sábado, 30 de janeiro de 2010

Opinião...

Ontem de noite, apanho um programa que fala, sobre um assunto que me faz pensar amiúde. A preocupação com as doenças terminais, centra-se, por norma na dor física. Importante sem dúvida, e ainda assim, longe, muito longe do ideal. Mas e a dor Psíquica? Será que alguém se preocupa com ela? Será que alguém pensa, no que sentirá alguém com um diagnóstico de morte a curto prazo? Será que se tem em conta, as crises de pânico e terror, que surgem na mente de que sabe que vai morrer, e deixar para trás os seus? Alguém pensará, decerto. Mas a nível de saúde, pouco se faz. Apesar das evoluções ténues, ao nível dos cuidados paliativos, o cerne, continua a ser o físico. No programa de ontem, encontro cientistas, que utilizam morfina para as dores, é certo, mas que utilizam também outras drogas, como o LSD, para amenizar e alucinar estados terminais. Para quem quer obviamente. E agora, será um erro? Eu, numa opinião, que vale o que vale, acho que não. Se alivia o sofrimento interno de quem está prestes a partir. Ilícita, ou não, ameniza dores profundas.
Porque ao invés do que se pensa por aí, a essência da vida está na nossa mente, na nossa psique, no nosso intelecto. É ai que está o poder da vida, do caminho, da mudança. Através do corpo, é certo. Mas só através. Porque será, que a preocupação central, quando tudo já está perdido, continua a ser o corpo, e se esquece a alma, como se ela nada valesse? Não concebo. Eu, não concebo.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Rasteiras

- Mãããeee, hoje fiz como tu me ensinas-te.
- Foi querido? Então?
- A M. queria magoar o G., e eu não lhe bati. Tu dizes que não se bate ás meninas. Então preguei-lhe uma rasteira, e ela caiu no chão...

Tenho para mim, que preciso de melhorar qualquer coisa, na arte de transmitir ensinamentos...

Futilidades úteis, ou a necessidade de todas as coisas...


Ás vezes, na futilidade das séries onde ponho os olhos, descubro apanágios dignos de referência. Entre os batons cor de rosa, as traições mirabolantes e as típicas neuroses femininas, existem os momentos que nos fazem pensar qualquer coisa. Ás vezes, nem me apeteciam. Digam o que disserem, achem o que quiserem, mas há dias que a última coisa que me apetece é pensar. O que me urge, na imensidão da noite, é postar os olhos em algo que verdadeiramente me alheei do mundo, me faça sorrir, e me extradite, assim, para parte indeterminada. Nesses dias, reservo-me ao direito de não ver telejornais, onde as desgraças reais e fabricadas, surgem em catadupa. Há quem se alimente delas, como para fazer crer que afinal, a sua vida de miséria, não é tão miséria assim, só porque existe miséria maior. Nunca me alimentei disso. Esteja bem, mal ou assim assim, a felicidade dos outros sempre me fez bem ao espírito, e fico feliz que assim seja. Voltando ás séries, ontem, num estúpido episódio das Donas de Casa Desesperadas, encontro uma verdades entranhadas valiosas. Parece impossível, mas foi. Num qualquer outro dia, seriam de valor, uma coisa boa de se ouvir, ou assim. Ontem, particularmente ontem, dispensava todos os pensamentos que dai decorreram. Mudei de canal. Vale-me ainda o meu poder de auto defesa, por demais treinado. Na tentativa de fugir aos devaneios, nem me apropriei bem do que dava por ali. Fechei os olhos e adormeci.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Alienação, e assim

Por alienação, entende-se arroubamento de espírito, que por sua vez, significa enlevo, êxtase, arrebatamento, ou encanto. Nós, estamos completamente à mercê deste estado. Ao qual não exercemos nenhum controlo ou manipulação. Uma fraqueza do Ser Humano, claro. Que, por norma, aliena com as coisas erradas. Por mim falo, que alieno por chocolate, e outros que tais. Também já fiquei assim com as pessoas erradas, e continuo a ficar. Prova provada que não é faculdade que se treine ou se pratique. Ainda não descobri, se deveremos seguir à sua mercê, ou se será mais prudente tentar ir contra. A minha experiência diz-me que o melhor é deixar-me ir, mas enfim. Quando tento ir contra, tenho lutas cerradas, o que não é particularmente bom. Quando me deixo ir, toco limites fantásticos. A perda subsequente, poderá ser uma consequência. Mas o momento, esse já é meu. Tudo isto para dizer que ando um pouco alienada, se é que ainda não tinham percebido. E um pouco, nem sei se se aplica.

Teatro

Olho-o, de mãos nos bolsos e aspecto frágil. Há posturas que revelam fragilidade. Mãos nos bolsos, enquanto se abana de um lado para o outro é uma delas. Mas há mais, como por exemplo coçar o nariz, por não saber onde se por as mãos. É de mim, eu sei, mas as fragilidades incomodam-me. Isto nem soa nada bem, vindo de alguém a quem a opinião alheia não costuma interessar lá muito. Ou quase nada, mesmo. De qualquer forma, a fragilidade é um assunto sério. Deixa no ar alguma vulnerabilidade com a qual não sei lidar. Como toda a gente, ás vezes sinto-me. Mais frágil ou assim. Ninguém dá por isso, a não ser que o assunto seja sério. Antagonicamente, é mesmo nos piores momentos, que a naturalidade se perde, e a capa surge no seu esplendor. Quase inquebrável. Não raras vezes, é nessas alturas, que oiço palavras, vindas do nada, que me dizem que aparento o contrário. Sou uma boa actriz, neste aspecto. Talvez um dia faça Teatro ou assim. Gostava que fosse no Parque Mayer. Gosto sempre de chegar à essência.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Há sete anos...

Há sete anos atrás, por esta altura, eu estava grande. Grande por fora, entenda-se, coisa que não é costume. Calçava uns números acima, vestia umas calças com elástico de bombazina cremes, e uma túnica de ganga ( as únicas coisas onde cabia). Dormia 14 horas por dia, ia à casa de banho umas 30 vezes, e comia tipo alarve. Comida de panela, nada de saladas ou coisitas assim. Não sei muito bem como, mas ainda trabalhava. Ou melhor, arrastava-me por entre o estaminé da altura, e refilava com toda a gente. As minhas hormonas estavam do piorio. Passava o dia à espera da altura de chegar a casa, estender-me no sofá e dormir uma sesta. Logo após devorar quilos de comida, é claro. Ao invés dos meus 55 kg habituais, tinha 75 ou e 6, ou e 7, nem sei bem, que desisti de contar. Era uma bola, com pernas, braços, e um pequeno reguila lá dentro, que dava voltas sem parar, nem sei como, em tão pouco espaço.
Está quase a fazer anos, em que o pus cá para fora. É a melhor coisa que tenho na minha vida. Mas não, não gostei de estar grávida. Perdoem-me as muitas mães que adoram esse estado de graça. Para mim, o estado de graça chegou depois. Sou do contra, já sabem.

Maníacos de Qualidade

Ontem, no meu percurso pelos canais de televisão, descubro uma entrevista, com a Joana Amaral Dias. O mote, era o seu novo livro, Maníacos de Qualidade, pronto para sair. Nele, retratam-se 8 Personalidades Portuguesas históricas, marcadas por algum distúrbio psíquico. Mais um para povoar a minha estante. Estou ansiosa pela de Fernando Pessoa. E outras também.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Os tempos

mãe, vou fazer uma rima
ok, digo, esperando algo como quem vai ao ar, perdeu o lugar, ou assim.
quanto são mil mais mil, diz-me entre sorrisos...
dois mil filho
despe as cuecas e vai para o Brasil, e não te esqueças de levar o happy meal.

bom, comecemos. primeiro, não consegui ralhar logo, nem depois, pronto. acho que corei, para depois sorrir para dentro, para depois despejar qualquer coisa como, isso não se diz querido, é feio. quem te ensinou?
foi uma menina da escola, responde, na maior das naturalidades.
conclusões: os tempos evoluíram. dantes, eram os meninos que ensinavam estas coisas ás meninas, agora é o contrário. os tempos evoluíram, parte dois. dantes, estas coisas começavam lá para os 8, 9 anos, e o meu pirralho tem 6. os tempos evoluíram parte três, porque remata com aquela coisa gira, e completamente fashion, do happy meal.
é isto a mudança dos tempos. é isto eu a ficar velha. é isto.

Grave, digo eu...

Oiço, nas notícias das nove ( as únicas que oiço, quase invariavelmente), que milhares de Portugueses têm dificuldades de acesso a tratamentos médicos, por fracos recursos económicos. A dificuldade centra-se, principalmente, em cuidados ligados a oftalmologia e estomatologia, que de resto, são considerados tratamentos não essenciais, e como tal, sem comparticipações da Segurança Social. Num País que se diz desenvolvido, isto parece-me uma aberração. Dissertando mais a fundo, parece-me bem, por exemplo, que caminhemos a passos largos, para uma população de gente de vista curta ( este termo aqui soa-me a ambivalente, ou assim), e de bocas desdentadas. Que bem que ficaremos nesta situação, completamente enquadrados no cenário primeiro mundista, ao qual nos propomos pertencer. Alargando a teoria de Darwin, ao desenvolvimento do mundo, qualquer dia, quando menos esperarmos, iremos, sorrateiramente, descolar-nos da Europa. E ficarmos situados geograficamente um pouco mais abaixo. Com todo o respeito por eles. Que se assumem como Países subdesenvolvidos, a lutar e a sorrir, com os poucos dentes que lhes restam na boca. Boa, Senhores Dirigentes? Bom, pelo menos levamos com sol na testa o ano inteiro...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Dispensava...

Essa coisa do desemprego anda por aí, ao desbarato, a assolar o pessoal. E não percebo muito bem, porque é que gentes do meu ramo, teimam em que hei-de largar o meu estaminé, e rumar para o deles. Já estive indecisa. Já ponderei, pesei prós e contras, e já disse não. Arrumei o assunto, que tanta dor de cabeça e comichão nos piolhos me deu. Agora, resolvem voltar à carga, com nova proposta. E não é pela minha extrema competência, que não sabem se tenho ou não. Nem pelos meus lindos olhos, que são castanhinhos do mais banal que existe no mundo. Cá para mim, é teimosia exacerbada, desmedida, e apostada em baralhar a minha cabecinha, tadinha, tão cheia de indecisões.

É um tema delicado, e que respeito muito. Perdoem-me o tom de brincadeira. Foi à giza de distracção, estou a precisar. É que eu, como de resto quase toda a gente, também sei o que é procurar emprego sem ele aparecer. E esta Empresa, que agora tanto me quer, já me disse que não uma vez, admitindo outra pessoa. Com todo o direito, obviamente. E essa, é uma das razões, que me faz agora querer dizer não. Embora por outras, me apeteça dizer sim. Dilemas. Dispensava-os. Isto serve ainda para perceber que a vida não é bem certa. Ás vezes queremos um e não temos, outras vezes surgem dois.
Vendo pela positiva, tenho a possibilidade de escolha. Pior, é quando a indecisão se instala, e nos faz adiar decisões. A modos que estou assim.

Ide ver, ide

Já tinha lido a crónica, e hoje, encontro-a no blog da Diáspora Blasée. Eu, que sou da ciência da psique, não posso concordar mais. E embora duvide, do efeito reversivo da coisa, quando se dá o caso, meus caros Senhores, bora lá a ser altruístas, que nunca se sabe, ok? Nós, Mulheres, ficamos agradecidas.

A César...

Gosto de programas de entretenimento. Aos Domingos à noite, e outros dias assim, em que pouco surge para fazer, ocorre-me estender no sofá, apagar as luzes, beber um chá, e procurar algum. Alterno com frequência com aquelas séries de médicos, de mulheres ou de crimes que povoam os canais da Zon. Ontem, e porque estamos na recta final, pareceram-me bem os ídolos. As vozes que se ouvem valem a pena, e os olhos do Filipe são bons de ver. Gosto de olhos azuis, que se há-de fazer. Não gosto mesmo nada, é do Júri. E gosto assim assim da apresentação. O Senhor, que não me lembro do nome, tem alguma piada. É simpático, sabe falar, e manifesta a descontracção exigida, pelo menos, quase sempre. Já a Cláudia Vieira, e com todo o respeito pelo seu estado de graça, tem um padrão de acção demasiado fabricado, muito pouco natural, que não abona nada em favor dela.
Não pensem já as más línguas, que me encontro possuída, pela tradicional e malévola inveja feminina. Nada disso. Gostei muito de a ver numa qualquer novela que não me lembro o nome. E pareceu-me ainda uma boa escolha, para encher o País, com as fotos da Lingerie da Triunph. Representou bem a nossa classe, sim senhor. Apresentar é que, enfim. E nestas lides da TV, eu cá sou das que acho, que se se for bom numas coisas, não se deve perder tempo com outras. Tempo e imagem. Fica-se aquém, ou assim.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Da dança

Uma noite de Música ao vivo, torna-se sempre animada. Músicas da praxe, como Chico Fininho do nosso Rui Veloso, ou Cinderela de Carlos Paião, fazem as delícias de toda a gente. Nos entretantos, tiro conclusões. Reafirmo ideias e opiniões. Quando o ambiente aquece, e as músicas seguem para um Martinho da Vila, ou outras do género, o pé pula, e a vontade é de mexer. E o que pula sempre primeiro, é o das gentes de raça negra. Podemos saber qualquer coisa da arte da dança. Sabemos, gostamos, uns mais, outros menos. Mas a dança, é deles, sem dúvida. A empatia entre pares, a melodia dos passos e a intensidade da dança, completamente isenta de pudores, põem-nos a um canto. Ainda me lembro, de em adolescente, me dizerem que dançava como eles. Um disparate, que não dançava coisa nenhuma. Digo eu agora, com olhos de ver. Na altura, enchia-me de orgulho, inchava tipo sapo, e abanava-me, ainda com mais afinco. Como se a essência fosse mexer as ancas, e a alma, não viesse ao caso.
A dança é algo que me persegue à anos. Gosto dela. É uma arte que liberta.

Hoje é Domingo, e ontem dancei e comi pão com chocolate. Tenho cá para mim, que vou ter um bom dia. Ainda por cima está sol e eu já lhe sinto saudades.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Egoísmo


A Revista Nós Egoístas está levada da breca. O egoísmo é uma característica inerente ao Ser Humano, e ainda não percebi muito bem, porque é que não está contemplado, nos pecados mortais. Se calhar o melhor, e para não desprestigiar nenhum, era acrescenta-lo, e ficavam oito. O umbigo das gentes tem um poder alucinante. Talvez por ser a origem da vida, ou qualquer coisa assim, centramos nele uma importância fantástica, e o seu bem estar, é o que nos rege até ao fim. Ao ponto extremo, de se perder coerência nos actos, e se prejudicar quem mais se ama. Terrível, quando se perde o discernimento, e se chega aqui.
Para agora não pensar mais, em assunto de tamanha delicadeza, e porque é Sábado, quase Domingo, vou até ali comer uma baguete com chocolate, e talvez disserte sobre ele, num outro dia. E chocolate, não é tulicreme ou algo assim, é mesmo barra de chocolate. Se ainda não se deliciaram com tamanho pitéu, faz o favor de experimentar. É bom que se farta.
Não sou egoísta, digo eu, mas tenho o pecado da gula. Malvado. E outros ainda, que não vêm agora ao caso.
Só aqui que ninguém vê, posso dizer-vos que há quem me ache perguiçosa. Coisas.

Cabelos

O fim de semana começa com a árdua tarefa de acabar com os malvados dos brancos que me assolam a testa. Não gosto deles nem um bocadinho, e passo a vida a extermina-los. A minha relação com pelo e cabelo é estranha. Nuns sítios, pinto, cuido, arranjo. Noutros, arranco, dissemino, dou-lhes cabo da existência,a toda a hora e a todo o minuto. E tudo isto dá uma canseira do pior, e leva-me rios de dinheiro da carteira. Vá lá entender-se as mulheres.

Loguinho, encontro de parolas. Mulherio, portanto. Um must. Tenho saudades delas.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Poderes

O meu filho tem um poder sobre mim. Calculo que partilhado por todos os filhos e todas as mães. Noite em que me deite ao seu lado, na sua pequena cama de pessoa e meia, sou invadida pelo seu calor, cheiro e aconchego. Adormeço num ápice, mesmo sem sono, ou numa noite não. Acordo, invariavelmente, umas horas depois. Com um pontapé ou algo assim, como que para me fazer lembrar, que a doçura da vida, é para ser tomada com calma e ponderação. E ainda que um filho, embora filho, é uma pessoa, com espaço próprio. Por muito que nós, mães, achemos, por doces momentos, que eles são pertença nossa.
E ainda há quem ache, que não se vive de ilusão.

Desistências


Inerente à nossa condição de Ser Humano, temos limitações. Coisas que queremos realizar e não conseguimos, objectivos que queremos atingir e não nos é permitido. Falo em coisas possíveis, não em utopias. Mas mesmo essas, as possíveis, ás vezes não são, por isto, ou por aquilo. O caminho é de luta constante, de perseguição, de esforço. Ás vezes, não muitas, mas algumas, penso no quando é sensato desistir. Eu já desisti, em algumas situações. No entanto, deixa-me amiúde a sensação, de que talvez fosse sensato ter lutado mais um pouco. Ténue esta linha de acção. Não gosto dela.
Diz-se por aí que as desistências são próprias dos fracos. Serão, em certos casos. Outros há, em que são próprias dos fortes. Dos muito fortes. Porque há desistências, difíceis como um raio. Em que é mais fácil continuar caminhos errados, que encarar incertezas e caminhos alternativos. E são essas as desistências que não são para todos.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Sentimentos

O giro de trabalhar com gente, é apanhar coices, porque faz parte, mas é também apanhar com pessoas fantásticas, que ás vezes, nos dias maus, duvidamos que existam. E existem. Onde menos se espera. Quando nem se pensava nisso. E gosto deste sentimento que me deixa, de que afinal, o mundo é simples. Mesmo que entretanto a sensação passe, e me deixe lugar à loucura de sempre.

Menina de bem

Sou menina de boas famílias. Nada de grandes riquezas, mas boas. Sérias qb, pelo menos por fora, e o por dentro não interessa nada, porque ninguém via. Ninguém via, por exemplo, o meu avô, a lambuzar-se nos lábios da professora a quem arrendava um quarto. Via a minha avó, pelo buraco da fechadura, mas que importa isso, se mais ninguém via? Nada, absolutamente nada. Mas importa à minha querida avózinha, que eu, primeira netinha, criada com tanta dedicação e afinco, mandei os pés à parede, e não me apeteceu continuar com um casamento que não me convinha. Toda a gente vê, que estou encalhada, sozinha que nem uma desgraçada, com um filho para criar, e outra desgraças inerentes. Isto não se esconde, e é sabido na santa da terrinha.
Querida avó, com todo o respeito, agradeço a preocupação, manifesta amiúde, sempre que me pões a vista em cima. Gosto muito de ti, és um doce, uma dedicação como não há, ensinaste-me a bordar e a cozinhar com mestria e arte, aturaste-me as birras de cachopa ladina, e fizeste-me mais uma série de coisas boas.
Mas Maria Carmina, és tu não sou eu. Entendidinhas minha querida???

Brincando com a situação, confesso que já não sei que lhe faça. A velhinha anda que nem pode, para me arranjar um noivo. Já estou quase tentada, a lhe apresentar um fictício, para lhe acalmar o espírito.

Tristezas ou algo mais.

É da moda, tal com uns sapatos, um casaco, ou assim. Tornou-se corriqueiro o uso da palavra, banalizou-se. Usa-se e abusa-se, sem critério ou diagnóstico conciso. Falo do Estado Depressivo. Não sei se as pessoas acham interessante, sofrer do mal. Se acham um qualquer meio para atingir um fim. Se simplesmente desconhecem a origem do termo, e o utilizam erradamente. Segundo o DSM IV, implica a ocorrência em simultâneo de um conjunto de factores. Como tristeza acentuada, perturbações do sono, alterações de apetite, diminuição de energia e dificuldades de concentração. Está sempre associado um sentimento de sofrimento profundo, e podem surgir, em casos limite, ideias suicidas. Estes sintomas devem ter uma duração no tempo. Só nestes casos, admitindo as inúmeras variâncias que possam surgir, e falando em termos gerais, obviamente, estamos presentes, a um caso clínico de um Estado Depressivo.
O que me faz falar sobre isto, é a generalização do termo. Noto, com alguma indignação, que se usa e abusa de uma doença real, difícil, que causa um sofrimento atroz a quem a sente de verdade. E se aplica o conceito, por aqui e por ali, por tudo e por nada, só porque se está triste.
Não se entende, nem se aceita, que a tristeza, por si só, faz parte da vida e do crescimento. E que é normal, por vezes, estarmos tristes. Por diversos factores e circunstâncias. Mas isso, não quer dizer que estejamos perante um episódio Depressivo. Quer dizer que estamos tristes, apenas e só. E faz parte, e faz falta, e não é doença, ou limitação. Pelo contrário. Faz crescer.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Únicas


Eu, que até sou da descrição, fiquei apaixonada. Porque existem coisas garridas, coloridas e assim, que devidamente conjugadas serão únicas. É o caso.
Eu, calçava-as juntamente com um vestido preto, e como adereço, um fio dourado. Apenas e só.

Do frio na espinha

Há situações que me fazem um frio na espinha. Engraçado, como podem ser tão dispares. Há frios na espinha fantásticos, e frios na espinha quase, ou mesmo assustadores. E depois, existem ainda os que vagueiam, entre o sentimento bom e o sentimento algo angustiante. Que nos deixam meio abananadas, porque não conseguimos muito bem lê-lo. É estranho este. Como tudo o que é misterioso, de resto. Gosto de um frio na espinha devidamente identificado.
Por norma, não me acontece assim, por dá cá aquela palha. De ontem para hoje, tive dois. Um, em que ia no carro a ouvir uma música fantástica. Na estrada, alguém me pediu boleia, que não dei, por razões óbvias. Mas recuei ao dia, em que num desaire adolescente, eu e uma amiga pedimos boleia. Foi uma experiência que não esqueço mais, dada a sua singularidade, e que ainda me faz arrepiar.
O outro frio, foi o tal do sacana que eu ainda não identifiquei bem. Que me fez sorrir, mas de lágrima quase a saltar. Ainda não o arrumei, mas a verdade, é que o sentia já outra vez. Se calhar, afinal, os frios na espinha acompanham mesmo algo de bom. Ainda que esse bom nos assuste.

Obs: Frio na espinha é uma expressão um tanto ou quanto estranha. Mas é que é mesmo isso que sinto. Um frio. Na espinha.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Saltos e essas coisas

A manhã começou bem cedo, sem motivo aparentemente justificável. Dei voltas, e mais algumas, enfiei os tacões em calçadas, mas cumpri objectivos. Esta coisa da calçada Portuguesa, é capaz de ser motivo suficiente, para me fazer repensar onde vou passar a minha vida. Isto de se ser marca caixote já tem muito que se lhe diga, quanto mais ainda, ter de ficar presa nas pedras da rua sempre que se dá um passo. Depois, e não pertencendo à classe das pessoas que reivindicam por tudo e por nada, ás vezes, sinto comichão na língua. Um objectivo para atingir, e mil obstáculos para transpor. Ou é de mim, ou não me faz lá muito sentido. Uma manha perdida, uns saltos arruinados, um calo fustigado, uma chuvada traiçoeira, que me minou de caracóis, e eis que estou no estaminé. Hoje é um daqueles dias, em que já me apetecia cá chegar. Coisas.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

...

Os trilhos seguidos são estranhos. Nunca os entendi, se calhar porque também não fiz esforço para isso. Ele era lindo, e de um charme inconfundível. Cresceu, no meio de muito sofrimento, próprio da época. E próprio, essencialmente, das famílias onde o álcool estava presente. Vivia-se assim, por ali.
Ao Domingo, comia-se carne, logo após o patriarca fazer a melhor escolha. Ao de semana, comia-se sopa de feijão, ou uma sardinha, que gerava luta entre irmãos. A mãe, a grande mãe, trabalhava de sol a sol. Dava o que podia, que não era muito. O amor era escasso, por falta de tempo, e disputado. A violência, essa, estava sempre à espreita do outro lado. Debaixo dos olhos que me amaram tanto, que nunca ma deixaram ver. Tive sorte, eu.
Existências de alguma forma tristes, que deram origem a alguém de valores trocados, objectivos indefinidos, caminhos errados. Muito errados, e acompanhados de perto por muitas injustiças cometidas. Já o condenei. Já me revoltei, em alturas diversas. Raramente, ou poucas vezes lhe tentei chegar, tais as marcas que me deixou.
Ontem oiço-a dizer que está triste. Porque ele está longe e infeliz. Eu, na minha altivez, reclamo, e remato que as escolhas foram feitas por quem de direito. Ela dá-me alguma razão, mas diz-me, de voz trémula, que foi ela que o ensinou a andar.
Julgo ser esta, uma das facetas dos perdões. Entendi-a. E no fundo, no fundo, estou com ele. Porque a vida, ás vezes é um bocado p... E tristes dos que não conseguem ser mais do que ela.

Imparcialidades...

Ontem, com os Ídolos, percebo que consigo alguma imparcialidade. Ao ver alguém, que até nem simpatizo muito, fazer um trabalho, que considerei notável. Esta coisa da imparcialidade tem que se lhe diga. Ás vezes não consigo sê-lo, o que deveras me irrita. Agarro-me à opinião inicial com unhas e dentes, e tenho de parar, e pôr a mão na consciência, a fim de me isentar. Dá trabalho isto. É muito mais fácil enfiar tudo no catálogo, e fechá-lo a sete chaves.
Só tenho pena, é que o ferrenho do meu pai, não consiga este feito, quando vê o Sporting.

Fugas...

Passo por lá, como de costume. A imagem que me assalta é sempre a mesma. A da passividade, da acomodação, a algo que não traz bem estar. Os sentimentos mais negativos, embora vão surgindo, à revelia de quem os sente, também não se fazem sentir com intensidade. É o dia a dia. O vamos andando. O assim, assim. Dentro de mim, costumo catalogar coisas. Catalogo estas vidas assim, na categoria das percas de tempo, como se o tempo, se pudesse perder. Tenho algumas pessoas lá encaixadas. São aquelas que por norma, passados uns anos, olham para trás, e não sabem muito bem, o que por cá fizeram. Que têm dentro delas, uma mistura de sentimentos mornos, objectivos inatingidos, e vidas à média luz. Ás vezes, num acto de alguma covardia, fujo. Não que goste menos delas, ou algo do género. Mas porque não gosto dos sentimentos que me deixam. Um sentimento que alterna entre a pena, coisa que abomino, e a incapacidade de mudar o que tem de ser mudado. Persegue-me ainda um medo, alucinatório, bem sei, de que esta patologia do quotidiano, me apanhe, me cerque e me prenda, para não mais me deixar escapar.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Charme


Olho para ela, de vestido preto, e gabardina creme. Uma combinação que não trai, logo, pertence ao grupo das raridades, convenhamos. O cabelo é louro, aos caracóis, e o tal do sorriso, que tanto venero, surge sempre, nos seus lábios. Encontro-me sentada numa esplanada a bebericar um café. Sim, sou das que se senta em esplanadas, mesmo em dias de Inverno. E não é por ser fumadora, ou qualquer coisa assim. É só, porque ás vezes, me apetece. Fico a olhá-la, e reafirmo a mim mesma, o que já pensei tantas vezes. Há mulheres, pequenas, roliças, muito longe da perfeição, que têm um encanto e uma graça inconfundível. Não sei porquê. Por nada em concreto, mas por um conjunto de coisas. É o que chamo de charme. E nos Homens também acontece.
Gosto quando encontro um.

Para a próxima

Antes da saída ainda passei na varanda. Não para ver o tempo, mas para estender roupa. Na varanda em frente à minha, outras dignas Senhoras fazem o mesmo ( três, pelo menos, vi eu). No andar de baixo, um digno Senhor fuma um cigarro, com uma chávena de café na mão. Não quero saber que desdenhem estes meus desaires. Se tiver direito a escolha, para a próxima, nascerei Homem. Não só por estas, mas por estas e por outras.

Domingo

Estes Domingos cinzentos têm algo de mágico. Preciso de ir fazer umas compras cá para casa, logo tenho de sair. Vou aproveitar e comprar o meu jornal favorito e um frasco de Nutella. Porque é Domingo. Porque me apetece. E prá magia ser perfeita.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Memórias...


O meu filho quis, e eu deixei. Existem hábitos, intrínsecos de cada família, mais ou menos saudáveis. Que fazem parte, que se assumem como tradição, que se tornam lugar comum. Surgem, de acordo com as prioridades de cada um, que diferem, obviamente. Lembro-me de, em pequena, a minha mãe me barrar o pão com manteiga. Sempre com manteiga, e nunca com Tulicreme, que me fazia mal aos dentes, e outras coisas terríveis. Na casa da minha amiga C., o pão era caseiro, cozido no forno a lenha da avó, e barrado com Tulicreme. Não havia para mim melhor pitéu, que lambuzar-me numa fatia de pão quente, devidamente barrado com o dito chocolate. Que ficava assim, muito derretido, e com um sabor indescritível. Na casa dela, era saudável, na minha não. Como era saudável e normal, aos fins de semana, ela ficar noite dentro, com a mãe, que realizava tarefas de costura. Na minha casa, mesmo ao fim de semana, a hora de ir para a cama, era um ritual quase sagrado.
São normais estas diferenças. São normais diferentes ritmos, diferentes prioridades, de acordo com a vida de cada um. O que é vulgar numas casas, em outras é quase tabu. O meu pequeno J., bebe leite com mel, o meu vizinho de cima, bebe com chocolate. O meu J. faz desporto, porque considero importante, outros não o farão, pois não se encaixa nas suas prioridades. Terão outras, não melhores, ou piores. Simplesmente outras.
Ontem, ás 10 da noite, o meu pequeno foi convidado a comer pizza, na casa do vizinho, após já ter jantado, lavado os dentes, e afins. Resisti, mas cedi.
Eu, também lanchava, o tal do pão com manteiga, para depois me empanturrar de pão com Tulicreme na casa da vizinha. E nada me sabia melhor. Mesmo já de barriga cheia.

Nota: O rapazito não gosta de Tulicreme, Nutellas e afins. A minha linha agradece. Mesmo.

Coisas...

Ontem, numa fugida à socapa, esbarro nos saldos. Outra vez, pronto. A minha mãe diz, e eu assino em baixo, que me faz sempre falta qualquer coisa. E engraçado que nestas coisas das futilidades, o que mais falta me faz, é sempre, invariavelmente, o que mais tenho. Ou seja, casacos, lenços, malas e sapatos. Uma situação antagónica, diria eu.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Reclamações

Na onda da introespecção, apetece-me, por ora, reclamar. Porque apesar da minha filosofia ser a do optimismo, da oportunidade, da circunstância, nem tudo é como eu quero. Embora ás vezes, o meu eu narcísico, goste de pensar que sim. Então inquiro-me sobre o que fazer. Quando na nossa mão detemos o que queremos, da forma errada, ou no tempo errado. Os tempos são assim qualquer coisa estranha, que umas vezes coincidem, outras não. E embora o ano, o dia e o mês sejam o mesmo para toda a gente, o tempo é muito mais do que isso. Ou melhor, é o resto, porque o tempo concreto, não pode nada, ou pode pouco, perante o tempo de cada um.
Cabe-nos a nós alterar o que está mal. Ou viver com o que está bom. Como se as dissociações fossem possíveis, e conseguíssemos apreender apenas, a gema de cada coisa.
Concluo por vezes, que com as perfeições que por aqui ambiciono, seríamos qualquer coisa semelhante ao Super Homem, apregoado por Nietzsche, plenos de sapiência e valentia. Talvez seja por isso, que eu gosto dele e das suas teorias, como de resto, da generalidade dos Filósofos.
E agora, como em momentos, muitos momentos, ocorre-me um chá. De sabor a menta, com uma colher de mel. Um agridoce intenso, meloso, e delicioso. Gosto disso. Eu e os meus chás temos uma relação próxima.

Espíritos

Pois é. Vindos do nada, ou do tudo, surgem matreiras. Como para nos fazer lembrar que esta vida, também tem destas coisas. E surgem sobretudo porque deixamos que elas surjam. A abertura ao Mundo é uma Ciência abstracta, procurada por alguns, esquecida por muitos, e desconhecida de tantos. Depois existem os outros, os que já lá estão, que serão poucos, e os que vão no caminho. No bom do caminho, nos quais acho que me incluo. Tenho para mim, que a consciência da importância do espírito aberto, nos leva a paragens divinas. Daquelas divinas a sério, e não dos divinos que se rezam por aí. Porque é quando o espírito se abre, que as essências se absorvem. Hoje fui feliz, ao ver uma cegonha a voar na chuva. Porque estava apta para, e esqueci o resto. Outros não seriam, outros seriam. E foi bom ao ponto, de me apetecer tremendamente, vê-la outra vez. E ela era uma cegonha.
Se calhar, serei lamechas. Que seja. Isso ou o que for. Se daí advirem sentimentos destes, por ver um Pássaro.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Aparências

Intriga-me esta extrema urgência em aparentar. Como se o nosso Eu, e o nosso intimo disso sobrevivessem. Como se a nossa existência, depende-se das sensações criadas nos outros. Como se a realidade transmitida, nos desse mais, do que a realidade sentida. Como se me valesse para algo, o que os outros julgam ser a minha vida.
Enquadra-se esta perspectiva na falsidade dos dias, das pessoas e da sociedade. Cada vez mais. Há coisas, nas quais regredimos no tempo. Em eras longínquas, abraçava-se, beijava-se, sorria-se ou chorava-se, de acordo com a vontade. Não de acordo com as opiniões. Os cérebros evoluídos também têm um lado lunar. Ou é isso, ou não são tão evoluídos assim.

Carlos Santana


Diz que vem por aí. Em Maio, no Pavilhão Atlântico. Não sou fã incondicional, embora goste bastante. Mas é um Mestre. E eu gosto sempre de assistir a espectáculos de grandes Mestres, que incutem no que tocam, uma paixão indescritível. Está em ponderação.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Dedicações...

Olho para ela, de olhos grandes e redondos. Teve, recentemente, uma paralisia facial, decorrente da Esclerose Múltipla que a assola desde os 30. Em franca recuperação, consegue rir. Diz-me, com alguma indignação mascarada: Os Homens têm mais sorte. Chegam ao Hospital, sempre, ou quase sempre, acompanhados das Esposas, que os acompanham, que os cuidam. Nós, as Mulheres, chegamos sozinhas, ou com os bombeiros que nos levam. Porque os Maridos, esses, já nos deixaram há muito, perante o cenário de uma Mulher incapacitada, não raras vezes neurótica e mal disposta, fruto da doença.
Intriga-me sempre, a extrema necessidade que as Mulheres têm de se igualar aos Homens. Somos diferentes, muito. Em tantas coisas. Não seremos melhores ou piores, mas diferentes. E este, é um ponto central. Com todo o respeito pelo Sexo oposto, com todas as superioridades e inferioridades, e com todas as devidas excepções, obviamente, vos digo que, dedicação, é uma palavra nossa. Muito nossa.

Haiti

Por norma considerado um Paraíso Terrestre. Já tive uma sensação semelhante com o Tsunami de 2004. É bem verdade que a constância das coisas é uma utopia. É verdade ainda que temos a mania que somos fortes, mas não somos nada. Pelo menos quando comparados com outras forças. Isto deixa-me uma sensação de impotência, que de resto, me persegue sempre que quero ajudar alguém e não consigo. Que me faça ao menos ter consciência das minhas fraquezas. Como se isso fosse alguma coisa, perante a dimensão da desgraça.

Simples

A vida só é má quando exigimos demais dela. Tenho para mim, que isto de ser feliz, ter prazer, e aproveitar o que nos aparece, é do mais psicológico que existe, retirando, obviamente, castrações de força maior. Estudei mesmo no ramo certo, embora ás vezes ache que não. Mas acho que não, somente porque me transforma numa Licenciada em Ciências Sociais, que não entra nas classes de elite, nem nas classes dos bons assalariados, tendo apenas cabimento, na classe dos que muito fazem, e pouco ganham com isso. E isto neste mundo dos nossos dias, por muito que se diga que não, é um problema sério e aterrador. Vale-me a capacidade de valorizar as coisas. De me analisar, mesmo nas minhas divagações descabidas, que são mais do que muitas. Se eu não fosse dotada na matéria, não sei onde encaixaria tanto devaneio. Consigo perceber que há coisas simples, como um sussurrar no ouvido, um afago no cabelo, e dois olhos que nos miram, que chegam por si só. Sem apêndices, sem sons de fundo escolhidos a dedo, e sem muitas outras coisas, exigidas por muitos.
Sinto-me feliz por conseguir contrariar aquele estúpido ditado antigo que diz que em casa de ferreiro espeto de pau. Há alguns com os quais simpatizo, mas este, não é um deles. A minha Pessoa, é a sua negação profunda, juntamente com outras, como os Médicos que curam as suas próprias maleitas, ou os mecânicos que arranjam os seus carros.
Se eu seria assim se fosse Advogada? Hum, acho difícil. A valorização do simples, não está tão facilmente ao alcance, dos que lidam com pormenores concretos e concisos, salvo as devidas excepções. A abstracção e relativização da realidade, é mais fácil para quem trabalha com a imensidão das mentes, com pessoas, com ideias e com sofrimentos.
Consolem-se entretanto as outras, com a posição de elite, o salário chorudo, e outras vantagens que decerto terão. Também não ficam nada mal, convenhamos.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Da obscuridão da Clara

É Senhora, que nunca me suscitou qualquer tipo de sensação. Isto até hoje, ter posto os olhos nas fotos da Sexpressions. Pena, é que as sensações em questão, não são de todo positivas. São obscuras, nem vou dissertar sobre elas. De qualquer forma, se o objectivo era fugir da indiferença, está conseguido. Cada um procura os objectivos que quer, como quer. Nada a opor, até porque, ninguém me mandou ir ver. Fui. Não volto lá, e pronto.

Amigas e sensações

Não gosto muito da sensação. Felizmente, não me acompanha de perto. Só ás vezes, surge, vincada.
Tenho algumas. Das de longa data, ou de curta, não importa. Das que cresceram comigo, passo a passo, lado a lado. Das que apareceram depois. Tenho as de perto, as de longe. Tenho as mais chegadas, e as mais afastadas, mas ainda assim, presentes. Rejubilo sempre, quando as encontro. Acompanho as suas evoluções, caminhos, percursos e lutas. Elas acompanham as minhas. Algumas desiludem-me, embora não deixe de ser amiga delas por isso. Não no sentido de injustiças, ou conflitos, nada disso. Mas no sentido, grave, ainda assim, de estarem iguais. De já sabermos o que vão dizer a seguir, porque há quinze anos que nos dizem o mesmo. De já sabermos a opinião, porque sempre foi aquela. De já sabermos o que pensam, pois nunca pensaram de outra forma.
Ou é de mim, ou a estagnação é uma coisa horrível.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Quase

De facto, sou insatisfeita.
Reclamo, contra o verão, imploro o Inverno. De tão rogado, chegou em força, o obediente. Hoje, tenho o azar de descobrir um frasco, com uma réstia do shampoo do verão, com cheiro a sol. É quanto basta, para eu quase virar a casaca. Quase.

Formas de passar o tempo...

Experimento sempre místicas sensações no meio de multidões. O bichinho de entrar nas mentes alheias, não me larga, nem me dá sossego. No meio de confusões, há as gentes ditas normais, e gentes que fogem ao padrão. Dá-me um gozo danado, tentar perceber o que os move, quando a estética, não é de todo, o motivo. Afirmação, desleixo, vaidade, ou outro. O que move a moça de unhas de gel, floridas como um jardim? O que a faz ter um cabelo loiro nas pontas, e negro, muito negro, na raiz? O que move o moço da tatuagem gigantesca no braço, e de piercing no nariz? O que move a cinquentona de saia aos folhos, florida e descolorada? Diferentes coisas, decerto. De resto, também algo move a normalidade, que passa despercebida. Não encontro nunca respostas objectivas. Tiro meros palpites, ilações. Ainda assim, ajudam-me a passar o tempo nas filas dos provadores e das caixas da Zara. Há quem o passe, com o Ipod. Cada um entretém-se como quer. Liberdades de pensamento, ainda insolúveis. O nosso pensamento, por muito que sujeito ás castrações da sociedade, é muito nosso. O meu, é completamente anti social, e livre como só ele. Da boca para fora, o cuidado será outro, invade espaço alheio. Dentro de nós, tudo se pode fazer, pensar e até dizer. Desde que seja baixinho.
Podem pensar, mas não sou crítica. Sou analítica, apenas e só.

Fraquezas...






Das minhas fraquezas. Uma, entre tantas outras...

sábado, 9 de janeiro de 2010

Do dia...

Hoje, consegui entrar num Shoopping, e vislumbrar os saldos. Das aquisições, destacam-se uma ou outra coisa que queria muito. O resto, foram futilidades, que me fizeram as delícias. A minha caçula, após uma manha atribulada, junta-se a mim, na confusão do Mulherio ás compras. Sim, maioritariamente Mulherio. Os Homens, estão à porta à espera, com os carrinhos da criançada. Antes de abandonarmos o local, dirigimos-nos as duas, para outras delícias. Eu, com a mania da comida saudável, ainda sugiro uma salada. A caçula, bandida que só ela, só vê o KFC. E lá vamos nós, emputicarmos-nos em asas picantes, batatas fritas, e outras bombas calóricas, que eu nem devia cheirar, quanto mais comer. Antes do regresso, passei na casa dela, ainda na Capital, para mais umas trocas de trapos. No entanto, a estada é curta. A caçula precisa de se agarrar aos livros, e ao trabalho para a pós graduação. Já na Santa Terrinha, passo na mãe, para um capuccino quente. Mal entro, vejo que trabalha, afincadamente, na sua Biografia de Vida, para a certificação de competências.
Eu, euzinha, que ando com o bichinho do estudo a morder, to que nem posso, a morrer de inveja delas. Eu sei que é feio, mas paciência. Mais um aninho, no máximo dois, e os bancos da faculdade, voltam a pertencer-me.
Por ora, poiso por casa. Na rua, o frio entranha-se, e não me apetece levar com ele. Vou até ali assim ao sofá. Tenho um livro. Um CD de Seu Jorge e Carolina, novinho em folha. Tenho um chá de Menta. Tenho.... coisas.

Eu, o pequeno e a Nintendo

Da sala oiço um choro. Apresso-me a ir, pois ele tinha ficado sentado no sofá a jogar, e era estranho ter-se magoado.
- Mãe, diz-me lavado em lágrimas, a Nintendo desligou sozinha, acho que está avariada.
Tento que acalme, pego no brinquedo, ligo, e funcionou normalmente.
- Deve ter sido qualquer coisa que bloqueou filho, digo. Já passou. De qualquer forma, não era preciso ficares assim. Se um dia se avariar, haveremos de resolver.
- Tá bem, mas ia ficar uns dias sem ela, e eu não quero. Mas não te preocupes mãe. Um dia que tu avaries, eu também berro por ti.
Pronto. Estamos mais ou menos em pé de igualdade. Fiquei muito mais tranquila :):)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Vaidades


Tenho qualquer coisa semelhante a isto nos meus pés. Não são Louboutin, o que é uma pena, mas ainda assim, são lindas. Comprei-as num momento de loucura, pronto. Tenho momentos desses, e dou-me, a mim mesma, esse direito. E escolhi calçá-las, logo hoje. Que boa escolha, de facto. Já corri mais, que no resto da semana todinha. To que nem posso, e acho que vou daqui, directa para a massagem de pés e pernas. Por ora, vou tentar ficar aqui sentada. Se alguém me chamar nos entretantos, finjo que não oiço. Decerto ninguém vai perceber. Acho que é hoje o dia em que volto a subir escadas descalça. Já foi para ocultar chegadas tardias. Hoje, é somente para atenuar, as sequelas da vaidade. Malvada que pode mais do que eu.

O Pescador


Uma vez conheci um pescador. Já conheci outros, mas aquele era especial. Era um pescador que amava o que fazia, e que contava histórias do mar como ninguém. Não consigo, nem pretendo, parafraseá-lo exaustivamente. No entanto, deixo algumas palavras soltas que proferia, tais como, A Sardinha vinha qual prata, do fundo do mar, ou ainda, as ondas beijavam a areia com força, enquanto eu levava o barco. Entre estas, muitas outras, ditas com a paixão de alguém, que tinha no mar, o seu porto seguro. Ouvi-lo, quase me dava vontade de pescar também. Porque o que se transmite, tem uma força tremenda, e pode fazer mudar por completo, a essência do diálogo. Ontem, ouvi qualquer coisa idêntica, embora, não tão emotiva. Gosto destes discursos com paixão. Revelam-me aquelas Gentes, escassas, arrisco dizer, que amam o que fazem. E que fazem questão de amar. Que valorizam o que lhes aparece, e que transformam o dia a dia, em algo bom de ser vivido. Porque só quem está minimamente feliz, e que luta por essa felicidade, pode apresentar discursos assim. Tão belos e agradáveis, relativamente ás coisas simples. Amei.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

:)

Mãe que é mãe, cede a alguns caprichos. Mãe que é mãe, gosta de fazer algumas vontades. Esta mãe aqui, comprou uma Nintendo DSI ao rapazola no Natal. Esta mãe aqui, tem de tentar controlar o rebento, a fim de ele não passar horas vidrado. Esta mãe aqui, influenciou a madrinha do pequeno, na compra do Super Mário, porque é giro para ele, e tal. Esta mãe aqui, está prestes a por o rebento na cama. Esta mãe aqui, está que nem pode para pegar na porcaria do brinquedo, e jogar como se não houvesse amanha. Assim, vidrada. Ele há com cada mãe.

Bom dia


Hoje, pequei num qualquer mala esquecida. Lá dentro, encontro o meu CD The Best Of, dos James. Já não me encontrava com ele há algum tempo. Não podia ter encontrado nada melhor. Não consegui ouvir todas, o caminho para o estaminé é curto. Ouvi muitas, e deliciei-me, especialmente com Born Of Frustations, e Somethimes. Um Must, para começar bem o dia. Porque há encontros assim. Sabem sempre bem na eternidade.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

utilidades

ás vezes, há dias assim. em que alguém que amamos, não está bem. que amamos, sim, mas que pertence a si. e nada podemos fazer para o alterar. o nasce selvagem, é uma verdade nua e crua. das nossas vontades, podemos nós, as dos outros, avenham-se eles. ou não, ou assim. mas sim, ou não, o nosso poder é escasso. e o poder da influência, não é para usar ao desbarato. é limitado, castrador e traiçoeiro. deve ser usado com conta, peso e medida. eu, que sou da área da influência, recuso-me a usa-lo. também, de resto, não suporto que o façam comigo. se me sinto inútil? não, de todo. o amparo, também é utilidade.

Lições

Há lições de um raio. Sou limitada no que disse ontem, e em mais umas situações. Porque há coisas que sei, mas tenho de experimentar. Assim, só numa de confirmar se é giro.
Hoje concluí uma. Não, não é giro falar ao telemóvel enquanto se conduz. Pode custar 120 Euritos. Coisa pouca.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Limitações


Sou um bocadinho limitada. Se ainda não perceberam, eu por aqui me confesso. Em algumas coisas, como decorar datas de aniversário, lembrar-me de pagar a água a horas ( a única que não sai directamente do Banco), e outras coisitas assim. Mas há uma séria. Ou melhor, séria q.b. Que me irrita, mas é mais forte do que eu. Adoro flores. Tenho muitas lá em casa, que devem pertencer, todinhas, a uma qualquer classe poderosa, que não murcha, mesmo sem água. É que sou uma nódoa nesse aspecto. Esta minha humilde fraqueza, ganhou dimensões terríveis, quando, há uns meses atrás, o meu Boss trouxe um Bonsai para o seu gabinete. Lindo de morrer, com umas folhinhas minúsculas. Ficou descansando na sua mesa, no gabinete ao lado do meu. E descansou a sério, pois eu não mais me lembrei da sua existência. Eu, que tinha ficado com o encargo, de o por em água, quando necessitasse, e de falar com ele todos os dias. Passadas duas semanas, o meu digno Boss, regressou ao estaminé. A primeira coisa para onde olha, é para o solitário Bonsai, depenado e sequinho que nem uma palha. Ele, ia tendo um colapso. Eu, também não fiquei em muito bom estado, quando ouvi uma trémula voz, vinda da sala ao lado da minha, que dizia, oh... O meu Bonsai...

O meu Boss, depositou-me um voto de confiança, e já cá tem outro. O meu filho, pediu um à avó, que se prontificou a dar-lhe, mesmo conhecendo esta minha faceta. Das duas uma, ou esta gente acredita muito nas minhas ( escassas ) capacidades, ou são todos uns assassinos de Bonsais. Pronto, deve ser isso. Agora vou ali. Regar o Bonsai :)

Da adopção...

Ontem, fiz questão de ver a reportagem sobre adopção. É um assunto trémulo e delicado em todos os níveis. Das questões burocráticas, recuso-me a falar. Relativamente ás outras, deixo umas considerações. É um tema sobre o qual se fala, se discute, mas acho difícil ter a real noção do que passa. Eu própria, que falo agora, não tenho, dada a complexidade do mesmo. Fiquei tocada, com um casal Francês, que adoptou uma criança com um atraso mental. Que dizia que, quando pensou adoptar uma criança, era uma criança. Qualquer criança, que lhe fosse atribuída. E não uma escolhida por eles, de olhos de uma cor, cabelos de outra, e por aí fora. No fundo, como se de uma verdadeira gravidez se tratasse.
Quando penso, se seria capaz de adoptar uma criança, não penso em pequenos pormenores. Conseguiria, perfeitamente, adoptar uma criança de outra raça, de outra cor, o que fosse. Mas travo, travo mesmo, quando penso em deficiências. Julgo ser necessário um estadio de desenvolvimento muito avançado, para conseguir ultrapassar uma situação destas. Aquele casal já lá está, e merece um louvor por isso. Eu não estou, mas espero lá chegar um dia. E eu, sou um dos tais pormenores. Pior, é que a sociedade não está. Nem de perto, nem de longe. A sociedade fala, diz palavras bonitas, e coisas que se querem ouvir, mas recua, tem medo, foge. E foge, muitas vezes, não só de situações mais complexas, como a deficiência, como também de outras, simples, por prisões a racismos patéticos. E é este, um dos grandes problemas da adopção, a par e passo com as burocracias.
É necessário evoluir, e caminhar no sentido da humanização, para conseguir uma justiça humana mais presente, mais digna. São problemas sociais de fundo, e é bom que reconheçamos, que começam em nós, para um caminho de resolução. Mais sérios, são os reais, que não admitimos. Esses sim, são os travões do Mundo. Mas esses, esses são cobardia. Eu, não gosto lá muito dela.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Call Girl

A noite surgiu com chuva. Na TV, o costume. No zapping habitual, passo pelos Ídolos, e descubro um Call Girl, na TVI. Vou deitando um olho, enquanto saltito de canal em canal. Acaba por me prender. Ao longo da história, concluo, mais uma vez, que somos muito bons em algumas coisas, mas não a fazer cinema. Nada, ou pouco se faz com naturalidade. Cada vez mais acho, que devemos dedicar-nos, ao que melhor fazemos. E deixar o resto para quem o sabe fazer. Somos bons no Teatro ( Muito bons), na Música, no Futebol, a dançar Rancho, e em muitas outras coisas. Mas o cinema, de facto, não é o nosso forte. Intriga-me, de sobremaneira, a necessidade de dizer um palavrão em cada frase. Como se não houvesse outra forma, de transmitir a essência do filme. Um exagero, exacerbado, a meu ver. Mas tenho destaques positivos. Um ou outro actor, que no meio do elenco, mostram que percebem qualquer coisa do assunto. A escolha da Soraia Chaves, que é linda de morrer, mesmo quando roça o ordinário, e que assume perfeitamente, a imagem pretendida no filme. O argumento, demasiado cliché, mas ainda assim, interessante. Uma história nua e crua, a mostrar que o Homem, tem a mania que é grande. E é. Não pode, é ter uma Mulher boa por perto. E boa, é boa. Não é boazinha. Com essas, eles jogam em casa. Com as outras, é vê-los perder o chão, a postura, o raciocínio. É uma fraqueza, como outra qualquer. Não é uma crítica, acreditem. Até porque nós, também temos as nossas.
Curioso, é que ontem, não ganhei sono. Os filmes com sexo, são sempre um bom entertainement.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Do optimismo


Procópio acordava cedinho, abria a janela , exclamava: Que dia maravilhoso! O dia mais belo da minha vida. Ás vezes, a manhã estava lindíssima, porém, outras vezes, a natureza mostrava-se carrancuda. Procópio nem reparava. Sua exclamação podia variar de forma, conservando a essência: - Estupendo! Sol glorioso! Delicia de vida! Choveu o mês inteiro e Procópio saudou as trinta e uma cordas d'água com a jovialidade de sempre. Para ele não havia mau tempo. A família protestava contra a sua disposição fagueira e inalterável. A população erguia preces ao Senhor, rogando que parasse com o dilúvio. Um dia Procópio abriu a janela e foi levado pelas águas. Ia exclamando. - Sublime! Agora é que sinto realmente a beleza do bom tempo integral! O azul é de Sèvres! Chove ouro líquido! Sou feliz! Os outros, que não acreditavam nisto, submergiram, mas Procópio foi depositado na crista de um pico mais alto que o da neblina, onde faz sol para sempre. Merecia.

In Prosa Seleta, de Carlos Dummond de Andrade. Excerto publicado ontem na Nós, do Jornal I.

Retirando o exagero do autor, esta excerto é uma lição. As crónicas da Revista que refiro, traduzem, esta semana, uma filosofia de vida ímpar. Tive o privilégio, o real privilégio, de ter formação, na área referida, com a Senhora do Optimismo. A Doutora Helena Marujo. Não sei se é ela a responsável, por eu tentar, a cada dia que passa, manter esta postura de vida. Uma postura, não raras vezes, alvo de chacota, ou comentários depreciativos. Não me atingem, de todo. Tento impingir o pressuposto a quem me procura, o melhor que consigo, embora não seja mestra em ensina-lo. Não é um caminho fácil, eu sei. É necessário esforço, treino, vontade. Mas garanto-vos, que é um caminho saudável. Muito mais saudável que o da tristeza e lamentação. Se vos estiver ao alcance, procurem formação sobre o assunto. Se não, leiam o livro da Helena Marujo, Fátima Perloiro e Luís Neto, Educar para o Optimismo. Vale a pena. Para começar o ano com optimismo.

Vontades

Esta coisa de esperar dos outros algo mais do que o que eles nos conseguem, ou nos querem dar, não é bom. Descubro, que o mundo gira assim. Temos expectativas, planos, projectos. Queremos alguém ao nosso lado, que esta porra da solidão é muito gira, mas é o caraças. Olhamos em volta, catrapiscamos o que mais nos convém ( ou o que aparece, enfim, que isto está em crise), e vá de moldar, assim, tipo plasticina. Comecemos. Eu gosto de Soufflé de bacalhau, tu também tens de gostar. Eu gosto do Restaurante da Tia Francisca, onde se come para lá de bem, tu tens de vir comigo. Eu jogo Xadrês, tu também tens de jogar. Eu oiço Delfins, e o melhor mesmo é recitares o reportório de trás para a frente, e vice versa. Eu leio as crónicas do Nuno Markl, e tu também tens de ler. Eu sou do PS, logo tens de te filiar ( ok, esta é baixa). Eu durmo com um pijama da Hello Kitti ( se eu pudesse, já tinha dado cabo desta gata), e os teus boxers têm de condizer. Pronto, está bem, estou a caricaturar. A exagerar, enfim. Mas no fundo, e retirando a excentricidade que dei ao assunto, é quase assim. O respeito pelo outro é uma coisita digamos que difícil. E não falo somente de relações a dois, mas de uma forma geral. Não entendo muito bem esta necessidade de impor vontades e vocações. Como se todos no mundo devessem gostar de amarelo. Como se todos no mundo devessem ouvir Trio Odemira. Como se todos no mundo devessem gostar de café de saco. E engraçado, como os que teimam em fugir à regra, são crucificados, excomungados, banidos. Por coisas simples, pessoais, e individuais, como gostar de pessoas do mesmo sexo. Ou, mais simples ainda, por gostarem de andar na rua à chuva, quando tudo está em casa arrecadado. É maluco, dizem. Malucos, são os que assim o acham. Fala-se de liberdade, mas sinto-me tão, mas tão longe da dita, que quase me mete aflição. Remédios, rápidos e eficazes, não tenho. Mas pertenço à classe dos que lhe dão valor, dos que respeitam, e dos que fazem tudo, ou quase tudo, o que lhe apetece. E o quase tudo vem, das condicionantes práticas inerentes à vida. Não da condicionante de nome, vontade de outro, ou ainda língua alheia. A isso, sou imune. Não quero com isto dizer que não ceda, qb. Obviamente que há um equilíbrio de cedências necessárias à vida em sociedade. Mas é um equilíbrio. Quem comigo convive, por vezes não me entende. Não me importo lá muito com isso. Não sou nenhuma ovelha para ter de ir no rebanho. Até posso ir. Tem é de me apetecer.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Das escutas. Sérias, desta vez...

Ser Psicóloga, deve ser mais ou menos a mesma coisa, que ser electricista. Tal como não existem casas, sem um qualquer fusível ou lâmpada para arranjar, também não há cabeças, sem algo fora do sítio, e neurónios baralhados, ou fora do lugar. Vai dai, que em todo o lado e a toda a hora, me fecham o cerco, me apanham nas curvas, e me buzinam com problemas, uns a sério, outros nem tanto. E se o electricista se escapa, por falta de ferramenta, já eu, não tenho essa sorte. Ás vezes alego que a ferramenta está cansada, mas enfim. Não resulta lá muito.
Hoje, e não obstante ter de passar na porcaria do estaminé, levo com a crise conjugal da cozinheira. Que aguardava em ânsias a minha chegada, a fim de começar a desbobinar o que mais a aflige. Suspeitas, das sérias, de traição. Por parte do esposo, que já afirma há boca cheia, que não a ama, como em tempos de outrora. Entre lágrimas, dúvidas, suspeitas, e medos, muitos medos, percebo nos olhos dela aquilo que não gosto nada de perceber. O desespero da dúvida. Mas não da verdadeira dúvida. Da dúvida, praticamente certeza, que há falta de confirmação concreta, se teima em negar, com apetrechos psicológicos. Esta dúvida, mesmo falsa, é tramada.
Eu entendo tudo. Juro que entendo. Amores que se desvanecem, paixões que falem mais alto, tédios dos sete anos, curiosidades e vontades de conhecer outras pessoas. Mas não entendo, isso é que não, a necessidade efectiva de enganar alguém de forma continua. A necessidade de ter um porto seguro em casa, e um porto sentido fora dela. A continuação da vida a dois (ou a três, vá), quando já nada faz sentido, e se descobriu outros caminhos. Não entendo, porque a dose de desrespeito ao outro é tão marcada, que me perturba tremendamente. E não é o facto de se querer preservar a família, que iliba culpas. Porque não se pode preservar, o que já não existe, ou existe de forma fictícia.
Reservo-me o direito de não dar ideias. Como sempre, de resto. Aconselho a pensar, e achar o que quer fazer, ou consegue aguentar. Tento que pondere, antes de decisões precipitadas. E oiço. Escuto. Afinal, é o que melhor se pode fazer.
Olho para ela, e por ora cozinha. No tacho, ao de cima, boiam lágrimas. Daqui a pouco, na volta a casa, não sei que fará. Pior, muito pior, é que ela também não. E isso, é lixado como um raio.

Sono

Ontem, por alguns momentos, pus os olhos no Diabo que veste Prada. Nunca tinha visto, e ontem também não foi o dia. Adormeci num ápice, o que deveras me irrita. Esta coisa estapafúrdia do sono, transcende-me. A insónia não entra comigo. Salvo raras, mas mesmo muito raras, excepções. E quando entra, é na cama. Porque no sofá, em frente à TV, isso nunca. Reclamo, mas no fundo, gosto de ser assim. O sono é qualquer coisa de maravilhoso. Para além da função restabelecedora, transporta-nos para onde nos apetece. Se calhar é por isso, que mal uma deixa, la vou.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Da noite

Comeu-se, brindou-se. Conversou-se. Percebeu-se que o aconchego ás vezes chega. A noite caiu assim, tranquila, perto de quase todos os que queria ali. Nada de especial, mas tudo sereno e bom. A meia noite foi presenteada com foguetes, e com as festas das casas alheias. Com champanhe caído directamente dos céus, juntamente com gritos e outros sons estranhos. Na rua, pouco se fez.
Não sei ainda, se me assusta, esta minha calma. Uma fuga do aperto, um retiro, em nada forçado. Estou assim. Por dentro e por fora. Quem me olha, partilha. Acha-me serena.
Eu, não sei se será isso. Ou se é a minha habitual sofreguidão, a dar lugar a alguém mais pacífico. Se calhar, são misturas de sentimentos, que em nada têm a ver, mas enfim. Isto das emoções é tão complexo, que tudo é possível.
Que seja serenidade. Mas que não me abandone nunca, a vontade e o espírito, de procurar sempre a felicidade. Não sou muito dada a medos, para além das borboletas. Mas disto tenho. De perder o impulso, e precisar de empurrões. De que a calma boa, tenha inerente a calma má. Aquela, excessiva, da resignação.
Se se pode considerar o desejo do ano? Pode. A par com outros, os triviais.

Nomes e assim...

É comum o uso de nomes estranhos, quando se verbaliza carinho. O meu pequeno, já foi pitufo, salabicanço, pininho, e outras coisas, que quase me soam a estranho, quando as escrevo. Mas amo dizê-las quando o abraço, ou lhe pego ao colo. A minha mãe, decerto também me chamou coisas destas, mas não me lembro de nenhuma. Mas lembro-me de outros. Que já me chamaram, ou chamam, enfim.
Diziam-me, em amena cavaqueira, no jantar de fim de ano, com um tema sacado não sei de onde, que acham estapafúrdio que se chamem nomes assim. Principalmente nomes como Boneca, ou outros que tais. Porque lhes pode ser atribuído um sentido pejorativo. Porque se pode considerar que boneca é uma coisa. Com que se brinca, para depois se largar num canto. Porque cada pessoa tem o seu nome, e pronto. Nestas coisas das opiniões, sou compreensiva. Não tento impor razões, ou pontos de vista. Oiço, e respeito. Mas aqui, entre nós, digo-vos que acho o mais completo disparate. Primeiro, porque revelam sempre cumplicidade. Verdades e significados, só por dois conhecidos. Depois, porque demonstram carinho e ternura, ou qualquer outro sentimento bom, que se sinta no momento.
O tal boneca, já foi usado para mim, mil vezes. E eu acho que é doce, como não há. Pejorativo? Não me parece. Mas e se for? Pode ser boa a obscenidade. Dita na hora certa, pela pessoa certa.

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