quarta-feira, 11 de abril de 2012

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Deveria ser fácil guardarmos o que ouvimos, o que sentimos e o que vemos, como guardamos o que compramos, o que palpamos o que remexemos. Descobri entretanto não ser tão fácil, que num ápice deixamos esvair palavras, sentimentos, memórias guardadas. Os reversos são mais do que muitos, mas julgo que na verdade nunca poderíamos ser de outra forma. Ia-se a ver e se fossemos, viveríamos inundados de letras, imagens e sensações, que nos atafulhariam a alma, o espírito e o corpo, sem que nos conseguíssemos mover lá por baixo. Mesmo assim e ainda que dotados do esquecimento, permanecemos muitas das vezes entregues ao passado, num sentir depressivo e direccionado que nos atrapalha a existência. Mas quando falo em guardarmos falo de forma mais abrangente. Falo de quando precisamos de ouvir outra vez o que parece já não se ouvir há muito, num total estado interno confusional, pois acabou de se escutar. Ou ainda ver o que vimos agora há pouco, mas que se desvaneceu nos nossos olhos, pobres deles, que não conseguem guardar para sempre as imagens dentro de nós. Realizam uma miragem, pura ilusão do nosso cérebro, que cá dentro processa e vislumbra caras, sítios, flores e paisagens, como se todas elas fossem nossas e pudéssemos viver à sua mercê, até que um dia se esvaiam aos poucos, por distância ou esquecimento.

(Falo talvez de um chip, que me transformaria numa máquina rigorosa e sem graça nenhuma. Pior ainda do que assim, insatisfeita, utópica, incrédula, descrente e fantasiosa.)

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