segunda-feira, 13 de junho de 2011

Batimentos

Entra na sala de espera do serviço. Assalta-a uma dor avassaladora, situada na parte central do peito, lá bem no fundo de si. A Senhora da recepção olha-a de olhos vidrados, muito estática e indiferente, como se na sua fronte, se encontrasse uma qualquer grafonola que profere palavras, e não uma pessoa, ainda para mais, em estado de considerável aflição. Toma conta da ocorrência, tal como lhe compete. Não dá margem para queixas ou outras embirrações, que roça o limiar do préstimo sem atingir a simpatia, mas também, sem incorrer em faltas de educação, que sabe muito bem o que fazer, onde fazer e como fazer, para não passar, nem para um lado, nem para o outro, a linha ténue do adequado atendimento ao público. É assim mesmo que gosta de ser.

Na sua frente, encontram-se um número considerável de pessoas que chegaram antes de si, provavelmente, quiçá, por de algum mal maior padecerem. Senta-se. Pega numa revista, daquelas que dantes eram rosa, mas que agora, vá lá saber-se o porquê, mudaram para uma tonalidade mais dura, mesclada a negro, em alguns recantos, muito forte. Gostamos cada vez mais da desgraça. Talvez seja, para nos atenuar as nossas, concluí. Nem dá pelo tempo passar. Aquele encontro com caras da televisão, que casam, divorciam, matam e morrem, distraiu-lhe o corpo dorido e enfraquecido. É a vez dela, e quando desperta, sente de novo o aperto, forte e intenso, exactamente igual ao que sentia, minutos atrás. Despe-se, deita-se na maca à mercê, e sente o frio do gel que lhe depositam na pele, em locais criteriosos e definidos. Logo após, um conjunto de ventosas e ganchos tomam-lhe conta do corpo, e o médico, liga o aparelho. O papel que sai da máquina, traz uns traçados impressos, muito ritmados e precisos. É aí mesmo que consegue sorrir. Afinal, ainda bate. Se não visse, jura, em tal coisa não iria crer.

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