quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Parte II

A história dela nem se assemelha, sendo que a trouxe de referência apenas para atestar a desgraça que pode ocorrer a uma pobre rapariga, que se veja envolvida em meandros destes, onde os homens entram de mansinho, e saem quase sem serem vistos, deixando entregue aos corpos de quem os recebe, a amargura eterna da geração no ventre, quando esta se dá amaldiçoada pelo demo. Ela casou primeiro, com o seu noivo de sempre, conhecido no bairro como um sério e honesto trabalhador, vindo de boas famílias, endinheiradas. Seus pais de imediato abençoaram a união, que melhor partido do que aquele, para a sua adorada filha, nem deveria haver na terra e nos arredores, pelo que ela deveria mantê-lo em respeito, e não se dar cá a grandes devaneios de rapariga moderna, pouco dada a cuidar da casa, e muito ambiciosa. Estudos e outros percursos, são para os homens que para isso foram feitos, para elas, resta a lida dos dias, a educação dos filhos, a obediência a quem lhe governa a casa, e o cuidado e zelo a esse mesmo, seu marido. Ainda longe de entender a preceito os meandros da feitura de gente, e já uma dessas lhe crescia na barriga, coisa de imediato detectada por quem a conhecia de perto, que o apetite voraz, nunca antes visto, pareceu toma-la de vez, não lhe deixando espaço para descansos, que de manhã até ser noite, e até, muitas das vezes, ainda sem raiar a aurora, e lá tinha de se deslocar à cozinha, munir-se de um prato de sopas e comê-las, sob pena de o sossego nem lhe subir. Um descalabro, que nunca se tinha visto por aquela terra, que chegava seu esposo a dizer, que nem bem conseguia estancar tal avidez, que todo e qualquer mantimento que lhe poisasse naquela casa, era de imediato surripiado por ela, que o engolia vorazmente, com um desfastio de meter intriga. São dois, dizia sua mãe, mulher que já parira uns poucos, e que nunca em suas panças, tinha sofrido tal apetite, nem na do seu primogénito, filho homem e viçoso, que lhe nasceu já entroncado, passando-lhe por entre as pernas nem se sabe bem como, tal o tamanho com que avistou a luz deste mundo. Ela nem se queria querer em tal teoria, que de resto, nem nunca tinha visto ali perto, ventres de onde nascessem mais do que um, número ideal nestas lides, pelo que nem percebia tamanhas aleivosias, vindas de boca de sua mãe, que ao invés de a tranquilizar a deixava numa pilha de nervos miudinhos, capazes de lhe levar o sono, a alegria, a energia, tudo, menos a fome.
Houve então um dia, situado na Primavera, mais precisamente a 22 de Março de 1978, em que logo pela manhã, sentiu um aperto estranho que lhe sugava as costas, um vai e vem de umas dores que lhe moíam as vísceras, numa inconstância que nem bem percebia. Seria talvez fome, pensou. (Continua...)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Deixar um sorriso...


Seguidores