sexta-feira, 30 de abril de 2010

Gravidade

Pela manhã, as minhas mãos nunca me chegam. Necessitaria de ser um polvo, ou algo do género, a fim de dar vencimento a tudo o que necessito de acartar ao lombo.
- Aiiiiiii filho, a mãe hoje deixa cair tudo para o chão, credo... Vocifero, bem na entrada da escola, ao deixar cair o telemóvel, logo após ter deixado cair um papel.
- Hum, diz pensativo. Isso se calhar é por causa da lei da gravidade.

O petiz tem a sua razão, pondo de parte, claro, a minha falta de jeito. Há leis que deveriam ser banidas, assim, como quem não quer a coisa.

Comportamentos

De manhã paro, para pôr a bendita da gasolina, aquela que custa mais a cada dia que passa. Na bomba, não há fila, e há um Senhor simpático que me oferece um jornal, ainda por cima um daqueles que eu gosto. Não precisava de ter oferecido para eu o achar simpático, se é o que já pensam, porque nem sempre me oferece, e a minha opinião é sempre igual. Gosto de parar onde me sorriem, ao que eu retribuo, invariavelmente, que de resto, eu também sorrio sempre. Ao contrário de muita gente, é quando me encontro mais frágil que o meu sorriso duplica. Talvez isto possa ser encarado como uma maneira egoísta de ser retribuída, quando preciso que me sorriam. Segundo as teorias comportamententalistas, comportamento gera comportamento. Não sendo acérrima defensora das ditas, por considerá-las por demais lineares, não consigo deixar de lhes encontrar um fundo de verdade. Em criança, já lá tinha chegado. Quando ia à loja da Tia Alice, lançava-lhe o meu melhor sorriso, que rendia sempre um pequeno bolo com açúcar de cores por cima, de nome beijinho. Hoje, às vezes, ainda sorrio assim para ganhar um. Não é um sorriso qualquer, nem assim ao desbarato. É uma sorriso direccionado e certeiro, sempre muito bem dirigido, e que atesta a fundo esta minha teoria da retribuição.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Oficialmente


O certificado da ordem, chegou, com número e tudo, fantástico. Como celebração, comprei uma prenda para mim. Ainda tentei repetir que não, mas não resultou. Limitações das minhas teorias, admito.

Modo repeat


Às vezes, ando em modo repeat, a fim de me obrigar a algo. Nem sempre resulta, mas acontece de vez em quando, e há que aproveitar. Ainda me lembro de em pequena, eu e a minha grande amiga Nádia, repetirmos muitas vezes que tínhamos de fazer os trabalhos de casa, enquanto andávamos de baloiço como se não houvesse amanha. Um baloiço de corda, e tábua, que quase voava do alto da oliveira, e que nos fazia voar com ele, como já não se voa hoje por cá. Adiávamos, repetíamos o dito, e por aí fora, até que íamos mesmo, já bem no limite, quando alguém berrava lá de dentro de casa. Presentemente, está algures perdida do outro lado do Atlântico, mas lembro-me dela vezes sem conta. Hoje lembrei-me assim muito, ao repetir um sem número de vezes algo que devia mas não queria fazer, conflitos internos, temos por cá. Repito também várias vezes pára, quando me lambuzo em chocolate desalmadamente. Aí, resulta mais ou menos, tenho dias. Também me lembro de sempre ensaiar coisas no espelho. Eu e uma homónima que passou pela minha vida em tempos de outrora, treinávamos discursos difíceis defronte ao dito, ou uma com a outra. Do género de, o que dizer ao rapaz que nos fazia luzir o olho. Treinávamos o que dizer, as caras que fazíamos, para onde olhávamos, uma panóplia de coisas. Hoje, também ensaiei quase assim, mas sem assistência, que estas coisas da adultez trazem-nos certo recato, que ainda não descobri se é bom ou se é mau. Interessa-me por ora que desta feita funcionou, e eu dou alvissaras a mim mesma que mereço. Não tenho vergonha de treinar coisas ao espelho. Toda a gente já o fez, embora possa dizer que não.

Feira do Livro


Começa hoje a feira do livro. Gosto de livros desde que me lembro de ser gente. Temos muitos lidos, muitos que gostava de ler e ainda não li, tenho ainda alguns, já lá em casa, ainda por ler. Tenho manias aliadas à leitura, como de resto em muitas outras coisas, que sou quase maníaca em algumas vertentes. Não gosto, por exemplo, de ler livros emprestados, embora já o tenha feito. Gosto de capas com algum significado, ou lisas de todo, e desdenho por completo, as que tenham um qualquer desenho ou foto de filme já realizado. Gosto deles maneirinhos, que o tamanho em exagero, não me inspira qualidade. Já li alguns bem pequenos que me fizeram delícias, de histórias concisas, mas fantásticas. Prefiro por norma obras escritas por Homens, em detrimento da escrita feminina, embora não seja um critério determinante. Não gosto de folhas recicladas, perdoem-me lá, esta limitação ecológica. Gosto de um toque suave, e o áspero aqui, não me sabe nada bem. Gosto de Histórias corridas, de cronicas soltas, de escritas cheias e de escritas caóticas. Gosto de livros infantis, de contos e de sonhos. Não simpatizo muito com histórias de amor, pelo menos as típicas, mas existem algumas fantástica, que me apaixonaram tremendamente, talvez por fugirem à facilidade extremista, como o Dr. Jivago, por exemplo. Obras de referência, tenho algumas, que já li, e reli, e que ainda penso voltar a ler. O Amor nos Tempos da Cólera e o Relato de um Náufrago, de Garcia Marquez, pela história e pela escrita, são duas delas. Muitos de Pedro Paixão, pelo caos de ideias. Siddhartha, de Herman Hesse , pelos ensinamentos, o Perfume, de Patrick Suskind, pela genialidade, o Principezinho de Saint-Exupéry, que por ora leio diariamente com o meu filho, nem preciso dizer porquê. Entre outras, muitas outras.
Sempre me lembro da feira no Eduardo VII, que sou entradota, mas não em demasia. Gosto das barraquinhas, do cheiro, do espírito. De andar por lá, com toda a calma do mundo, olhar, folhear, comprar, ou não que não importa. É mítica, para mim. Há coisas míticas, e a feira do livro é uma delas. Eu, que nem sou amante de feiras, tirando mesmo a das vaidades.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Grande Reportagem

Ontem, vislumbrei a Grande Reportagem da Sic. Grande de nome e de conteúdo. Gosto de gente que fala assim sem medos e muito a sério, de sentimentos e emoções. Fiquei de olhos no meu pequeno rapaz, e sorri para ele. Amo-o incondicionalmente, claro. E não amaria menos, se na minha intimidade, em vez de amar um Homem amasse uma Mulher. O amor aos filhos é o amor aos filhos. O amor romântico, não deveria ser para aqui chamado. A minha visão técnica, analisa estas situações, claro, pesa prós e contras, e conclui com facilidade. Conclui que o amor, quando existe, é para ser dado. Conclui que a educação é um trabalho árduo, que deve ser feito por quem o ame fazer. Conclui que na sociedade actual, determinados estereótipos perderam sentido. Conclui ainda que a mesquinhez de quem desdenha estas famílias, será, ela sim, um entrave à educação saudável. Conclusões e pontos de vista, apenas.

Batalhas, guerras declaradas, ou outros nomes assim

O meu Ego, malvado, insurge-se...

As minhas costas imploram...

E eu, deambulo. Não muito dada a meios termos, assumo. Um dia uma, outro dia outra, e assim se vai andando por cá...


Fraquezas

A manhã foi intensa. Gosto de emoções intensas, mas não as que me causem nervoso, que foi o caso. Nuns barracões de pré fabrico, estive umas boas duas horas à espera, como sempre se espera, num qualquer serviço público. A espera é algo desesperante. Mas esperei, esperei e já vim, em paz e tranquila. O pequeno está bem, e eu, consequentemente, também estou. O meu coração de mãe está calmo outra vez. A minha querida avó dizia-me sempre palavras sábias. Umas delas, eram que ser mãe, é a melhor e a pior coisa do mundo. Acho que já as tinha postado por cá. Cada vez a entendo melhor, a minha querida avó. A propósito, às vezes, muitas, fazes-me falta, sabias? Julgo ser forte, mas estou a anos luz de ti. Fazes-me falta especialmente quando me sinto fraca, e hoje senti.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Ingenuidades e adaptações, ou de como eu não sei andar nisto...


A ingenuidade é tida como uma credulidade excessiva, juntando ainda numa mesma definição, parvoíce. Parece-me algo simples de se ter, porque é tão fácil acreditar, mesmo quando não se deve, se isso nos fizer felizes. Muito mais fácil do que questionar, ponderar, racionalizar. Será talvez uma fraqueza, diria, analisando à luz deste contexto. Apresenta-se como um trabalho de evolução como pessoas, a sua perca, ou seja, a adaptação à realidade, por vezes atroz. Quase me sinto muitas vezes, comigo e com os outros, a fazer um trabalho minucioso, a que me apetece chamar de maquinização de sentimentos. Numa tentativa exacerbada de deixarmos de ser puros e crédulos, para passarmos a ser uma arrumação de emoções. Um podes sentir, mas com cuidadinho. Um podes pegar-te, mas vê lá se não é muito. Um podes acreditar, mas a olhar de soslaio, e sempre sem perder o pé, não vá o diabo tecê-las.
Nos entretantos, amiúde, tenho uma vontade estúpida, em receber de novo a tal da ingenuidade, assim, de braços abertos, encostar-me e deixar-me ir. Para logo me recompor, e me lembrar que ainda hoje, pago por sê-lo. Porque às vezes, não muitas, mas demais, ainda lhe sinto o cheiro, que a sacana insurge-se. Ainda não estou portanto muito bem adaptada.
Apesar de alguns contras, tenho para mim que ainda lá chegarei. Temo apenas que nesse dia tudo perca o encanto.

Exigências

Vivemos num Estado de exigências, é certo. Somos todos muito bons a exigir, sem olhar a meandros, e com um determinado objectivo. Perde-se a clareza, diria eu. Até porque depois, quando já tudo funciona, tudo funciona muitas das vezes mal, sem qualquer precisão e controlo, pelo menos em algumas vertentes fundamentais ( admitindo excepções, claro). Não sou da geração balda, não Senhor. Reconheço e admito leis, decretos reguladores, medidas orientadoras, e por aí fora. Gostaria também no entanto, que se mantivesse a salubridade em quem acompanha os projectos, e os veta, à partida, por pormenores que na prática, em nada comprometem. É a tal da sensatez, tão bem vinda por estas andanças. Julgo, na minha fantástica capacidade de análise ao outro, que se tratam muitas vezes de vulgares manifestações de poder, que camuflam determinadas coisas, menos poderosas, diria. Aqui, neste âmbito, quem manda sou eu, e cumpres, e é se queres. Não há margem de manobra, há autoridade, em nome do ego, que faz um bem do caneco, a quem sofre de males no dito. Para depois, de tudo cumprido, medido e exigido, cada um pular a cerca para onde bem lhe apetecer, porque o cerco abranda e de que maneira. O tempo que quiser, e como quiser, porque o mais certo, é que ninguém dê por isso. Ora aí temos boas políticas. Exigência no pré, e sossego no durante. Para depois, muitas das vezes, nos depararmos com um mau fim, que ninguém entende, ora pois.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Dicotomias


A memória é talvez a minha pior dicotomia interna. Se por uma lado, amo memórias, vivo delas, cresço e construo, tudo à sua mercê, por outro, queria controla-las. Apagar daqui, esquecer acolá, acentuar dali.

Da abrangência da crise

Andamos em época de greves, sob o direito do manifesto. É camionistas, é motoristas, é maquinistas. Não podemos ainda mandar cartas, que decerto demorarão a atingir o destino, mesmo que em correio azul. O meu blogue também se manifesta, fazendo gazeta à publicação de comentários, que engole, como que por magia. Manifestação de solidariedade, é o que é.

Tardes


Na esplanada, come-se um Magnum de Coco, coisa fantástica. Folheia-se a Máxima, e questionamos-nos o porquê de pormos os olhos naquilo, nós, que temos uma bolsa moderada, por assim dizer. Punha-me num daqueles vestiditos, punha sim senhor. O azul da Donna Karen, por exemplo. E punha ainda uma jóia daquelas em forma de animal, cravejadas de diamantes, da Eugénio de Campos. Desejos profundos e longínquos, que se faça. Das conversas, impregnadas pelo mote da revista, surge a imagem. E a necessidade de se passar algo ao outro, como se de um objectivo supremo se tratasse. E trata, de facto. Eu própria me preocupo com a imagem, embora o meu cerne, seja o meu estado de espírito. O que julgo adequado ou não, ou o que me apetece naquele momento. Posso andar de chinela na rua e de sandália em casa, se assim me aprouver. A necessidade de transmissão de emoções que não se sentem parece-me desconfortável, pelo menos eu assim sinto.
Visto com muita facilidade a minha pele, camaleónica, mas minha. Mas tenho uma dificuldade imensa em fabricar sinais que não sejam meus. Limitações da transparência, diria.

domingo, 25 de abril de 2010

Chata

José Gameiro, o Psiquiatra que salva casais, dá dois dedos de conversa ao I., nos intervalos, como ele mesmo diz. Aproveita ainda para dizer, que muitas das vezes, os homens não sabem ser maridos, e que as mulheres são chatas. E ainda que não trata casais, onde o sentimento se esvaiu, nem que seja de um só lado, como se de resto, isso ainda fosse casal. Há uma filtragem, portanto, entre o tratável, e o que já não tem salvação possível. Uma perspectiva interessante, numa conversa muito prática, clara, e em nada elaborada. Porque é da simplicidade que trata. Eu, uma incrédula por natureza da terapia de casal, quase lhe achei piada. Pela franqueza, pela clivagem, e pela admissão de que grande parte, são casos perdidos. Quanto às conclusões, dos maridos que não sabem ser, e das mulheres que são chatas de mais, não podia concordar mais. São uma ralação causa efeito, diria. Os Homens são práticos, em nada amorosos por natureza, salvo as devidas excepções. As Mulheres, românticas e idílicas, perante a distância, em vez de respeitarem, cercam, e assumem-se chatas, em todo o seu esplendor, e nisso diria eu, são mestras. Eu mesma, também já fui assim, mas nunca mais vou ser. Posso vir a ser muita coisa, mas tenho para mim, que nunca mais vou ser uma Mulher chata.

Flores


Hoje apetecia-me que me oferecesses flores. Porque o dia é de liberdade, e liberdade significa liberdade (?). Podia ser uma rosa, em vez de um cravo? Já que liberdade é um conceito estranho.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Momentos

Oiço de momento Muse na Comercial. Como um chocolate de limão, e estou muito bem.

Da gente que deixamos de ser


Tive festa no pardieiro, a celebrar a primavera, como se já cá estivesse, a fugidia. Muitos velhinhos, muita música, muita alegria, e desfile de chapéus. Não percebo, juro que não percebo, quem os desdenha. Nos meus pensamentos, analiso com frequência a dignidade, coisa valiosa por demais, e frequentemente esquecida ou relegada. Se eu andasse num posto supremo, impedia a chegada a determinados estados. Utópico, claro que sim, mas quantas das vezes não sonhamos utopias. Poucas coisas me afligem tanto, como a dependência, e o consequente desleixo dos outros. Por quem já teve uma história, e que, de repente, por isto, aquilo, ou pela simples lei da vida, parece que deixa de ter. Há quem olhe sem olhar, quem balbucie coisas estranhas, como com essa idade, não merece a pena. Quase deixando crer, que o bolo que lhes dou com carinho, podia ser uma côdea seca, ou algo do género. Ainda não percebi muito bem, porque é que a partir de determinado ponto, apesar de vivos, deixamos de ser gente.
Por isso, sempre que posso sorrio com eles e para eles, deles e de mim. E danço e canto e desfilo de mão dada a um, com chapéu de gata, com bigodes e tudo, a estragar-me o modelito fantástico, minado de flores lindas, escolhido a pensar no dia. E partilho tudinho, com pessoas que tal como eu, ainda os fazem gente, porque felizmente, dessas também há.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Tom

Aqui em casa, vê-se Tom Sawyer, como se não houvesse amanhã. Sempre simpatizei com o Tom, em detrimento do sonso do Sid. Na actualidade, e como mãe, seria sensata a inversão. Que eu não fiz de todo, concluo. A propósito, numa escapadela aos DVDs, encontro o Herman José a falar de coisas sérias. Há coisas estranhas, não há?

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Sonos tranquilos


Bento XVI adormece no decorrer de uma Cerimónia Religiosa.
Eu, que quase julgava, na minha humilde inocência, que o Digno Senhor nem no travesseiro descansava, tais as preocupações que assolam a Igreja. Afinal, o Senhor ainda dorme, e quis prova-lo, ora pois, numa tentativa de nos dizer, que é preciso mais do que crianças, HIVs e coisas dessas, para lhe tirar o sossego, sempre bem vindo.

A Dona Hédita

A Dona Hédita foi ao meu casamento. Era uma velha chata e presunçosa da qual ninguém gostava e que povoava o sítio onde eu trabalhava na época. Sempre tive o condão de aturar aqueles que mais ninguém quer aturar, conseguir, e ter um orgulho danado disso. Apoderou-se de um sofá às flores, bem defronte ao meu gabinete, e dali, sítio privilegiado quanto ao ângulo de visão, controlava tudo e todos com o seu ar assustador e poderoso. Tinha uma barba enorme que picava, uns cabelos brancos sempre em desalinho e era grande, muito grande. Passou por vários sítios, e não falava com filhos, netos ou outros familiares, vá lá saber-se porquê. Piorou o estado de saúde, e tentou um lar, em vez de centro de dia, começando a sua roda viva, porque ninguém a aturava, ninguém a segurava, ninguém de resto, a queria. Ontem, em arrumação do meu actual estaminé, na época já uma residência de idosos, dou com o processo dela, e descubro que também por cá passou. Com a sua imponência e presunção habitual claro, que isto nestas idades não se esvai, acentua-se. Lembrei-me da terrina que me deu no tal do casamento, que me afamou sorte, mas não cumpriu. Lembrei-me da foto bem defronte da Igreja, que talvez um dia ainda poste por cá, para verem o ar dela a olhar para mim, que eu, de qualquer forma, estou irreconhecível, tal a felicidade que emanava do sorriso. Passou-me ainda pela ideia, que se eu já estivesse por aqui, talvez a tivesse segurado cá, com a minha terrível paciência para aturar gente assim. Paciência ou charme, que ás vezes, julgo que os seduzo, com as minhas palavras doces, que faz com que quase se derretam na minha passagem. O charme da simpatia é uma coisa poderosa. E talvez até, ela não tivesse de ter andado a saltar de sítio em sítio, de lar em lar, de mão em mão. Ainda um dia talvez mude esta minha apetência, mas duvido, que isto pós trinta já está tudo muito a dar para o consolidado, e as nossas metas assumem-se com um carácter de execução. No fundo no fundo, gosto de ser assim, de uma persistência dura mas eficiente, e só desleixada, em casos específicos, dos quais já vos falei. A Dona Hédita já faleceu, soube. Era chata, presunçosa. Mas eu gostava dela, e ela de mim.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Sucedâneos


O que eu não dava agora por uma coisa destas... Sou gulosa, pois sim. Na falta, engoli um misero rebuçado. Às vezes nesta vida, canso-me de substituir repastos por sucedâneos, em nada compensadores. Isto um dia vai acabar.

Amores

Ela diz-me que sou demasiado céptica, que não acredito, e ela tem razão. Ainda ontem, me vejo ali, eu e ele, e como sempre mais ninguém, em alturas menos boas, e onde seria suposto suporte, nem que fosse há distância. Ou melhor, mais alguma gente, minha e dele. Mas nenhuma só dele, porque há sempre algo importante para fazer, escutar ou dar a cara. As prioridades de vida são uma coisa que me transcende. Julgo ter as correctas, as claras, as coerentes. Que começa do zero ao topo da pirâmide de forma sensata e criteriosa. Depois existem os que têm uma pirâmide de todo invertida, onde as posições se alteram de forma estranha. Que por vezes investem, quando dá jeito, ou tem mesmo de ser, para no resto do tempo se esquecerem, como se fosse possível esquecer o inesquecível. O porquê disso não sei qual é, mas interessava-me, só para perceber, se isso for explicável, claro. Ás vezes sinto algum medo, disso e de pouco mais que não sou medrosa. Há alguém no mundo a quem eu não posso faltar, porque sou só eu e não deveria ser. Não tinha de ser, não precisava de ser, porque no inicio fomos dois, e assim deveríamos continuar. Pela minha paz de espírito, porque ele, o importante, por enquanto ainda me parece em paz. Proteges de mais dizem-me vozes. Protejo, claro que sim, e vou continuar a fazê-lo, correndo o risco das consequências, porque o amo de mais para o deixar perceber cedo coisas que não deveriam ser. Por isso às vezes sou céptica claro que sou, e acreditar com força, é em mim, e em alguns poucos que me cercam muito ao perto, pois tudo o resto me parece por demais fátuo para isso. Gosto muito de ti mãe, posso encostar-me no teu colo? Dizia-me de olhos chorosos e febris.
Podes meu matulão, claro. Podes hoje e podes sempre. Tá grande o meu filho.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Vertentes de análise...

A vertente oposta ao que eu digo ali em baixo...

http://a-leiseca.blogspot.com/2010/04/desinfectante.html

E numa análise profunda, acredito mais nesta do que na outra, que fazer-se. Embora admire a outra, e ache esta uma vertente decadente do Homem e das relações.

Admirações

Logo pela manhã, vejo a minha amiga S., casada com o meu amigo F., mãe do pequeno D., e quase quase da pequena M. A minha amiga S., casou depois de mim, após um longo namoro, e também é dedicada a estas coisas da psique. Gosto dela e da paz dela, da casa dela, dos filhos dela e do marido dela. Porque tudo nela emana calma, tranquilidade e adaptação. Não diria que a invejo, que inveja é uma palavra feia, e eu nem sei se sobreviveria a tanto sossego. Mas admiro-a, sem dúvida. Muito, muito. Faz-me acreditar que existem relações afectivas capazes de vingar a sério, coisa escassa esta. A minha amiga S., deve ser feliz ao lado do F., e vice versa. Quando se consegue esta cumplicidade, a felicidade é vivida a dois, coisa que eu chego a venerar, porque é uma felicidade dupla, logo será decerto mais resistente, mais forte, mais coisas assim.
Um beijo S. E vê se expulsas a pequena M., antes que a tua barriga expluda. Estás grande Melhere. Desta feita por dentro e por fora.

domingo, 18 de abril de 2010

Danças


Os serões de Domingo onde se dança, põem-me a pensar, ou não fora eu uma pensadora de excelência, quanto mais não seja porque tenho tempo para isso. É uma arte fantástica a dança, o ritmo, o corpo, e a conjugação de tudo isto, com gente de garra e de vontade. Só não entendo muito bem, o porquê da falta de noção de alguns, que se mexem de forma atabalhoada, e acham que dançam. É a liberdade no seu esplendor, claro que sim, mas tenho para mim que a noção do ridículo foge a muita gente, e isso não é saudável, embora exista quem ache que sim. É uma palavra que não gosto, ridículo. Revela-me sempre ausência de limites, que na dose certa, fazem uma falta danada à vida.

Calmas


No tacho tenho uma lebre, trazida dos campos pelo meu pai caçador. Cheira bem que se farta, emana um cheiro a alecrim que eu adoro. Com um bom vinho tinto e tenho o pitéu armado. Mais para logo, claro. Que nisto da culinária, como em outras coisas na vida, a calma é uma aliada de peso. Pelo menos na minha culinária e na minha vida. Nunca me dei muito bem com pressas.

sábado, 17 de abril de 2010

...

Hoje foste para longe, e eu, como sempre, deixei-te ir. Respeito tempos e distâncias alheias como ninguém, só ainda não descobri se é defeito ou qualidade. Nos entretantos comi um Mars, coisa quase centenária que me deixa um adocicado de caramelo na boca, que me lembra os intervalos da escola primária. Estes sabores de antigamente têm sempre um efeito estrondoso na minha disposição. Isso, e claro os tickets, que já cá cantam.
Só para ti, Save the last dance for me... Assim, à giza de conclusão...

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Ventanias


Tenho a mania que sou forte, robusta, inteira. E sou às vezes, outras nem tanto. Hoje, fruto do tempo, das hormonas ou sei lá eu de quê, morro de saudades da minha pequena peste, que logo, mais à noite, vai pregar para casa do pai dele até Domingo à tardinha. E vai feliz, e ainda bem que vai, claro que sim, que eu sou uma Senhora sabida do que é certo e errado, e completamente consciente das necessidades do meu pequeno filho. Mas enfim, tenho para aqui um vazio estranho. Que vou tentar preencher com um cinema, umas amigas, uma organização entre mana, prima e amiga, tudo numa empenhada tentativa de conseguir bilhetes para o melhor concerto do ano, entre outras coisas, que tenho sempre muitas. Por aqui o vento sopra alto. Dentro e fora da minha cabeça.

Disposições e consequências

As disposições alheias são estranhas. Como se tivéssemos a obrigação de aceitar estados de espírito, ao sabor de quem os sente. Cada um é livre de agir como bem lhe aprouver, claro que sim, mas tenho para mim, que o respeito pelo sentimento do outro é uma coisa bonita. Uma virtude a cultivar, caso se nasça sem ela, que ninguém nasce perfeito, e ainda bem, pois nada andaríamos cá a fazer, se não tivéssemos um caminho de evolução. Pena que isto do respeito ao outro, perde sentido em inúmeras frentes, surgindo desrespeitos por aí, em relações familiares, de amizade, pessoais. Julgo ser importante um treino, que aconselho amiúde, e que me auto sujeito, se necessário. Na dúvida, inverto papéis, e tento entender o outro. Pode parecer difícil, mas não é, pelo menos, tendo em conta o benefício recorrente. Muitas das vezes, sem essa inversão, ficamos aquém, do que fazemos sentir, e chegamos a ser injustos, quase inadvertidamente.
É que me sinto, por vezes, injustiçada, e não gosto mesmo nada disso. Não culpo, não exijo, e tento arrumar. Mas ando repleta de arrumações internas, e breve, muito breve, não tenho espaço para mais. E é nessas alturas, em que o espaço escasseia, que algo tem de sair, para novas coisas encaixarem, antes que surja o caos. Sou tolerante, é um facto. Mas sou demasiado boa a expulsar, quando a tolerância se esvai. E com demasiado boa, quero dizer eficiente, entenda-se. Logo, o bom, seria respeitarem-me. Para depois, não correrem o risco, de ficarem de boca aberta, no acto da expulsão, como que a querer dizer, que não entendem, que não esperavam, e que não tinha de ser assim. Nada tem de ser assim, claro, mas pode ser, se o vosso umbigo for grande demais, e deixar pouco lugar aos outros umbigos moradores da terra, incluindo o meu. É que isto de se esquecerem que eu também tenho umbigo, não me soa mesmo nada bem. E logo eu, que até tenho um umbigo tão jeitosinho.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Factos históricos, ou da evolução do Homem


Cá por casa, vê-se o Era uma vez o Homem, que o rebento adora, e eu quase. Verifico, que já em tempos deveras idos, as políticas eram caricatas. A cargos políticos, só concorriam os poderosos, fiéis cumpridores do pagamento de impostos, sendo assim possível exercer controlo sobre o poder, e criar um núcleo duro, inquebrável e impenetrável. Aparecem lá no meio uns revolucionários, assim, tipo alguns que eu conheço, que acabam invariavelmente de pescoço cortado. Neste campo, foi onde evoluímos qualquer coisa, que já não cortamos pescoços.
No resto, embora com outros meandros, estamos mais ou menos iguais.

Regressos pensados

Queria voltar no tempo, sabendo o que sei hoje, dizia-me alguém, como de resto, diz muitas vezes. Engraçado como esta sensação quase generalizada, em nada me persegue. Voltar no tempo, talvez voltasse. Mas saber o que sei hoje, dispensava de todo. Se coisas me fazem saudades, uma delas, poderosa, é a inocência. A capacidade de sorrir de nadas, de idealizar impossíveis e de acreditar no mundo, assim, mesmo a sério.
Na possibilidade de volta, o que eu queria mesmo, era saber isso tudo outra vez.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Nigella

Hoje, pus os olhos na Nigella. Invejo a descontracção dela, enquanto molha com a mão, pedaços de carne no molho de manteiga, com sei lá mais o quê.

Notícias


Que o Santo António cortou relações comigo, há tempo considerável, eu já sabia. Que outros Santos me olham de esguelha, também tinha conhecimento. Dispensava mesmo, era o São Pedro a manifestar-se, sempre que eu ponho um pé na rua. Tudo isto, pós visita ao dentista. E de passar o dia a iogurte, gelatina e vá lá, menos mal, gelados. Tenho por ora uma molha no pêlo, já mal disposto dadas as circunstâncias.
No meio do panorama, surge a notícia, já confirmada, da vinda de Michael Bublé a Portugal, a dia 2 de Novembro. E foi assim, que como por magia, a neurose sumiu.

Tolerâncias

Sou uma capitalista, é o que é. Só isso explica a minha aversão solene a tolerâncias de ponto totalmente despropositadas. Que para mim são quase todas, e ainda mais as atribuídas pela vinda do Papa ao nosso País, com todo o respeito, por ele e por quem o segue. Apesar de sermos um Pais maioritariamente católico, não me parece motivo para o fazer, numa época em que se congelam salários, se aumentam impostos e outros que tais, tudo, em prol do desenvolvimento do País. Que nos entretantos pára, um tempo considerável, lá para meados de Maio. Como se Fátima albergasse todos os funcionários públicos. Como se todos para lá fossem. Surge-me ainda questões pertinentes. Uma delas, será o destino dos que não ligam nenhuma ao Papa e ao que prega. Trabalham, ou ficam em casa, a gozar a tolerância? E os tais que ligam e que não vão caber em Fátima, que fazem? Ou então, a tolerância não serve a possibilidade dos fiéis se dirigirem ao Digno Senhor, e existe só porque sim, como a véspera de Natal, ou outra do género. Tudo questões interessantes, neste País interessante, com decisões interessantes.

Dias

O meu Benfica ganhou ao Sporting, coisa que é sempre de festejar. Ontem foi o dia do beijo, coisa fantástica, e já verdadeiramente celebrada. Tirando isso, hoje é o dia em que por cá chove, e em que vou até ali a um sítio que abomino. Onde me sento numa cadeira, confortável, é certo, me recosto para trás, bem defronte a um Senhor deveras simpático, mas com o verdadeiro senão de ser dentista, e de ter na sua posse máquinas barulhentas, e utensílios assustadores.
Ora então vou até lá e já volto.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Conquistas

Minha querida, conseguiste, parabéns. Ninguém te olha com admiração porque és espalhafatosa, antipática e brejeira, e isso deve doer como um raio. Passas por mim várias vezes por semana, e olhas-me de lado, claro, a mim e a toda a gente, e sem me conheceres pessoalmente. Pareces qualquer coisa semelhante a um trovão alucinado, o que só demonstra o teu desconforto. Por isso, hoje resolves-te chamar a atenção, e conseguis-te, ao ofender-me alto e bom som, só porque eu não vi o novo sinal a proibir o estacionamento, na porta da escola do rebento. Então passas-te por mim, e balbucias-te umas coisas estranhas. Depois, ao saíres do parque, abris-te o vidro do teu carro, metes-te a tua cabeça loura e esvoaçante de fora, e berras-te alto e bom som, isto aqui ninguém tirou o cóóódigo.
Nem te respondi, claro, que eu gosto de ser discreta. Mas fiquei feliz por ti, pois toda a gente te olhou, e tu gostas disso. Conquistas, é o que é.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

ponto e vírgula

o ponto final é um ponto estranho. pomos pontos na vida que nunca mais acabam, mas o tal, o final, não é posto assim ás primeiras. depende da nossa vontade, e muitas das vezes da nossa capacidade de mudança. não raras vezes, pomos um ponto. de separação, de reorganização, do que quer que seja. ao qual na altura chamamos final, porque é o que nos apetece que seja. para pouco depois, ou um bocado mais logo, recomeçarmos tudo outra vez, porque o ponto, não era tão final assim. já pus alguns, e tenho ainda outros que gostava que tivessem sido finais, e foram só pontos. ou até virgulas, ou assim. ás vezes faço este jogo em contexto de consulta. isto de pontuar situações. outras vezes faço-o a mim mesma, que dá sempre jeito. daí resultam por norma, duas situações. ou remato com os verdadeiros finais, ou tomo consciência da minha fraqueza, que ás vezes também acontece. de qualquer forma, sou apologista de que mesmo as fraquezas são para ser encaradas de frente. ganha-se sempre mais com um não consigo mas vou tentar, do que um consigo tudo, vocês é que não estão a ver. e eu também não.

Corridinhas e assim...

Da janela da minha humilde casa, tenho vista directa para a ciclo via da cidade. Uma via em tons de encarnado, quase bordeaux, construída com o propósito, nobre, de acabar como o ócio do pessoal. Bem sei que de Inverno, as caminhadas debaixo de frio e de chuva não apetecem, e que é no verão que as gentes acordam para a vida, e madrugam a caminhar. Mas não consigo deixar de achar caricata a extraordinária diferença existente do inverno para o verão, sendo que, por esta época, tudo anda, corre e marcha, sendo quase necessário um policia sinaleiro, a fim de evitar choques estrondosos. Fazem-se dietas de emagrecimento atrozes, e profere-se de boca cheia, que desta é que é, que desta é que vestem o biquíni, e que desta é que fazem furor. Tudo, devidamente proferido por figuras possantes e cheias de vontade, como a minha vizinha de baixo. Que nos entretantos, daqui a uns dois meses, já esqueceu toda a vontade primaveril, e já voltou a entregar-se ao sofá, sítio calmo e soalheiro, que partilha com os gatos lá de casa. Não me faz comichão, acreditem que não. Só quase me causa alguma soltura na língua, quando me pergunta, com ar triunfante, e tão possante como há um mês atrás, se não se nota que está muito mais magra. Eu, na minha boa educação, tenho por hábito encolher os ombros e deixar sair um tímido sorriso, a fim de preservar a força de vontade da Senhora. A ver vamos, até quando. Um dia destes, mais atarefado ou assim, em que me encontre atafulhada de sacos e outros pertences, rumo ao terceiro andar, ainda profiro alguma barbaridade, quase tão tamanha como ela, coisa que não seria nada bom de acontecer. Depois dessa desgraça, ainda me atirariam à cara, ser eu a responsável pala desistência da pobre criatura, tão esforçada e empenhada, e lá se iria a minha reputação de boa samaritana. A estas gentes, e numa de evitar conflitos internos na minha pessoa, entre sinceridade e simpatia, peço o favor de não me perguntarem nada. E de se cingirem aos vossos olhos, espelhos, maridos ou outros que tais. Boa? Boa!

domingo, 11 de abril de 2010

Domingos

Sinto-me sempre bem com o sol na cabeça. Que pode até fazer-me espirrar, ou coisa que o valha, mas que se faça. Gosto dele, e quando em boa companhia, esqueço-me, e quase destilo. Como sempre falo pelos cotovelos, imagem de marca da minha humilde pessoa, mas antes isso que coisa pior. Hoje foi Domingo, e eu falei que me fartei. O novo Magnum de coco e chocolate negro é um must, e sim minha querida, fiquei com inveja, e lambuzei-me num, mal vocês deram à sola.
A maravilha dos Domingos deve residir no facto de serem só uma vez por semana. Aproveitamos ao máximo, relaxamos, e vivemos cada minuto intensa e languidamente, porque o que nos escapar, só volta para a semana. Tenho para mim que existem mais coisas assim.

Amores


O amor é o mais belo dos sentimentos, por isso todos o querem, o ambicionam o veneram, mesmo os que não o conhecem bem. Quando vejo uma manifestação genuína, sinto-me bem. Hoje vi uma, daquelas mesmo a sério, terna, pura e tão intensa, que me fez pensar. Não me perco em políticas exageradas, casamentos, adopções e regras, porque é um sentimento por demais puro para isso. Perco-me na sociedade, e na sua terrível capacidade de manipular, de impor e de discriminar. Como se o amor, não fosse sempre digno de manifesto, e devesse ser castrado quando surge nas "pessoas erradas". Como uma pessoa velha e outra nova, uma de uma cor e outra de outra, ou como duas mulheres ou dois homens. Intriga-me que não percebam que o amor quando existe deve ser celebrado, pois nem sempre surge, assim, genuíno. Intriga-me que tantos se sintam no direito de julgar, de opinar, e de olhar para a vida alheia, com olhos de escárnio e de presunção.
O bom seria a abertura das mentes, e o encaixe definitivo de que não há pessoas erradas quando há amor. Ambiciono que para lá caminhemos. Temo, que a distância seja demais para o homem.

sábado, 10 de abril de 2010

O que tem de ser

Tenho um trabalho abrangente e constante, que isto de trabalhar com gentes é sempre assim. Hoje, em salto no estaminé, dou-me com a nossa enfermeira, também ela em salto forçado, por razões imprevistas. Ela e a prol. Três rebentos fortes e saudáveis, que berram que se fartam, correm, e incursam no meio dos meus velhinhos com um à vontade digno de pequeno ser. A mais nova, fica entregue a mim, que o cenário materno estava rodeado de pensos, sondas e outros que tais, nada próprios aos olhos da pequena. Um ano, tem a digna rapariga. Que me apertou o nariz, me puxou os cabelos, me pôs os dedos nos olhos juntamente com bocados de bolacha, e meteu toda a gente a sorrir para mim, e a perguntar se era minha. Não, não era, mas o malvado do apelo subiu-me a espinha, como que para me provocar. Já o arrumei claro, que isto nesta vida o que tem de ser tem muita força.
A minha avó é que dizia isto.

Relaxe

O relaxe de fim de tarde primaveril é bom. Bom daqueles mesmo bons, como um brigadeiro ou coisa assim, e não um bom morno e simplório. Na mesa, um Jornal e um Compal ligth de manga laranja, fresco e amarelo. Miúdos jogam bola no relvado, incluindo o meu, que se esgueira no meio dos outros, com um boné posto à malandro. Na mesa do lado, um casal conversa de forma amena, coisa que aprecio. Não a conversa amena, não o casal, mas a junção das duas coisas. Um velho, com ar de avô, está sentado numa sombra a olhar o vazio. Também, tal como ele, gosto de olhar o vazio. Antagónicamente, é no meio de nadas e de vazios, que encontro respostas para quase tudo.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Previsível


Toca o telefone e vejo que és tu. Entre duas balelas, dás uma no cravo e outra na ferradura, como de resto, já é hábito em ti. Estas amargas premonições assumem-se fortes, e eu não gosto delas. Existem coisas, que quer gostemos, quer não, não conseguimos banir. Insurgem-se, assumem-se. Quando as premonições são boas, claro que gosto, pela doçura da expectativa que antecede o momento. Estas, dispensava-as de todo. É como naquele dia, em casa da tua prima, em que eu já sabia, com um rigor doentio, o que tu ias dizer, porque deixas-te de me surpreender, porque nunca mudas-te nada. Eu acredito em mudanças, ou não fora eu interessada em mentes, e em trabalhar com elas. Pior de tudo, é quando a pessoa não quer, e fica assim, constante, e ciente da sua magnitude narcísica.

Como pessoa adaptável que sou, faço questão de mudar, e por isso, raramente deito roupa fora. Hoje, por exemplo, trago um casaco amarelo, que não vestia há anos, e estou a achar que me assenta que nem uma luva. Como se o resto fosse tão fácil assim.

Estado

Por ora, um estado de espanto, pela decisão do Tribunal Constitucional. Ainda me espantam coisas, é isso.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Crianças que não são crianças


Volto a falar de adopção, que está na ordem do dia. Assustam os números. Assustam as burocracias. Assustam ainda os pais (?) que escolhem. Idades, etnias e outras coisas assim. Como se uma criança, não fosse criança por ser de etnia diferente.
Ás vezes de facto não é. Porque a dureza da vida não deixa que seja.

Pobre menina rica

Há expressões que soam a sempre, e que são isso mesmo, de sempre. Olho para ela, e encanta. Ar doce, tez branca, cabelo claro e de caracóis. As roupas denunciam fartura, embora sejam marcadamente de adolescente. Ainda assim, o ténis é de marca, a mala também. Os óculos, joviais mas de porte. Blusão de pele, com pelo na gola, tudo envolto em bom gosto, ainda que ingénuo, pelo que me parece. É inato este, coisa que eu acho fantástica. Nenhum se lhe assemelha. Por muito que se trabalhe, as questões de estilo verdadeiro são muito inatas. Pode-se aprender qualquer coisa ao longo da vida, defronte ao espelho. Mas quem o tem genuíno, denuncia-o a léguas.
Fala-me do colégio, das freiras, das rezas, da mãe e do pai. Do que faz, do que quer ser, e do que não quer. Do que gosta e do que não gosta, e ainda do que os outros gostavam que ela gostasse, coisa que poderá parecer de menor importância, mas que aos 15 não é. Abre-se com uma magia incrível, e deixa que lhe disserte a mente, com alguma da sua ajuda e orientação. Gostei dela, da sua simplicidade e da sua capacidade de encarar a realidade que se lhe apresenta. Querem-na num lado, ela quer ir para o outro. Querem-na séria e compenetrada, quando ela é simples e sorridente, ao que ela sorri, claro, e muito bem.
O poder de algumas pessoas, por necessário que seja, deveria ser limitado por alguma entidade suprema, quando não se sabe até onde ir. Quando se incursa em terrenos, que por muito que pareçam nossos, não são, ou são só até determinado ponto.
É o protótipo da pobre menina rica. Felizmente, tem essência, outra coisa inata, juntamente com tantas outras. Ainda bem, que neste mundo imperfeito, existem estas coisas muito nossas, e nada construídas. A teoria da tábua rasa, é isso mesmo, uma teoria. E eu gosto tanto que seja assim.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Confortos

Numa amarga espera, pego numa revista cor de rosa, que fazer. Podia não tê-lo feito, é um facto, mas na sala do dentista, nada mais povoava a mesa, juntamente com uma Pública que eu já tinha lido, com um artigo do André Agassi, bem interessante por sinal. Não gosto delas.
Se eu fosse dentista, munia a minha sala de espera com revistas de viagens, ou de decoração.
Algo zen e soft, que relaxasse, e acomodasse. Pena que as envolvências não se assumam, dado em mim terem influência extrema.

Diz que sim...


Pois diz que sim. Que moro no País da calçada, que tenho mal do costado e que não devia usar saltos. E uma pessoa entra nas sapatarias deste lindo País, e eis que se depara com elevações destas, capazes de nos embelezar ao infinito, enquanto nos mazelam até mais não. Tendo ainda em conta que não passo o dia sentada, as consequências das minhas tropelias, assumem-se. Chegando a ser necessário, subir o terceiro andar da minha humilde barraca, descalcinha de meter dó.
Mas gosto destas, pronto. Tenho uma certa queda para gostar do que não devo, concluí entretanto.

Esperas

A espera é algo que cria ânsia, nos inquieta, nos desassossega. Irónica esta sensação, quando passamos a vida a falar de tempo. Quando queremos tê-lo e ele nos foge, quando lhe corremos atrás, quando parece perder-se. Para depois num ápice, quando esperamos que algo aconteça, esquecermos a sua preciosidade, numa vontade louca de que passe depressa. Manifestações da ingenuidade Humana, pois sei que sim. Ontem. Ainda ontem quando te esperava, a tal ânsia se apoderou de mim, como se mais nada pudesse fazer, senão esperar-te. Quer demorasses, quer não, eu estava única e exclusivamente à tua espera. Numa espera algo doce, claro, mas que eu queria que acabasse depressa, por sinónimo da tua chegada. Chegas-te. Olhei-te, toquei-te, sorri-te, como sempre, e tu retribuis-te, como sempre também. E tudo teria acontecido, ainda que eu não te esperasse, apenas e só.
Um dia ainda aprendo a não esperar. Não esperar, é uma virtude, para todos e em especial para alguns assim como eu, que ainda esperam vezes de mais.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Ingenuidades

Ás vezes intrigo-me com a ingenuidade. Não com a ingenuidade dos 5, ou a ingenuidade dos 15. Mas com a ingenuidade dos 40, ou mesmo dos 50. Lido de perto com algumas e não as entendo a fundo. Não são ingenuidades inexperientes, de quem nada viveu, não. São ingenuidades de quem parece não aprender, mesmo com erro, ou sofrimento.
Ou então são gentes que acreditam sempre, e que nunca perdem essa maravilhosa capacidade, que em mim já se esvaiu à muito. Não que eu não encare os outros esperança, que encaro. Mas uma esperança lúcida e em nada idílica.
Não deixo de admirar os estados de gáudio conseguidos por esta extrema capacidade de ilusão, e quase fantasia. Que por norma se esvai, mas que deve valer nos entretantos.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Aprendizagens

-Mããããeeee, olha o que o JP me ensinou
-Diz querido
-Pata, peta, pita, pota
Entretanto, comecei a ficar apreensiva, ao que ele termina:
-Ali vai a Maria Gaivota
Pronto, acalmei. Ou quase, ou assim...

(Eu sei, eu sei que tenho de aprender a andar nisto)

Elogios atravessados, ou outros nomes rebuscados


Engraçados os olhos alheios que por aí me miram. De ontem para hoje, dependendo de quem me vê, já fui mais gorda e mais magra, umas duas vezes de cada. Tudo devidamente proferido por bocas femininas, e com o devido desdém à mistura. Um dos "elogios", foi-me até ofertado, por uma cinquentona desdentada, de cabelo branco e arrepiado, linda que só visto. Aos olhos dela, estou cadavérica e com ar de cancelo. O que aliado ás minhas bochechas metidas para dentro, e aos meus olhos encovados (palavras dela), faz decerto, com que me assemelhe, sei lá, a uma qualquer velhinha prái de 80.
Hoje, de regresso ao trabalho, após uma escassa semana, engordei uns bons dois quilos. Foram as amêndoas, dizem-me sorrindo, mas não se preocupe, fica-lhe bem.
Sinto-me por ora bastante satisfeita. De cadavérica e mal encarada, passei a redondinha de bom aspecto. Isto tudo deve querer dizer, que posso continuar a comer amêndoas à vontade. Ou isso, ou então que as mulheres quando não sabem que dizer, deviam estar caladinhas, ou algo do género. Também podem sempre falar do tempo...

Factos


Pela manhã, findas as férias, a disposição não está no auge. Aguenta-se, mas existem melhores dias, muito melhores. No caminho do estaminé, oiço nas notícias das nove, os conflitos na África do Sul. A preocupação centra-se agora no Mundial, quase aí, e no estado de alguma calamidade que povoa a região. Já gostei de Futebol, agora já não gosto. Não do jogo em si, mas da envolvência, que vai desde os conflitos doentios, ás fortunas subjugadas.
Do racismo pouco teço, pois considero-o uma das mais profundas manifestações da mesquinhez Humana. Futebol, fanatismo e conflitos raciais, parece-me um cocktail demasiado perigoso e arriscado. A ver vamos.

domingo, 4 de abril de 2010

Imagens

A capa do Público de hoje chocou-me. Não valem de nada os meus choques, nem a mim, nem a ninguém, mas ás vezes, é-me impossível evitar. A junção, propositada e bem conseguida, claro que sim, de duas fotos extremistas, apelam-me a pensar, como se eu não gostasse nada disso. Numa, gente que morre de fome, noutra, a loucura do Ipad, nos Estados Unidos. Há coisas que me ultrapassam. Indignam-me, repugnam-me. Não sou seguidora ou apologista de teorias de fins de mundo, de miséria e de pestes. Não me fazem sentido, e assumem-se-me, como pura superstição e alienação. Não obstante as achar patéticas, julgo que a Humanidade está em perigo. Não própriamente enquanto espécie, mas enquanto gente, coisas totalmente distintas. Desigualdades, diferentes estilos de vida, sempre povoaram, e sempre irão povoar a raça humana. Faz parte, até para a sua continuidade e evolução. Mas choca-me, verdadeiramente, que em pleno séc XXI morra gente na miséria, de fome e doença, por carências básicas, que não deviam faltar a ninguém. Num Homem que se diz evoluído, deveriam surgir soluções. Num Mundo organizado, a ajuda humanitária deveria chegar efectiva, a quem mais precisa. Falar é fácil, eu sei. Agir é muito mais difícil. E bom mesmo, é comprar um Ipad, e esquecer que alguém morre de fome, por muito menos que o custo do mesmo. Problemas de fundo, claro, que envolvem gentes, sociedades, culturas, políticas, e outras questões quase incontornáveis. Não deixam de me revoltar, que fazer. E de me pôr, na língua justa que me povoa o corpo, palavras de indignação, na mesa da Páscoa, ironicamente recheada de tudo.
Valeu-me a Pública, para me arrancar já no pós repasto, umas boas gargalhadas, com o Quintela no seu melhor. E valeram-me as amêndoas, que não me adoçaram, mas que me distraíram.

Páscoa


Hoje é Pascoa. Que seja feliz.

Fundamentos

Há dias em que as conversas fluem, quase sem as pedirmos. Ás vezes, quase lhe queremos fugir, mas elas enrolam-nos, puxam-nos, sugam a nossa existência, porque tinha de ser agora. Já o tenho sentido mais vezes, e hoje reitero, que o seguimento natural da nossa existência, tem um qualquer fundamento.

sábado, 3 de abril de 2010

Tempos de qualidade


As férias com o meu filho são sempre um must. Longe de correrias, de horas, de pressas. Come-se, dorme-se e acorda-se quando se quer. Abraça-se sem pressas, e o tempo, esse que sempre nos foge, quase parece estar do nosso lado. Até está, temporariamente, mas está, que no fundo, no fundo, nem sempre é do contra. Estão quase no fim. Não as dele, mas as minhas. Mas valeram. E isso é que importa. Estraga-os com mimos, dizem-me bocas. Bocas amigas, sei que sim, mas longe, demasiado longe da razão.
O tempo, o mimo e o aconchego não estragam ninguém. Tenho cá para mim, que até fazem gente.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Viver todos os dias cansa

Há dias em que questiono posturas. Daquelas sérias, de vida. Quando encontro gentes de longe ou de perto que já foram mais minhas ou junto de mim. Olho para felicidades alheias, e admiro-as com força. Olho para mim, e admiro-me também. Não obstante, algumas vezes, julgo que a adaptação a isto ou àquilo, porque dá jeito ou assim, pode ser um caminho mais fácil. Um contentar-se com pouco, um querer quase nada. O Pedro Paixão diz que viver todos os dias cansa, e eu concordo com ele. Acrescento ainda, que viver a lutar pelo que se quer, deve cansar mais. Embora na maioria dos dias, eu ache que não me vou cansar nunca.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Paixões


Lindos, por Helena Langevin. Porque nem sempre a candura liga bem com jóias.
Pelas mãos dela, a ligação resulta na perfeição.

Pão, padarias, e assim


Gosto do cheiro do pão. Transporta-me, conforta-me, vem de tempos de outrora. Em pequena, o pão chegava à aldeia pelas mão de um padeiro velhinho, de cara enrugada e sorriso rasgado. Numa carrinha branca, que buzinava à chegada, e na volta da qual se reuniam gentes, de saco de pano, onde se podia ler em bordado manual, Pão. De dentro da carrinha vinha-me aquele cheiro, que ainda hoje me persegue. Na altura, o pão nem era propriamente um acepipe, muito menos o integral que a minha avó costumava comprar. Tenho para mim, que já era o cheiro que me fascinava.
Nas férias, invariavelmente na praia da Nazaré, o cheiro do pão andava nas ruas. Em cada esquina, existia uma padaria, com pão, arrofadas, sofias e outras delícias que eu levava para a praia enroladas em papel pardo, e que comia ragalada, após longas horas dentro da água gelada, que ainda estou para saber, como aguentava.
Já na cidade, constato a inexistência de padarias. O pão vendia-se em sacos de plástico furado, num qualquer supermercado, e quase não cheirava a pão. A minha ralação com elas reacende-se, quando me mudo para a Capital, até porque as coisas latentes em mim, são poderosas, e basta um aceno, ainda que ao de leve, pra se revelarem uma e outra vez. Nas portas do cemitério de Benfica, situa-se a padaria onde eu comprava, todos os dias, dois pequenos pães de cheiro delicioso. Nos dias em que me permitia, vinha ainda um pastel de nata, que me adoçava o lanche, ou a noite, envolta em livros de mentes estranhas.
No regresso à pequena cidade, senti-lhe a falta, claro. Juntamente com outras, imensas ou nem tanto.
Alguém por cá, me partilha a paixão, e eis que emergem novas padarias na minha cidade, duas delas, quase nas esquinas da minha casa. De um lado, pão e bolos do melhor que possam cheirar. Do outro, mais o pão. Numa variedade considerável, que vai do normal ao caseiro, do fofo ao recheado e por aí fora. Para juntar à festa, que me constitui a ida ao pão, vamos juntar um digno Senhor, alto e espadaúdo. Costuma usar um avental de um branco imaculado, e um lenço na cabeça. E sorri-me, sempre, quando me atende. Juntando esta delícia ao cheiro do pão, encontro dois dos meus sentidos plenos de satisfação. Fico sempre indecisa na hora da abalada, se traga o pão, ou se o traga e ele, chegando a pensar, já no delírio, em trazer os dois.
Tenho acabado sempre por trazer só o pão.

Bolacha Maria

Tempo de férias, é tempo de deleite. Como a estadia é por cá, deleito-me com coisas muito nossas. A noite de hoje, foi recheada de bolacha maria com manteiga, molhada cuidadosamente em café da avó. Não, não abri guerra ao chocolate. Foi só para variar.

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