sexta-feira, 10 de junho de 2011

São João

Está quase na altura. Era mais para o final do mês, mas lembro-me, mal me cheira a manjericos. O recinto era enfeitado de balões coloridos, que eu queria a todo o custo guardar para mim. Com sorte, no final da festa, tinha direito a uns quantos, desatados com jeito pelo meu avô, que mos entregava feliz, já muito sujos e amachucados. No recinto dos correios, montava-se o arraial, com mesas e cadeiras de madeira, toalhas brancas de papel, muito frango assado e batata, acabadinha de fritar. O primo Tóino gostava de servir. Era um tanto ou quanto apalermado, mas safou-se na vida, que segundo a minha avó, arranjou uma tola igual a ele, e fez-se Homem, ou qualquer coisa parecida com isso. Num canto ao lado da igreja, fazia-se a quermesse, onde se compravam uns papelotes, muito coloridos e enrolados. A maioria não dizia nada, mas de quando em vez, vinha um numerado, sinal de que tinha prémio, prémio esse que se traduzia em peças de elevado interesse, como porquinhos mealheiros, copos de vidro, canecas grosseiras, colheres de pau, ou ainda outros utensílios, oferecidos pela população. Julgo que aquilo funcionava mais ou menos como os brindes do Juá, que nem sei se ainda são lembrados, e que constituíam, entre outros, em bonecos de borracha para colocar nos lápis, uma coisa de extrema utilidade, como podem constatar. Creio que em ambos, como em tantas outras situações, era o factor surpresa, o principal responsável pela animação garantida, sendo sem dúvida, um dos atractivos da festa que eu mais adorava, logo a seguir às carreiras de pinhão, e às bolas de serradura, atadas com um elástico. Pela noite dentro, os 6 de Portugal, conjunto musical de alto gabarito nas redondezas, tocava, e punha as velhas e as novas, muito gordas e desajeitadas, a dançarem umas com as outras. Um dia, apaixonei-me por um moço da banda. Era alto, bem parecido, e tinha uns olhos azuis lindos de morrer. Tocava trompete, e jantou ali mesmo ao meu lado, enquanto trocámos olhares doces e envergonhados. Nunca mais o vi, mas sonhei com ele noites a fio. Hoje, lembrei-me. E apeteceu-me muito ir à festa outra vez.

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