sábado, 2 de janeiro de 2010

Das escutas. Sérias, desta vez...

Ser Psicóloga, deve ser mais ou menos a mesma coisa, que ser electricista. Tal como não existem casas, sem um qualquer fusível ou lâmpada para arranjar, também não há cabeças, sem algo fora do sítio, e neurónios baralhados, ou fora do lugar. Vai dai, que em todo o lado e a toda a hora, me fecham o cerco, me apanham nas curvas, e me buzinam com problemas, uns a sério, outros nem tanto. E se o electricista se escapa, por falta de ferramenta, já eu, não tenho essa sorte. Ás vezes alego que a ferramenta está cansada, mas enfim. Não resulta lá muito.
Hoje, e não obstante ter de passar na porcaria do estaminé, levo com a crise conjugal da cozinheira. Que aguardava em ânsias a minha chegada, a fim de começar a desbobinar o que mais a aflige. Suspeitas, das sérias, de traição. Por parte do esposo, que já afirma há boca cheia, que não a ama, como em tempos de outrora. Entre lágrimas, dúvidas, suspeitas, e medos, muitos medos, percebo nos olhos dela aquilo que não gosto nada de perceber. O desespero da dúvida. Mas não da verdadeira dúvida. Da dúvida, praticamente certeza, que há falta de confirmação concreta, se teima em negar, com apetrechos psicológicos. Esta dúvida, mesmo falsa, é tramada.
Eu entendo tudo. Juro que entendo. Amores que se desvanecem, paixões que falem mais alto, tédios dos sete anos, curiosidades e vontades de conhecer outras pessoas. Mas não entendo, isso é que não, a necessidade efectiva de enganar alguém de forma continua. A necessidade de ter um porto seguro em casa, e um porto sentido fora dela. A continuação da vida a dois (ou a três, vá), quando já nada faz sentido, e se descobriu outros caminhos. Não entendo, porque a dose de desrespeito ao outro é tão marcada, que me perturba tremendamente. E não é o facto de se querer preservar a família, que iliba culpas. Porque não se pode preservar, o que já não existe, ou existe de forma fictícia.
Reservo-me o direito de não dar ideias. Como sempre, de resto. Aconselho a pensar, e achar o que quer fazer, ou consegue aguentar. Tento que pondere, antes de decisões precipitadas. E oiço. Escuto. Afinal, é o que melhor se pode fazer.
Olho para ela, e por ora cozinha. No tacho, ao de cima, boiam lágrimas. Daqui a pouco, na volta a casa, não sei que fará. Pior, muito pior, é que ela também não. E isso, é lixado como um raio.

2 comentários:

  1. Atrevo-me a arriscar dizer que já não existem dúvidas, mas sim, o medo, ou até uma negação interior de enfrentar a realidade, facto consomado. Bom domingo :)

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