segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Intento

Todos os dias dá a volta inúmeras vezes. Foi-lhe ofertado um boneco bebé, vestido de cor de rosa, com touca e corpo de esponja, que embrulha cuidadosamente de minuto a minuto, compondo agora o pescoço, depois o pé, daqui a pouquinho a mão. Não simpatiza muito com quem lhe chega perto, talvez por medo, insegurança, mas isto já sou eu que divago. Eu, tenho alturas em que me aventuro, e outras em que guardo uma distância de segurança, não vá a coisa torcer-se. Nos dias bons, encontra-se por norma a sorrir, coisa normal, que não foge ao padrão de acção habitual da maioria das gentes. Nos dias não, costuma apresentar um semblante carregado, de olhos semi fechados, que espreitam discretos quando lhe passamos na beira. Um risco quase incalculado, que a sacaninha é imprevista. Gosta particularmente de tapetes, que enrola debaixo do braço e deposita onde bem calhar. Também aprecia plantas, das mais diversas espécies, desde as Hortências que crescem na rua, a plantas de interior, que são sempre para arrancar pela raiz. Nas horas de passeio devemos sempre deixa-la passar, e mesmo que alguma intempérie se faça sentir lá fora, a rua é um território que é dela. Existem dias em que da janela, vejo uns cabelos branquinhos que esvoaçam ao vento, a uma velocidade vertiginosa, quase impossível de conceber, dada a idade. Entra por qualquer uma das portas, e pode chegar a deitar-se em camas alheias, que julga suas. Tenho dias em que me julgo forte. E em que gosto de pensar que não tenho medo de nada. Minto a mim mesma, a pior das mentiras que pode haver. Tenho um medo pavoroso, de perder a intenção.

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