terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Estatística

Lembro-me bem dele. Um homem muito magro e já velho, que usava uma pêra cinzenta, que devia por certo ser mal cheirosa. Os homens de pêra não deveriam fumar, ou então, e a manter o vício, deveriam cortar a pêra, que aconchegar as baforadas soltas num monte de pêlos, mesmo à saída da boca, não me parece coisa digna de um senhor de posição. Para uma qualquer outra profissão, sem carência de apresentação cuidada, que existem muitas, sem qualquer desprimor por quem as pratica, atenção. A um pedreiro, a um operário, daqueles que passam os dias de cigarro definhado preso nos dentes, envergando um macacão azul petróleo, tudo se perdoa, agora a um professor universitário, convenhamos que já não. Ainda para mais, que o objecto que lhe ardia em mãos, nem era um vulgar cigarro, mas sim um cachimbo. Bem sei, sinónimo de algum estatuto, o que talvez defenda um pouco o que atrás relato, mas ainda assim, não gosto de homens com pêra, que fumem o que quer que seja. Coisas minhas. Era muito pequeno, tinha uns óculos redondos e era fanático por estatística, uma das minhas maiores fragilidades. Gosto muito de ler estudos conclusivos sobre isto e sobre aquilo, uns muito interessantes e outros que não interessam nem ao menino jesus. Enfim, que hei-de fazer, apesar de não ser apaixonada por números, aprecio quantificações já efectuadas, resultados prováveis, com margens de erro totalmente controladas, e que nos dão informação mais ou menos preciosa, para a nossa existência. Se somos muitos ou poucos, quantos bebés nascem por família, quantos saem do País, quantos estudam, quantos são analfabetos, entre outras. Ele vibrava com os resultados obtidos, e falava de estatística mais ou menos como eu falo de mentes, ou até talvez com maior empolgamento, tenho de o considerar, que vê-lo a dissertar sobre o assunto, era assistir a um gesticular efusivo, a um fechar de olhos pausado e prazeroso, enquanto o cachimbo fumegava devagar, pendurado sob os seus queixos, e inundava a sala de um cheiro pestilento. Tinha uma mala preta muito antiga, de onde saiam diariamente as obras necessárias ao exercício de sua profissão, coisa pouca, que aquela cabeça pequena, quase careca e com barba a cheirar a fumo, guardava um mundo lá dentro. Hoje, e num interesse oportunista, próprio do ser humano, perdoava-lhe a pêra e o cachimbo. Precisava dele e aguentava o resto.

4 comentários:

  1. Ora bem, já vi que temos problemas com estatística... E com pêras e tabaco de cachimbo. O Excel tem um manancial de funcões estatisticas que não há cachimbo e pêra que lhe superem. A sério, dá para fazer tudo! :)

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  2. Caro Paulo, eu sei que dá. A minha dificuldade é o como :) E nas Ciências Sociais usamos outro muito mais fabuloso. O SPSS. Um must :)

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  3. Também não vou muito com barbas e muito menos com bigodes nhac :( Quanto ao cheiro do tabaco incomoda mais agora que não fumo. Ainda ssim, de todos, o de cachimbo é o menos mau. Quanto às estatísticas, se gostas de números (eu também gosto :)) espreita aqui: www.prodata.pt
    Beijos

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