sábado, 27 de fevereiro de 2010

Filhos de quem?

Apanho num Jornal regional, o caso Esmeralda. Estou farta dele, e da ligeireza com que se tratam vidas em Tribunal. É ponto assente que os filho são para estar com os Pais. É ponto assente que eles são porto seguro, e devem zelar por eles. Pior, é que nem sempre é assim. Percebo que são assuntos delicados. Percebo que para quem avalia, nem sempre, ou melhor, quase nunca, é fácil perceber, onde está gente capaz, e onde começa o desleixo. Relembra-me uma das minhas lições de vida. Quando, ainda na CPL, me deparo com um caso que me marcou. De uma mãe, que surge numa reunião convocada por mim, e que não via o filho há cerca de um mês. Consegue chegar, entrar, refilar e reivindicar E consegue ainda não olhar para o filho, que se encontrava à minha beira, e a olhava com esperança. Nos olhos dela, apenas li ódio, desgraça. Até podia ter sido indiferença, mas não. Era ódio.
Aquela criança, estava confiada à Instituição, como tantas outras. Mas existem muitas que não estão. Que vão estando aqui, e ali. Entregues por ora a uns, para daqui a um tempo estarem entregues a outros. Os Pais, vão muitas vezes aparecendo. Dando um ar de sua graça, quando se lembram, nas férias, ou no Natal.
Sou extremista nesta minha opinião. Muito. Sou completamente a favor de cortes definitivo quando os progenitores não oferecem segurança, garantia, colo e protecção. E se eles se lembrarem 5 anos depois que são Pais? Paciência. Tivessem lembrado mais cedo, que ser Pai, ou Mãe, não é por fases, é para sempre. É que 5 anos depois, a criança tem história. Ás vezes família protectora e cuidadora. Acho um crime reverter situações assim, por um reinicio incerto, inseguro, e muitas vezes perigoso. E se os Pais mudaram, não têm direitos? Têm, claro que sim. De se reorganizarem, de se reconstruírem, de manterem uma eventual relação de retaguarda. Há oportunidades que a vida dá, que se perdem. E que uma vez perdidas, estão perdidas e pronto. Principalmente quando está em causa o bem estar de uma criança indefesa, a quem a sociedade deveria proteger a todo o custo. Já que quem o devia fazer, se demitiu. Temporariamente ou não, demitiu-se.
Preservo as crianças, em vez dos pais. Perturba-me quando a lei, preserva o contrário.
Quem não consegue olhar nos olhos, decerto não conseguirá olhar com o coração. Ando com os olhares eu. Gosto deles, e olho para o meu filho sempre com os mesmos, com que os meus Pais olharam para mim. Não imagino outros. Pena que na nossa Sociedade, não cheguem para toda a gente. Coisas.

2 comentários:

  1. Esta é uma das maiores injustiças com que nos deparamos nesta sociedade que teima em legislar a vida das pessoas, como se fosse tudo linear.
    Trabalho com uma casa de acolhimento onde diariamente vimos os pais entrar e sair, muitas vezes por obrigação. No rosto das crianças fica a esperança de que "agora vai ser diferente". Sabemos que é mentira. Sabemos que a visita dos pais surge num momento em que está a terminar o prazo legal para que as crianças sejam consideradas abandonadas. No fundo sãos os pais que constituem o principal entrave à felicidade das crianças.
    É triste, mas não podemos fazer nada :(

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  2. Bravo CF. Testemunhos como o teu devia ter tempo de antena. Em hora nobre.

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