O que me faz reflectir... Todos os textos que aqui publico são de minha autoria, e as personagens são fictícias. Excluem-se aqueles em que directamente falo de mim, ou das minhas opiniões, ou onde utilizo especificação directa para o efeito.
segunda-feira, 21 de março de 2011
Primavera
Desde Sábado que se recolheu. Viaja dentro dela, em caminhos estreitos e inacessíveis, despertados por uma lua intensa que viu algures num céu. Podem bater à vontade que não aparece, vai dando um ar de graça, apenas e só quando entende. Há muito que não retirava, e já encontrou coisas sem fim. No primeiro caminho, deu de caras com uma teimosia enfeitada de cor de rosa, quiçá, uma jus à primavera que hoje nos chega. Não raras vezes, quando a prova ou salpica, entra numa tonalidade esverdeada, com mescla de cinzento, tal e qual um corpo ressequido pelos anos, ao invés da cor inicial com que a chama. Pudesse ela banir estas falsidades. Numa vã tentativa, insiste. Nem precisava do rosa, bastava-lhe um qualquer tom doce e neutro, que lhe permitisse enrolar-se e vestir-se nele, mas ainda assim, não conseguiu. Por voltas que desse, na saída, a sua cor insana mantinha-se, deixando-a com um ar de morta viva horripilante, do qual por ora se encontra em fuga. Seguiu já a medo mas sem abrandar, que vai-se a ver e se abrandasse, deixaria escondidos outros amargos tons isentos de vida e de alento, aos quais se entrega sem ver. Deparou-se com o orgulho. Já lhe tinham dito que com ele, os caminhos são turvos, as estradas estreitas e perigosas, esburacadas até, mas até hoje, tinha-lhe gosto. Gostava-o não em exagero, mas sim num encosto ao qual se chegava para assim prosseguir, num caminho de confiança e crença que há muito lhe povoava o corpo. Abeirou-se dele e sentiu-lhe um cheiro fétido, mórbido, numa tez pálida e sem graça, quase como se o tempo, o tivesse envelhecido sem dó nem piedade e o tivesse deixado na beira de um colapso inadiável, de um fim inevitável. A esse, tentou reanimar com todas as suas forças. Precisava dele como do ar que respira, que fazer sem tudo o que sempre lhe deu? Perante este encontro pensou recuar. Nem estava preparada para tamanha viagem, saber-se-ia lá, o que dali adviria, o melhor, em prol do seu bem estar, seria o regresso, e o esquecimento de que lá dentro, existem terrores disfarçados de cores. Esperança-se na mais linda estação do ano. Com sorte, a bendita toma-a no caminho da chegada, e povoa-a de folhas, que a dourem por fora, e talvez por dentro. Se tal não ocorrer, aguarda na beira da estrada que volte. Dizem que é cíclica, e quem sabe um dia a apanha, a enche de flores e a planta num jardim.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Enigmático o seu texto de hoje, ou serei eu que estou em baixo de forma?
ResponderEliminar:)
Beijinhos
Maria
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCara Maria, não está nada em baixo de forma. É enigmático de facto, embora para mim, seja claro como água...
ResponderEliminarOlha, fiquei um pouco como a Anónima Maria, quanto ao enigma :)
ResponderEliminarPois é. A gente tem de conversar! Tu andas-te a perder por aqui :):) Precisas de deitar mãos à obra e começar a escrever um livro. Tens tudo o que é preciso (ainda que precises de um bom revisor :):), mas isso todos os escritores pecisam e estou cá eu LOL).
ResponderEliminarBeijinho
Antígona, ainda te apanho, e vais te de me rever mesmo a sério :)
ResponderEliminar"Precisam"! "Todos os escritores PRECISAM"! E, pelos vistos, os revisores também (quando escrevem)LOL
ResponderEliminarÉ quando quiseres :):)
Acho que entendo o que quer dizer. A maior angustia é causada pela incerteza de não saber se haverá outra primavera para quem já viveu a sua.
ResponderEliminarXana