderia o sentido o simples facto da ausência da vontade.

( Não critico, não condeno, só não concebo em mim. Há coisas que a serem unilaterais morrem-me cá dentro de forma rápida e eficaz. O que fica, se ficar, eu trato, curo, nunca cultivo. Nem sequer tenho essa vontade.)

4 comentários:

  1. Há quem prolongue essa situação por achar que as mudanças são possíveis. Eu já o fiz. Mas também já me morreu cá dentro. Há um tempo para tudo e lições a ficar destas situações.
    Muito bom post.

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  2. :) Ainda bem que morreu em ti, se do outro lado já havia morrido. Uma libertação por vezes dura, mas necessária...

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  3. Não creio que esse olhar dela, se prenda com o presente, mas sim com o passado, mas isso é a minha suposição :)

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  4. Sputnick, sim. Pode ser saudade...

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