domingo, 7 de fevereiro de 2010

E fez-se luz outra vez

Tenho um quarto cá em casa, no qual, por acaso, durmo de vez em quando, que ficou sem luz há um tempo considerável. Sou quase de sete ofícios, capaz de trocar lâmpadas, mudar chuveiros, aparafusar coisas, e outras efemérides dignas de Mulher sozinha. Ou melhor, Mulher que vive sem um Homem (grande) em casa. Soa-me melhor assim. A tal adaptação das espécies que tanto apregoo, fizeram de mim um qualquer Ser de extrema habilidade doméstica. Só vantagens, portanto, embora ninguém perceba. No caos do Mundo, e numa eventual desgraça, sou pessoa capaz de engendrar mecanismos fantásticos, qual MacGiver ressuscitado, e fazer luz ou fogo de um qualquer artefacto inútil e descabido. No entanto tremi, quando arranco, com a minha natural sapiência, o abat jour do tecto, depois de considerável esforço para lá chegar, confesso. O cenário era no mínimo estranho. Nada estranho em si, como depois apurei, mas estranho para mim, que apesar de dotada, tenho as minhas limitações. A lâmpada era de alogénio, sendo-me completamente desconhecida, toda a arte subjacente à mudança. O meu digno pai, longe de ser amante destas lides, fugiu a bom fugir mal lhe falei em lâmpada. A Dona L., mestra nestas coisas, a última vez que me passou no estaminé, trazia a neura com ela. Nem ousei solicitar o que fosse, principalmente porque a cesta da roupa indrominada rondava o tecto, e bastava por si só, para a atazanar ao limite. A minha mãe intrigada, e também, ela pouco habilidosa, já se inquiria sobre o facto de ninguém hábil, me passar cá em casa, a mudar a lâmpada. Estive quase a dizer-lhe que tenho alguém hábil, mas hábil de mais, para ser desperdiçado com tão banal tarefa.
Julguei para mim, que o problema teria de ser resolvido com brevidade, sob pena da minha reputação começar a descer em catadupa. Já não estava só em causa a minha capacidade de viver sozinha numa casa, como também a de arranjar alguém para mudar a porcaria da lâmpada. E foi hoje, num Domingo de chuva, que, mesmo com a manhã curta, me empoleirei na cama, cheguei ao tecto, percebi os meandros da dita cuja, meti-lhe as mãos, e resolvi o assunto, com mestria e engenho. Modéstia à parte. É que já eram handicaps a mais. Não mudar a lâmpada, ainda vai, mas não arranjar quem me dê conta dos recados, é demais para o meu ego vaidoso.

E lá se fez luz outra vez.

7 comentários:

  1. Olá :)
    Tenho um desafio para ti no meu cantinho!
    Bjinho

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  2. Mas me identifiquei com cada palavra sua!
    muito bom seu texto!

    Já passei por isto também!

    beijos, guerreira!


    Bia

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  3. No Fundo tem toda a razão.
    Por que há-de uma mulher, mesmo bonita e feminina, ser uma inútil?
    Mas muitas gostam de o ser e até fazem alarde disso, querendo mostrar na dependência o seu feminismo, e depois insurgem-se quando não são levadas a sério.
    Na verdade, penso que para uma mulher consciente e segura de si, um homem faz a falta normal de um macho concernente a todas as espécies, porque de resto, faz-lhe tanta falta como uma bicicleta a um peixe.
    LS

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  4. Boa! Como se diz, "a necessidade aguça o engenho". E é quando não temos ninguém por perto para ajudar que aumentamos os nossos conhecimentos ;)

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  5. Marquês de sade, vou guardar para qd tiver tempo, ok?

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  6. Acho que estavas a menosprezar as tuas capacidades...ou então andavas numa de preguicite...

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  7. Não concordo com a parte de Mulher quem vive sem um Homem grande....eu estou casada há 20 anos e o meu marido não sabe trocar uma simples lâmpada. Eu costumo dizer que sou o Homem da casa. Eu pinto, eu mudo lâmpadas, eu monto "bichas" de chuveiro, eu mudo tomadas e ele aponta a lanterna, mas de longe não vá aquilo estourar eheeheheheh. Enfim, não se pode ter tudo. Bjs. Maria_S

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