domingo, 22 de abril de 2012

Trasformações

Estou aliviada, tenho meios para combater a crise. Numa altura em que os Portugueses contam os tostões para  a luz que lhes ilumina as noites, para o gasóleo que os leva ao trabalho, e ainda, nos casos mais graves, para o pão que lhes mata a fome, habituamo-nos a viver no vamos andando, e as terapias da mente são um tanto ou quanto secundárias. Até porque, e por leviandade de alguns clínicos, os psicofármacos são de fácil acesso e receitam-se sem grandes queixas ou dificuldades. Não durmo Senhor Doutor deve chegar para um ansiolítico, estou um bocado tristonha, é o quanto basta para um antidepressivo, e por aí fora, que o que não falta são queixas e remédios que as mascaram, mas que não curam, pelo menos por si só. Consomem-se cada vez mais, por falta de sensibilidade e de recursos técnicos disponíveis de acesso fácil, o que nos traz uma sociedade impregnada em pílulas coloridas que nos vestem a mente de sensações que não são nossas, para depois, quando despirmos definitivamente a fatiota, nos encontrarmos submergidos novamente no nosso mundo, nas nossas vestes, nos nossos sítios e nas nossas pessoas, incluindo a nossa, que também nos pertence, e que se encontra exactamente igual ao que sempre foi. Mas o motivo nem é dissertar os psicofármacos, já me perdi, perdoem-me lá este aferramento profissional. É sim a capacidade que encontrei em mim de pintar cabelos com escovas de dentes, coisa que executei na cabeça da minha querida irmã, antes loira, e agora morena. Está de gritos a garota, que foi pincelada delicadamente com o artefacto que tínhamos à disposição, em substituição do pincel desejado. Nunca pensei ter tal qualidade, valiosa, útil, eterna. Eterna talvez seja abuso, mas deve de ser quase. As cabeleireiras e outras do género, deverão ser sempre as últimas a sentir os efeitos da crise.

( Nada contra elas, atenção. Também fazem parte da nossa sanidade mental. Porque nos embelezam e ainda porque nos ouvem durante o processo. São umas queridas essas senhoras.)

3 comentários:

  1. E sai muito mais barato (apesar de tudo) do que tomar 300 anti depressivos. Outra mais valia, não contribui para dependências que nos arruina a saúde (física e mental).

    Quanto ao "habituamo-nos a viver no vamos andando", discordo completamente, acho que somos um país que sempre viveu nesse "vamos andando".

    Os tempos são difíceis com certeza,para aqueles que sempre lutaram e trabalharam e de repente ficam sem a dignidade de poder continuar a viver de cabeça erguida. Não, para alguns que embarcam na crise fazendo-se de coitadinhos, os tais do "vamos andando" e vão, desde que se conhecem.

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  2. Cara Maria, existem desses, claro. Concordo completamente com isso que diz. Mas não era propriamente a isso que me refiro, talvez a expressão utilizado nem tenha sido a melhor. Quando me refiro a isso, refiro-me ao estado morno em que se encontram os que têm efectivamente falta de meios. Os tais que sempre se esforçaram, e que agora se adaptam. Não aos que vão sempre andando. Desses, eu confesso que não gosto :)

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